Não há nada mais interessante na nossa vida social do que verificar que aqueles que se gabam de possuir vistas largas acabam muitas vezes com os olhos fechados.
Há criaturas dotadas de infernal orgulho que tomam frequentemente os lugares inferiores, apenas para chamar sobre si a atenção. Sucede por vezes que esses que proclamam que os seus espíritos estão numa fase de suspensão até que encontrem a verdade, são precisamente os mais refratários a ela.
O espírito aberto é digno de elogio quando é rasgado à maneira de estrada que conduz à cidade que é o seu destino. É, porém, condenável quando se assemelha a um abismo ou a um alçapão. Os que se gabam da sua largueza de vistas são, invariavelmente, aqueles que gostam de procurar a verdade, mas evitam o seu contato. Estes caminham ao longo da vida sempre a falar em "alargar os horizontes da verdade", sem contudo chegarem a ver o sol.
A descoberta da verdade pode ser deveras embaraçosa; é como acordar de noite e descobrir que não se passa de um egoísta e de um egocentrista. A verdade traz consigo grandes responsabilidades e é essa a razão por que muitos homens conservam as mãos abertas para recebê-la, mas não chegam a fechá-las para a conservarem.
O verdadeiro pensador que deseja, de fato, abraçar uma verdade, a todo o transe, paga geralmente a dobrar. O primeiro preço é o isolamento da opinião corrente ou do espírito das massas. O homem que chega à conclusão de que o divórcio prepara o caminho para a falência da civilização, deve também preparar-se para ser condenado ao ostracismo pelos Herodes e Salomés.
A sua falta de conformidade com o espírito das massas desencadeia sobre a sua cabeça delinquente a oposição e o ridículo. Em segundo lugar, aquele que descobre uma verdade, tem que se manter sincero, exposto às vergastadas a que os seus deveres o condenaram, ou aceitar a cruz que elas lhe impõem.
Estas duas maneiras de abraçar a verdade - a negativa, que é a oposição, e a positiva, que é o fardo da nova idéia - inspiram medo a muitos homens. Na sua covardia, mantêm os espíritos abertos, mas jamais os fecharão sobre qualquer coisa que implique responsabilidade, dever, correção e moral, ou alteração de comportamento.
Esses espíritos abertos caem, porém, numa armadilha. Aquele que receia fazer nos seus hábitos a alteração que a verdade impõe, adapta-se rapidamente ao Comunismo.
A razão é esta: O espírito aberto não quer aceitar a verdade, porque esta implica dever.
O filho do fazendeiro evita passar junto da pilha de lenha, pois sabe que, se tal acontecer, deve trazer algumas achas para sua mãe.
A verdade cria-lhe um dever que ele deseja evitar. Evitar a verdade é tomar uma atitude negativa que não pode manter-se permanentemente e, assim, o indivíduo procura qualquer coisa que lhe dê alívio e o ilibe de responsabilidades. Esse alívio encontra-o ele no Comunismo.
O Comunismo desvanece toda a responsabilidade individual, pois o indivíduo encontra nele um refúgio contra a obrigação e a decisão. A sua vontade, fraca em princípio, procura coisa que lhe permita incorporar-se numa "vontade total", e encontra-a no Partido Comunista.
A partir de então, o Partido passa a ser a sua razão e pensa por ele; o Partido é a sua existência; todos os fatos da vida são interpretados por ele, sem qualquer obrigação pessoal.
O Partido transforma-se na própria História, pois é pelo critério do materialismo que os acontecimentos são julgados. À semelhança do cacho de uvas que enfrentou ventos e tempestades, e acaba por ver a sua personalidade esmagada no vinho coletivo do grande lagar do Pensamento Comunista.
Tal como disse o poeta inglês Stephen Spender, que abraço o Comunismo:
"O Partido comanda, não somente a vossa teoria e o vosso comportamento, mas também a vossa noção de atualidade."
... O espírito aberto fechou-se, finalmente, não sobre a verdade, mas sim sobre uma despersonalização comandada. A moral manda abrir os espíritos à verdade, ainda que seja preciso mudar de conduta, antes que eles se fechem no Comunismo e de transformem em fantoches.
(Excertos do livro: Paz e Espírito, do Arcebispo Fulton J. Sheen)
PS: Grifos meus
Ver também: Marxismo e as "teólogas" feministas