Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos, edição de 1946.
MATRIMÔNIO-SACRAMENTO
7 de Agosto de 1940
Estou expondo o Sacramento: o Matrimônio.
Os Protestantes, em geral, não
consideram o Matrimônio como um Sacramento - pois falta-lhe a "promessa
divina", no entender de Lutero. E Calvino disse: "As núpcias não
foram consideradas sacramento antes do tempo de Gregório”.[1]
Os Protestantes modernos reconhecem
de boamente que o matrimônio é uma instituição religiosa, não, todavia, como o
Batismo e a Ceia, nem tão pouco no sentido em que a toma a Igreja Romana.
Os Ritualistas, entretanto, segundo
Morgan Dix - Sistema Sacramental, págs. 87 e 88,- ensinam: "O matrimônio é
um certo gênero de vida, instituído por Deus, quando o homem era ainda
inocente; exprime a união mística de Jesus Cristo e da Igreja; foi coonestado
com a presença de Cristo nas núpcias de Canaã da Galiléia e com o primeiro milagre
que então realizou o Filho de Deus. Com direito e com razão, se diz entre nós
(os Ritualistas) Sacramento do Matrimônio”.
Agora, eis a doutrina da Igreja:
"O vínculo perpétuo e indissolúvel do matrimônio está expresso nas
palavras do primeiro homem ao contemplar a companheira que Deus lhe acabava de
dar: “Eis o osso dos meus ossos, a carne da minha carne; pelo que deixará o
homem seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher e serão dois uma só
carne" (Gen. 2, 18-24).
Estas palavras foram pronunciadas no
momento em que Adão recebia de Deus sua esposa - eis a instituição divina do
Matrimônio, como lemos no Gênesis, nas primeiras páginas da Bíblia Sagrada.
Mais claro ainda é o que diz Jesus
Cristo quando responde à pergunta acerca da possibilidade o divórcio: "Já
não são dois, mas uma só carne. E acrescentou - "o que Deus uniu o homem
não pode separar”' (At. 19, 6).
Quanto à graça que aperfeiçoa o amor
natural, confirma a unidade, reforça a indissolubilidade e santifica os
esposos, - foi Jesus Cristo, instituidor e autor dos Sacramentos, quem no-la
mereceu com a Sua Paixão. É o que insinua o apóstolo São Paulo, quando diz:
"Esposos, amai a vossa esposa, como Cristo amou a Igreja e deu a Sua vida
por ela”. E adiante: "Grande é este Sacramento, porém em Cristo e na
Igreja" (Ef. 5, 25, 32).
Em sua memorável Encíclica
"Arcanum" de 10 de Fevereiro de 1880, Leão XIII doutrina o Orbe a
respeito do Matrimônio. Diz o genial Pontífice: "Embora os detratores da
fé cristã recusem admitir a doutrina constante da Igreja sobre a origem do
Matrimônio e se esforcem por destruir a tradição de todos os povos e de todos
os séculos, nunca puderam nem extinguir, nem debilitar a força e a luz da
verdade". - Entra depois a narrar, com edificante singeleza, a cena da
formação do homem e da mulher, conforme o texto bíblico. E conclui: "e
para que a união do homem e da mulher se harmonizasse com os seus
sapientíssimos desígnios, Deus lhe imprimiu, como um selo e sinal, duas
qualidades principais, nobres entre todas as outras: a unidade e a
perpetuidade".
Esta foi a primitiva forma do matrimônio
- é o que ensina Leão XIII, baseado nas palavras do próprio Jesus Cristo (Mt.
19, 4, 8) - e é o que ininterruptamente tem ensinado a Igreja.
Esta forma tão excelente e elevada,
começou pouco a pouco a corromper-se entre as nações pagãs e até mesmo entre os
hebreus, cuja dureza de coração os arrastou a toda sorte de depravações morais.
Vieram a poligamia, a poliandria, o
divórcio como efeito da dissolução dos costumes e por sua vez - causas de males
cada vez maiores. Em uma palavra: Deus instituiu o matrimônio monogâmico e
indissolúvel. Os homens o deturparam e rebaixaram. Jesus Cristo reabilitou o matrimônio
que a Igreja até hoje prestigia e defende e continuará a defender até ao fim do
séculos!
[1]
Tanquerey, Th. Dogmat. De Matrimonio St. Quaest. A.