terça-feira, 12 de março de 2013

Preparação ao Matrimônio - Moças


 PREPARAÇÃO AO MATRIMÔNIO
            27 de Agosto de 1940

Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos,  edição de 1946.

            Vamos estudar hoje a preparação ao Matrimônio - 1.° educação doméstica das moças. 2.° educação social.
            São dois valores, pois, que temos diante de nós, para examiná-los.
            Muitas famílias, mercê de Deus, ainda conservam os bons costumes dos antigos tempos: preparam boas donas de casa, educando suas filhas.
            Difícil coisa, em certos lares modernizados em excesso, quase uma afronta falar em "serviços domésticos", em "determinar um almoço; um jantar", - afronta gravíssima pretender que uma menina chique transponha os umbrais da cozinha, examine a dispensa, cuide enfim da boa ordem dos quartos e da roupa da casa, para ser mais tarde uma esposa perfeita.
            A preparação mais em voga concerne, de modo especial, à vaidade: dispôr bem a ondulação dos cabelos, combinar com arte os tons da pintura que hão de embelezar o rosto, julgar com precisão o que vai bem e o que vai mal a respeito da moda - isso quanto aos usos.
            Quanto aos costumes, a educação consiste em preparar moças de salão, sendo indispensável que elas vão treinando desde cedo, no desenvolvimento do gosto de bebidas alcoólicas, porque é muito feio, uma moça fazer caretas quando bebe uísque ou outros tipos de bebidas chiques, transportadas dos botequins para as altas rodas.
            Exercitam-se também as meninas nas críticas aos artistas de cinema e nos melhores processos de tornarem agradáveis ao sexo masculino que, só sua vez, também anda muito avariado... Há também o número que, embora não muito elevado vai crescendo dia a dia, das que fumam. Aprimora-se então o manejo do cigarro, de sorte que ele seja um atrativo para os apreciadores do gênero que diga-se de passagem - é simplesmente detestável.
            Tratemos, porém, da verdadeira preparação ao Matrimônio.
            A Sagrada Escritura, traçando o retrato da “mulher forte”, representa-a cuidadosa do esposo, dos filhos, dos criados, do lar... mostra-a junto à roca, de fuso na mão, fiando, para depois tecer, provendo de todo conforto sua casa.
            É bem verdade que quem não sabe fazer, não sabe mandar. E se a menina não aprende a dirigir uma casa, quando chegar o dia das responsabilidades pouco ou nada poderá fazer. A experiência cotidiana está dizendo que, se a esposa não sabe governar seu lar, não sabe fazê-lo cada vez mais atraente, arrisca-se a perturbar inteiramente sua vida sendo causa de o esposo afastar-se desse aconchego precioso, fonte de paz, de alegria sã e de felicidade.
            Mãos à obra, principalmente vós, mães de família, que tendes filhas. Começai desde cedo a prepará-las para que elas sejam mais tardes continuadoras do vosso nome e das vossas virtudes.
            Combatei a ociosidade. As boas mães distribuem tarefas de trabalhos domésticos, estimulando as filhas, premiando as diligentes, ensinando, encaminhando as futuras donas de casa.
            Nem deve ficar no esquecimento a arte culinária tão bem cuidada em nossas escolas profissionais, a que há tempos tive oportunidade de me referir, numa palestra de domingo.
            Seria ótimo que, nos grandes educandários, houvesse um cuidado particular em dar às moças instrução completa sobre o preparo dos alimentos, sobre o bom emprego do dinheiro - mas tudo praticamente, porque a teoria, só, pouco ou nada vale.
            Quanto ao dinheiro, é bom lembrar que é maior vantagem ter apenas o necessário, sabendo aplicá-lo criteriosamente, do que ter milhões e lançar dinheiro a mancheias pela janela afora.
            Entre bons mineiros dos antigos tempos, ouvi sempre dizer: "desperdiçar não é grandeza".
            Eis a primeira parte da preparação ao Matrimônio.

29 de Agosto de 1940

            Continuemos a estudar a - preparação ao Matrimônio. - Educação moral e religiosa das moças.
            Para restaurar o Matrimônio e a família nas bases cristãs, é preciso fomentar no ambiente doméstico ideais nobres e justos sobre o grande Sacramento. Incutam os pais no ânimo de seus filhos que o Matrimônio é um ato sobremodo sério, digno de todo respeito.
            Se, no lar, as moças ouvem observações e comentários que tendem a desprestigiar ou a ridicularizar o casamento - não poderá tê-lo na devida consideração.
            Dizem que a casa dos pais é escola dos filhos; mas se em tal escola nada se aprende com perfeição, frustra-se o plano educacional.
            A primeira fase da formação das futuras esposas é o exemplo de seus pais. Quantas desilusões a este respeito! Eu mesmo já tenho ouvido de jovens; no desabrochar da existência - 18, 20 anos - esta frase dolorosa: eu não penso em me casar... Deus me livre... pois eu não estou vendo a vida que levam meus pais?... o quanto sofre minha mãe?  
            A vida pacífica e harmoniosa dum casal é lição permanente para os filhos e particularmente para as filhas.              
            O segundo meio de educar moralmente as jovens é referirem-se os pais, ao Matrimônio, sempre em termos elevados, não perdendo oportunidade de dar bons conselhos a respeito.
            A experiência muito influi nas orientações a dar às moças. Neste caso o papel das mães e importantíssimo.
            O horror aos filhos, à família numerosa, muitas vezes é incutido e fomentado no próprio lar. E não faltam pais ou parentes insensatos que dão às filhas lições de perversão em matéria tão delicada, tão melindrosa. - Travam-se verdadeiros debates em torno do assunto, entre as duas correntes - cristãs e pagã - uma, desejando e aconselhando o cumprimento do dever primordial do Matrimônio; outra que diz abertamente: ora, menina, goze sua vida, não se embarace, logo no começo, com os trabalhos da maternidade... - havendo mesmo quem aconselhe: nada de filhos, em tempo algum!
            A essa educação moral abastardada é que se deve uma parte considerável dos males da família.
            Se as futuras esposas se habituam a considerar os filhos como uma maldição, um castigo, - hão de levar esses mesmos preconceitos para o lar que fundarem, repelindo, como quem repele um mal, o que, em realidade, é o maior dos bens.
            Tratando da formação moral e religiosa das moças, D. Laurita Pessoa Raja Gabáglia em "Juventude de hoje, lares de amanhã", escreve: "A prática da castidade tornou-se hoje mais difícil que outrora. O ambiente moderno não favorece esta virtude. Tudo nele chama ao gozo dos sentidos. E o desembaraço com que a imodéstia se ostenta é tamanho que a virtude contrária mal se atreve a aparecer, tão anômala se afigura. - A concepção moderna da cultura física opõe-se às reservas do recato. - Diante da nova mentalidade naturalista, a própria idéia do pudor é geralmente condenada, como "um resto das épocas de obscurantismo" ou como uma maliciosa interpretação das coisas...”.
            E a distinta escritora ensina, enérgica: "O pudor não é uma convenção social. O pudor é a defesa da vida criadora, silenciosa e discreta, contra o perigo de desencadeamento do apetite sensível".
            Falando sobre a formação religiosa, Dona Laurita a considera o próprio núcleo de toda a formação humana, pois dela depende a nossa atitude em face da vida. E mostra o exemplo de Elisabeth Leseur, ornamento precioso da sociedade parisiense, casada com um incrédulo anticlerical. Soube elevar a sua vida religiosa até à santidade, sendo o instrumento de Deus para a conversão de seu esposo.