segunda-feira, 11 de março de 2013

Doutrina Cristã - Parte 23

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã, 
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.

I. - DAS VIRTUDES EM GERAL

Definição e divisões

            58. - A virtude é uma disposição constante da alma para se fazer o bem.
            Em si a palavra significa força, energia, e indica assim qualidade do ato, que se requer da vontade para se conseguir fazer o bem, vencendo-se os obstáculos interpostos pelas paixões. Quando esse ato da vontade se repete com firme perseverança e constitui um hábito, assume então o nome de virtude.
            As virtudes se dividem:
            1.º- Em naturais ou humanas, praticadas segundo o lume da razão, com as únicas forças naturais e em vista de um bem natural; sobrenaturais ou cristãs, praticadas com o auxílio da graça, por motivos de fé em vista de um bem sobrenatural;
            2.º- em adquiridas, se conseguidas por nós com repetição de atos bons; infusas, se postas em nós por Deus, quando infundiu a graça em nossa alma;
            3.º - em teologais ou divinas, que têm a Deus por objeto e motivo imediato; morais, que regulam o nosso procedimento em relação a nós e ao próximo e se referem a Deus indiretamente.
            As teologais são sempre sobrenaturais e infusas; as morais podem ser naturais e adquiridas ou também infusas e sobrenaturais.

As virtudes próprias do cristão

            59 - As virtudes próprias do cristão, isto é, que somente se encontram no cristão, são as virtudes sobrenaturais e especialmente as teologais ou divinas, a saber: , esperança e caridade.
            Têm estas a Deus por objeto imediato, pois crê em Deus, espera em Deus, ama a Deus; têm, além disso, a Deus por motivo imediato, pois crê-se em Deus, porque é veraz, - espera-se em Deus, porque é misericordioso, - ama-se a Deus, porque é bom.
            As virtudes teologais, recebemo-las de Deus juntamente com a graça santificante; são-nos infusas pelo santo Batismo ou pela Penitência, ou pelo ato perfeito de caridade; e aumentam, com a graça, recebendo-se os sacramentos dos vivos. Devemos, porém, exercitá-las repetindo-lhes os atos, com auxílio da graça.
            Das três virtudes teologais, a mais excelente é a caridade:
            1.º- porque inseparável da graça santificante, enquanto a fé e a esperança se encontram também num pecador;
            2.º - porque nos une inteiramente a Deus e ao próximo;
            3.º- porque nos move a observar a lei e a fazer o bem;
            4.º- porque não cessam, por sucederam à fé a visão e à esperança a posse. 

II- DAS VIRTUDES EM PARTICULAR

1.º - A FÉ

Definição

            60. - A fé é a virtude sobrenatural por meio da qual cremos na autoridade infalível de Deus, o que Ele revelou e nos propõe a crer por intermédio da Igreja.
            A fé, portanto, é uma virtude sobrenatural, infusa por Deus em nossa alma. Leva-nos a ter por verdadeiras as verdades reveladas, não porque as compreendamos com a nossa mente, mas porque Deus, verdade infalível, as revelou à Santa Igreja e por meio dela as revela a nós.

Necessidade

            61. - A Fé é necessária de necessidade de meio para nos salvar. "Sem a fé é impossível agradar a Deus". (Hebr. XI, 6.) Aquele que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer será condenado". (Marc. XVI, 16.)
            Aos que têm o uso da razão não lhes basta crerem em geral em todas as verdades, falando: Eu creio em tudo quanto a Igreja me propõe a crer.
            Há algumas verdades que devem ser cridas com ato explícito e particular, para nos salvarmos; e são precisamente os dois mistérios principais da fé: - que Deus existe e que é remunerador dos bons e justo punidor dos maus.

Pecados contra a Fé

            62. - Peca-se contra a fé:

            a) com a heresia, quando obstinadamente se nega qualquer verdade;
            b) com a apostasia, com o renunciar à fé já professada;
            c) com a dúvida voluntária;
            d) com a superstição, o indiferentismo, o respeito humano, etc.

2.° - ESPERANÇA

Definição

            63. - A Esperança é a virtude sobrenatural, por meio da qual confiamos em Deus e d’Ele aguardamos a vida eterna e as graças necessárias para merecê-las, cá na terra, com as boas obras.
            De Deus esperamos a vida eterna, que devemos merecê-las com as boas obras. Não podem estas ser praticadas sem o dom da graça.
            Nossa esperança funda-se na bondade de Deus, que nos quer salvar; na fidelidade de Deus, que no-lo prometeu e manterá Sua promessa; na onipotência de Deus, que pode cabalmente mantê-la.
            Quem desconfia ou duvida e quem desespera, isto é, absolutamente crê que Deus não o ajuda, ofende sumamente a Deus.
            Nossa esperança deve ser viva, ativa e prudente, sem pretender tudo por parte de Deus; mas fazer o que podemos, recordando que Deus não manda coisas impossíveis, e, ao dar-nos ordens, nos adverte a fazer o que podemos, a pedir-Lhe o que não podemos, e nos auxilia para que o possamos fazer.

Pecados contra a Esperança

            64. - Peca-se contra a esperança:
            a) com a presunção, isto é, com a temerária confiança de obter a vida eterna sem as boas obras;
            b) com o desespero, isto é, desconfiando de obter o céu, porque julga não conseguir o perdão dos pecados e estar, de Deus, abandonado.

3.° - CARIDADE

Definição

            65. - A caridade é a virtude sobrenatural, pela qual amamos a Deus, em Si mesmo, sobre todas as coisas, e ao próximo, como a nós mesmos, por amor de Deus.
            Devemos amar a Deus em Si mesmo, sobre todas as coisas, como sumo Bem, fonte de todo bem nosso: - é a caridade perfeita; amá-lO pelos benefícios que reparte: - é a caridade imperfeita.
            O amor, que devemos ao próximo, deve ser sobrenatural, isto é, por amor de Deus, e não por motivos naturais; pelo que importa ser universal, amando-se a todos os homens, até aos nossos inimigos, como no-lo ensinou Jesus Cristo com as Suas palavras e exemplos; deve ser interno, isto é, sincero, - justo, ajudando-o no bem, e efetivo, com fatos e não com palavras apenas.
            A virtude da caridade perde-se com qualquer pecado mortal: readquire-se com a confissão e com a dor perfeita.