São Francisco de Sales saiu-se com tal expressão, ao responder às lamúrias de certa pessoa vítima de uma injustiça. Achou que ela não devia fazer tanto barulho, tanta gritaria, a exemplo das crianças que só se aquietam quando mamãe assopra o "dedinho queimado".
Muitas senhoritas parece que têm dedinhos queimados. Só vendo-as com os ares de vítimas com os sembrantes de quem espera a tortura! Mostram-se inconsoláveis, repetem seus sofrimentos, declama-nos em prosa e verso. É o berreiro da criança que queimou o dedinho. Estão elas à espera de alguém que se desmanche em compaixão, em reparações, em reconhecimento da dor. Só então cessa o pranto.
O pior é que por qualquer coisa tais criaturas se queimam. O simples olhar mais severo do pai ou da mãe já lhes é brasa no dedo. A mera palavra quente de impaciência ou de ligeira irritação, pronunciada por alguma pessoa de casa ou de amizade, é chama incendiária. Ora, não fica bem a uma cristã, "confirmada" para sofrer e se encontrar com a cruz, ter ares de delicada, de inconsolável sofredora... Deveria trazer um outro nome, em vez do que traz como discípula do Crucificado.
Além disso, a leitora não ignora uma importantíssima circunstância no caso. Os tais dedinhos queimados - sofrimentos pequenos e freqüentes - servem-lhe muitíssimo para o seu apostolado. Acreditam-na no céu junto ao tesouro das graças, purificam-lhe a intenção, expiam-lhe as faltas e oferecem energias para a alma que se vê trabalhada para se converter.
Tenho até receio que as páginas deste livro hajam queimado algum dedo que por elas passou. Mas então reconheça a vítima que sua pele é por demais sensível e muito a impedirá na ascensão do Calvário da vida, sem o qual não amanhece o dia da gloriosa ressurreição.
(Audi Filia - Pe. Geraldo Pires de Souza)
PS: Grifos meus