sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Amor e Submissão


Através de todos os séculos, dos passados e futuros, sempre se encontraram e sempre se encontrarão homens dispostos a exclamar, perante os Pilatos deste Mundo: “Não queremos que este Homem reine sobre nós!”.

Por detrás desta rebelião contra Deus, há duas falsas idéias: a primeira é a de que a inteligência inventa, ou cria a verdade, quando, afinal, simplesmente a descobre ou encontra... a segunda idéia falsa é a seguinte: a de que da submissão a alguém decorre a servidão para com esse alguém. Esta idéia implica a negação de todas as hierarquias, tanto em a Natureza como na Criação, tendendo a colocar todos os homens num mesmo plano de igualdade, considerando-se cada um a si próprio como um Deus.

Essa filosofia do orgulho tem para si que, ser independente, implica total insubmissão seja ao que for. A verdade, porém, é que a independência é condicionada pela dependência...

Obedecer não significa executar as ordens de um sargento instrutor. A obediência ressalta, principalmente, do amor duma ordem recebida e do amor daquele que a deu. O mérito da obediência está menos no ato em si mesmo do que, acima de tudo, no amor que o motiva; a submissão, a dedicação, e o serviço que a obediência implica, não vêm da servidão, mas, pelo contrário, dos efeitos que derivam do amor e com ele fazem íntima unidade. Obediência só é servilismo para aqueles que não compreenderam a espontaneidade do amor.

Para compreendermos a obediência, devemos considerá-la entre dois grandes fatos. O primeiro deu-se no momento em que uma mulher fez ato de submissão à vontade de Deus: “Faça-se em mim a Tua palavra”. O outro fato, quando uma mulher pedia ao homem que obedecesse a Deus: “Tudo que Ele disser vós o fareis”.

Entre estas duas expressões, vemos: “... O Menino crescia e se fortificava cheio de sabedoria; e a graça de Deus era com Ele... E desceu com eles, e foi a Nazaré, e era-lhes submisso" (S.Lucas II-51)

Para reparar o orgulho dos homens, humilhou-se Nosso Senhor, obedecendo a seus pais. “E a eles era submetido”

...Esta humildade, abstração feita da Sua Divindade, era exatamente o contrário do que seria lícito esperar de um homem destinado a vir a ser um reformador da Humanidade. E, no entanto, que faz este carpinteiro, durante esses trinta anos de obscuridade? Fabrica o caixão do mundo pagão. Fabrica um jugo para o mundo futuro e faz uma Cruz sobre a qual será adorado.

Dá a suprema lição dessa virtude, que é fundamento de todo o Cristianismo: a humildade, a submissão e a vida discreta em que nos preparamos para o cumprimento dos nossos deveres.

Nosso Senhor passou três horas na Cruz para nos resgatar; passou três anos a ensinar-nos e trinta anos a obedecer, a fim de que o Mundo, rebelde, orgulhoso e satânicamente independente, aprenda o valor da obediência. A vida da família foi jnstituída por Deus, para, na sua vida do lar, formar o caráter do homem, porque é da infância que nascerá a maturidade do homem – para o bem ou para o mal.


Os únicos atos da infância de Cristo que nos são conhecidos são atos de submissão a Deus, Seu Pai Celeste e, também, a Maria e a José. E desta maneira nos é demonstrado o dever peculiar à infância e à juventude: o da obediência aos pais que representam Deus.

...Embora as palavras: “E a eles vivia submetido” se apliquem, principalmente, a esse período da vida de Nosso Senhor, que decorre entre o encontro no Templo e as Bodas de Caná, nem por isso deixam de se poder aplicar com toda a verdade, ao Seu procedimento nos anos seguintes. Toda a sua vida foi uma vida de submissão.

...Jesus se manteve no Seu lugar, na Sua oficina de carpinteiro, obedecendo a seus pais, aceitando as restrições da Sua posição, considerando os cuidados do dia, com uma visão toda espiritual, alimentando-se e impregnando-se das luzes da Sua fé no Padre Eterno, mantendo a Sua alma com toda a paciência, apesar do desejo ardente que O impelia para a salvação dos homens. Nele não houve sombra de impaciência ou de precipitação que pudessem prejudicar o desenvolvimento normal de uma força e poder normalmente constituídos.

...O que torna particularmente impressionante a obediência desta Criança é ser Ela o filho de Deus. Ela, o General da Humanidade, faz-se Soldado de linha. O Rei desce Seu trono e desempenha o papel do último dos Seus súbditos. Se Ele, o Filho de Deus, se submete a Sua mãe e a Seu pai adotivo, para reparação dos pecados de orgulho, como é que os filhos hão de escapar a essa doce necessidade de submissão para aqueles que são, para eles, de pleno direito, os seus superiores?

Durante todo esse tempo de obediência voluntária, Ele nos mostrou que o Quarto Mandamento constitui a base da vida familiar. Porque, afinal, se olharmos as coisas do alto, como é que o pecado original da desobediência contra Deus poderia ser aniquilado, a não ser pela obediência do próprio Deus (como homem) que fora desafiado?

A primeira revolta do Universo de paz criado por Deus foi o trovão de Lúcifer: “Não obedecerei!”.
O Paraíso Terrestre deu ressonância a esse trovão, que se perpetuou através das idades, infiltrando-se em todas as famílias onde pai, mãe e filho se encontram reunidos. Submetendo-se a Maria e José, a Divina Criança proclama que a autoridade na família e na vida pública é um poder que provém do próprio Deus.

...Ele garante, pela Sua obediência quando criança, esta verdade importantíssima: a de que os pais só exercem a sua autoridade em nome de Deus. Os pais têm, pois, um sagrado direito sobre seus filhos, porque a Deus devem esse privilégio: Toda a alma esteja sujeita aos poderes superiores, porque não há poder que não venha de Deus; e os (poderes) que existem foram instituídos por Deus” (Rom., cap. XIII, v. 1).

Se os pais abandonarem a sua autoridade legítima e a responsabilidade natural que têm de seus filhos, o Estado aproveitará da fraqueza deles. Quando a obediência consciente deixa de existir na família, será suplantada pela obediência forçada ao Estado.

É pela obediência no lar que aprendemos a obedecer publicamente, porque, em ambos os casos, a consciência submete-se a um representante da autoridade de Deus. Se é certo que o Mundo perdeu o respeito da autoridade, isso se deve ao fato de o ter perdido, primeiro, na família.

... Muitos são, hoje, os homens que tendem a inchar, sem conta, peso, nem medida, a sua personalidade. Em Nazaré, o Infinito curva-se para a Terra e – para obedecer – faz-se Menino.

(O primeiro amor do mundo – Arcebispo Fulton J. Sheen)
PS: Grifos meus