Reforça-se essa falsa certeza, quando, afinal, a verdadeira consolação para o homem está nesta fórmula: "Só Vós, meu Deus, sois o Caminho, a Verdade e a Vida". São tudo sintomas de uma inquietação vaidosa e egotísta (a inquietação de passar despercebido), a preocupação do homem moderno em servir os melhores vinhos, a de sua mulher exibir os mais belos vestidos, a do colegial se dar ares ...
A crítica, a maledicência, a calúnia, a palavra pérfida e o propósito de arrastar pelas ruas da amargura a reputação do próximo, são tudo péssimos aspectos do egotismo, possuído da preocupação de erguer o ego sobre as ruínas do bom nome de outrem: rebaixando o ego doutrem, julgamos exaltar sempre o nosso.
Quanto mais o egotista tem consciência da sua importância, mais se irrita, se não for adulado: são inteligentes os que o lisonjeiam; os outros não passam de uns imbecis chapados!
Nestes nosso dias de agora, cada qual mais se esfalfa em arranjar amigos e em adquirir influência, pelo recurso ao auto-embuste.
Invocar a moral? "Ingerência!".
Invocar os princípios da Verdade? "Intolerância!"
Invocar a existência de uma lei superior às nossas fantasias? "Autoritarismo!".
O egotista tem sempre desculpas à mão. Toda a gente se engana. Toda a gente - menos ele.
É no entanto, uma verdade paradoxal que todas os egotistas se odeiam a si próprios. Os seus excessos de mesa, os seus costumes dissolutos, os seus violentos ataques àqueles que lhe resistem aos caprichos, tudo isso leva a contra-manifestações de cinismo e de dúvida na sua consciência, e, no seu inconsciente, há mal-estar com causa no medo, no terror, na ansiedade, no tédio, o falso amor de si mesmo gera um violento ódio de si próprio, uma propensão para se maltratar, para se punir por não ser perfeito, por não viver de acordo com a estulta pretensão do ego em afirmar-se dinivo e infalível.
Podemos odiar-nos de duas maneiras: ou odiando a vaidade, a suficiência e a adulação pessoal, que consigo trazem prejuízo à nossa alma, ou odiando tudo aquilo que dificulta a nossa presunção de sermos Deus, presunção que leva à autodestruição, presságio evidente, neste mundo, dos castigos no outro - no Inferno.
O egotismo, se não nos pusermos em guarda contra ele, transforma-se em desejo desenfreado de honras e glória, desejo que procuramos satisfazer pavoneando luxuosos trajes, exibindo jóias, chamando a atenção para a nossa linhagem de grandes fidalguias para a nossa notoriedade, para a nossa conta no Banco.
O egotista provoca a admiração pelo gabarolice, pela ostentação, pelo luxo pomposo, pelo rebuscado das maneiras. Um princípio basta para justificar toda a mentira da sua existência: "É a única maneira de irmos na vanguarda!"
O orgulho produz sete maus frutos:
- A gabarolice, defeito daquele que a si próprio se elogia;
- O amor da publicidade, que consiste em tirar vaidade das palavras doutrem;
- A hipocrisia, que nos faz crer que somos o que realmente estamos longe de ser;
- A teimosia, mercê da qual não admitimos que a opinião doutrem se possa sobrepôr à nossa;
- A discórdia, quando assentamos em não renunciar à nossa vontade;
- A discussão, sempre que o nosso ego vê seus desejos contrariados;
- E finalmente a desobediência, quando nos recusamos a submeter o nosso ego a uma lei superior.
Em muitos casos, os vaidosos dão mais importância ao triunfo da sua vontade do que à privação de um bem: para eles é a vitória que conta, a vitória e não os despojos. Por isso mesmo se negam a aceitar aquilo que não lhes é outorgado, logo que tal desejo manifestem. Preferem ficar lesados.
Na discussão, não curam da verdade. A sua constante preocupação é afirmar a sua importância, sustentando, obstinadamente, o seu ponto de vista.
(Elevai os vossos corações - Arcebispo Fulton J. Sheen)
PS: grifos meus.