PREPARAÇÃO
AO MATRIMÔNIO
27
de Agosto de 1940
Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos, edição de 1946.
Vamos
estudar hoje a preparação ao Matrimônio - 1.° educação doméstica das moças. 2.° educação social.
São
dois valores, pois, que temos diante de nós, para examiná-los.
Muitas
famílias, mercê de Deus, ainda conservam os bons costumes dos antigos tempos:
preparam boas donas de casa, educando suas filhas.
Difícil
coisa, em certos lares modernizados em excesso, quase uma afronta falar em
"serviços domésticos", em "determinar um almoço; um jantar",
- afronta gravíssima pretender que uma menina chique transponha os umbrais da
cozinha, examine a dispensa, cuide enfim da boa ordem dos quartos e da roupa da
casa, para ser mais tarde uma esposa perfeita.
A
preparação mais em voga concerne, de modo especial, à vaidade: dispôr bem a
ondulação dos cabelos, combinar com arte os tons da pintura que hão de embelezar
o rosto, julgar com precisão o que vai bem e o que vai mal a respeito da moda -
isso quanto aos usos.
Quanto
aos costumes, a educação consiste em preparar
moças de salão, sendo indispensável que elas vão treinando desde cedo, no desenvolvimento
do gosto de bebidas alcoólicas, porque é muito feio, uma moça fazer caretas
quando bebe uísque ou outros tipos de bebidas chiques, transportadas dos botequins
para as altas rodas.
Exercitam-se
também as meninas nas críticas aos artistas de cinema e nos melhores processos de
tornarem agradáveis ao sexo masculino que, só sua vez, também anda muito avariado...
Há também o número que, embora não muito elevado vai crescendo dia a dia, das
que fumam. Aprimora-se então o manejo do cigarro, de sorte que ele seja um atrativo
para os apreciadores do gênero que diga-se de passagem - é simplesmente detestável.
Tratemos,
porém, da verdadeira preparação ao Matrimônio.
A
Sagrada Escritura, traçando o retrato da “mulher forte”, representa-a cuidadosa
do esposo, dos filhos, dos criados, do lar... mostra-a junto à roca, de fuso na
mão, fiando, para depois tecer, provendo de todo conforto sua casa.
É
bem verdade que quem não sabe fazer, não sabe mandar. E se a menina não aprende
a dirigir uma casa, quando chegar o dia das responsabilidades pouco ou nada poderá
fazer. A experiência cotidiana está dizendo que, se a esposa não sabe governar seu
lar, não sabe fazê-lo cada vez mais atraente, arrisca-se a perturbar
inteiramente sua vida sendo causa de o esposo afastar-se desse aconchego precioso,
fonte de paz, de alegria sã e de felicidade.
Mãos
à obra, principalmente vós, mães de família, que tendes filhas. Começai desde cedo
a prepará-las para que elas sejam mais tardes continuadoras do vosso nome e das
vossas virtudes.
Combatei
a ociosidade. As boas mães distribuem tarefas de trabalhos domésticos, estimulando
as filhas, premiando as diligentes, ensinando, encaminhando as futuras donas de
casa.
Nem
deve ficar no esquecimento a arte culinária tão bem cuidada em nossas escolas profissionais,
a que há tempos tive oportunidade de me referir, numa palestra de domingo.
Seria
ótimo que, nos grandes educandários, houvesse um cuidado particular em dar às
moças instrução completa sobre o preparo dos alimentos, sobre o bom emprego do
dinheiro - mas tudo praticamente, porque
a teoria, só, pouco ou nada vale.
Quanto
ao dinheiro, é bom lembrar que é maior vantagem ter apenas o necessário, sabendo
aplicá-lo criteriosamente, do que ter milhões e lançar dinheiro a mancheias pela
janela afora.
Entre
bons mineiros dos antigos tempos, ouvi sempre dizer: "desperdiçar não é
grandeza".
Eis
a primeira parte da preparação ao Matrimônio.
29 de Agosto de 1940
Continuemos
a estudar a - preparação ao Matrimônio. - Educação
moral e religiosa das moças.
Para
restaurar o Matrimônio e a família nas bases cristãs, é preciso fomentar no
ambiente doméstico ideais nobres e justos sobre o grande Sacramento. Incutam os
pais no ânimo de seus filhos que o Matrimônio é um ato sobremodo sério, digno de
todo respeito.
Se,
no lar, as moças ouvem observações e comentários que tendem a desprestigiar ou
a ridicularizar o casamento - não poderá tê-lo na devida consideração.
Dizem
que a casa dos pais é escola dos filhos; mas se em tal escola nada se aprende
com perfeição, frustra-se o plano educacional.
A
primeira fase da formação das futuras esposas é o exemplo de seus pais. Quantas
desilusões a este respeito! Eu mesmo já tenho ouvido de jovens; no desabrochar
da existência - 18, 20 anos - esta frase dolorosa: eu não penso em me casar...
Deus me livre... pois eu não estou vendo a vida que levam meus pais?... o
quanto sofre minha mãe?
A
vida pacífica e harmoniosa dum casal é lição permanente para os filhos e
particularmente para as filhas.
O
segundo meio de educar moralmente as jovens é referirem-se os pais, ao
Matrimônio, sempre em termos elevados, não perdendo oportunidade de dar bons
conselhos a respeito.
A
experiência muito influi nas orientações a dar às moças. Neste caso o papel das
mães e importantíssimo.
O
horror aos filhos, à família numerosa, muitas vezes é incutido e fomentado no
próprio lar. E não faltam pais ou parentes insensatos que dão às filhas lições
de perversão em matéria tão delicada, tão melindrosa. - Travam-se verdadeiros
debates em torno do assunto, entre as duas correntes - cristãs e pagã - uma,
desejando e aconselhando o cumprimento do dever primordial do Matrimônio; outra
que diz abertamente: ora, menina, goze sua vida, não se embarace, logo no
começo, com os trabalhos da maternidade... - havendo mesmo quem aconselhe: nada
de filhos, em tempo algum!
A
essa educação moral abastardada é que se deve uma parte considerável dos males
da família.
Se
as futuras esposas se habituam a considerar os filhos como uma maldição, um
castigo, - hão de levar esses mesmos preconceitos para o lar que fundarem, repelindo,
como quem repele um mal, o que, em realidade, é o maior dos bens.
Tratando
da formação moral e religiosa das moças, D. Laurita Pessoa Raja Gabáglia em "Juventude
de hoje, lares de amanhã", escreve: "A prática da castidade tornou-se
hoje mais difícil que outrora. O ambiente moderno não favorece esta virtude.
Tudo nele chama ao gozo dos sentidos. E o desembaraço com que a imodéstia se ostenta
é tamanho que a virtude contrária mal se atreve a aparecer, tão anômala se
afigura. - A concepção moderna da cultura física opõe-se às reservas do recato.
- Diante da nova mentalidade naturalista, a própria idéia do pudor é geralmente
condenada, como "um resto das épocas de obscurantismo" ou como uma
maliciosa interpretação das coisas...”.
E
a distinta escritora ensina, enérgica: "O pudor não é uma convenção social.
O pudor é a defesa da vida criadora, silenciosa e discreta, contra o perigo de
desencadeamento do apetite sensível".
Falando
sobre a formação religiosa, Dona Laurita a considera o próprio núcleo de toda a
formação humana, pois dela depende a nossa atitude em face da vida. E mostra o
exemplo de Elisabeth Leseur, ornamento precioso da sociedade parisiense, casada
com um incrédulo anticlerical. Soube elevar a sua vida religiosa até à santidade,
sendo o instrumento de Deus para a conversão de seu esposo.