A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
I-
O amor materno
Pode a mãe esquecer o seu filho? diz
o Espírito Santo, e pode a mulher deixar de amar o fruto do seu seio? seu
coração é uma fonte inesgotável de contínua solicitude e amor; ama os seus
filhos mais do que todas as outras pessoas, mais do que a si própria. Entre
tantos quadros de amor materno que a história nos patenteia, nenhum achamos
mais comovente do que o quadro em que a Escritura nos pinta a ternura da mãe do
jovem Tobias.
Acompanhado do arcanjo Rafael,
disfarçado sob a forma humana, acabava de partir para a terra dos Medas; mas a
mãe, chorando, dizia, no meio da sua dor, ao marido: «Ficaste sem o bordão da
nossa velhice, e afastaste-lo de nós. Oxalá que nunca tivéssemos possuído o
dinheiro necessário para a sua viagem! Os poucos bens que possuímos, não eram
suficientes para nós? E não era para nós uma grande fortuna ver nosso filho
aqui, conosco?» — «Não chores, respondia o velho, o anjo do Senhor acompanhará
nosso filho.» E estas palavras enxugavam por um instante as suas lágrimas, e
acalmavam as lamentações da mãe.
Mas não vendo voltar, no dia fixado,
o ente que amava, derramava abundantes lágrimas, que nenhuma consolação podia
esgotar.— «Ah! quanto sou desgraçada! repetia ela; para que te mandamos para
tão longe, meu filho, tu que eras a luz dos nossos olhos, o apoio da nossa
velhice, a consolação da nossa vida e a esperança de nossa posteridade? Visto
que eras tudo, neste mundo, para nós, nunca deverias ter-nos deixado.» —
«Sossega replicava o velho Tobias, o nosso filho está em segurança; o homem, a
quem o confiamos, é fiel. Mas a pobre mãe não queria receber consolações, e
todos os dias, deixando a casa, percorria todos os caminhos, por onde esperava
ver chegar o filho, procurando descobri-lo ao longe. Todos os dias se ia sentar
sobre uma montanha, que dominava a estrada, e donde podia circunvagar à vontade
o seu olhar. Um dia avistou-o, reconheceu-o imediatamente, correu a levar a seu
marido a feliz notícia, e depois abraçou esse querido filho com lágrimas de
alegria.
Citemos ainda um fato admirável que
o próprio Espírito Santo nos conservou. Tendo pedido os Gabaonitas que lhes
entregassem os filhos de Saul, para vingarem sobre eles o sangue dos seus
concidadãos, que o seu rei mandara matar, David entregou-lhes sete, que foram
crucificados, sobre uma montanha. Resfa, mãe de duas dessas desgraçadas
vítimas, não só quis assistir ao suplício de seus dois filhos, e ajudá-los, por
sua presença, a arrostar os horrores da morte, mas mesmo depois deles terem
dado o último suspiro, estendeu um cilício sobre o rochedo, e ficou ali,
sentada, vigiando ao lado dos seus cadáveres, e afugentando, durante o dia, as
aves de rapina, e durante a noite os animais ferozes, que ameaçavam devotá-los.
David admirou o amor desta mãe generosa, amor que sobreviveu à morte dos
filhos, e mandou ele próprio sepultar os cadáveres.
Mas, para que é necessário ir buscar
na história exemplos onde brilhe o amor materno? Não bastará, mães cristãs, que
vos fale do vosso próprio coração? Não sentis, dentro de vós, uma força como
que irresistível, que vos impele a não viverdes, senão para vossos filhos? Sim,
amais, e é por isso que a vossa vida se passa, na solicitude, e através das
lágrimas. É o amor de vossos filhos que vos fornece as lágrimas, os suspiros, e
os soluços. Para que haveis de perder a consolação e a recompensa que Jesus
prometeu aos que choram, não regulando sempre os sentimentos do vosso coração
pela razão, e pela fé?
Sim! Nada é mais legítimo que o amor
da mãe, para com seus filhos, e Deus também o ordena; esse amor é o manancial,
onde ela encontrará a necessária dedicação para cumprir os deveres que a
maternidade lhe impõe, a alma de tudo quanto deverá fazer para bem dos seus
filhos. Mas esse amor tem regras a que forçoso é submeterem-se, «que seja terno
sem fraqueza, e firme sem dureza. É necessário que as mães saibam precaver-se
contra odiosas preferências, e ainda com mais razão, contra tudo o que seja
ódio ou desprezo. O coração duma mãe deve ser igual para todos os seus filhos.
Corajoso e constante, não recua diante de nenhum trabalho, nem teme nenhum
sacrifício, sendo a ingratidão incapaz de a abater ou enfraquecer. Mas,
sobretudo o amor materno deve ser cristão, isto é regrado pela lei de Deus, e
pelas máximas do Evangelho.