Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950
II
- Amor para com a Igreja Purgante (ou Padecente)
Em virtude do dogma da Comunicação
dos Santos devemos amar a Igreja Purgante e nela, sobretudo, os nossos queridos
mortos. Como?
1.º-
Para com os nossos queridos mortos temos o dever da sua lembrança
A
lembrança é a flor dos sentimentos. É o sinal distintivo dos corações nobres e
generosos.
1.º- Lembrança impressionante. - Não há nada mais raro do que uma
lembrança fiel. O esquecimento é uma das misérias que desonram mais a
humanidade. Esquecem-se os parentes, benfeitores, amigos e os mortos.
Esquecem-se depressa os mortos, mesmo os mais queridos.
Mas se os homens os esquecem, a
Igreja lembra-se sempre, e faz mais: emprega toda a diligência para que nos
lembremos. Fala-nos pela voz dos sinos que nos chamam ao templo, pela voz dos
cânticos graves e pela voz das cerimônias impressionantes, pela voz dos sepulcros,
conduzindo-nos ao campo dos mortos. “Lembra-te, dos mortos. Memento!” (Hebr. XIII). É santo e
salutar pensamento lembrarmo-nos dos nossos defuntos diante de Deus. Recordando
o que eles foram, ficamos sabendo o que devemos ser, e que o Céu vale mais que
a terra. A idéia da morte não nos sugere um pensamento triste, mas um pensamento
grave, que pode converter-se, pela fé, esperança e caridade, num pensamento consolador.
Memento! Lembra-te dos mortos.
2.º- Lembrança afetuosa. - Todos aqueles que morreram, diz-nos a santa
Igreja, não vos são estranhos, são vossos irmãos em Jesus Cristo e o amor não
termina na morte, o amor que termina na morte, diz São Francisco de Sales, é um
amor mentiroso.
3.º- Lembrança compassiva. - À Igreja diz-nos ainda: deixa esse cadáver inconsolável e acompanha essa alma que segue destinos misteriosos; todavia, se estiver no Purgatório, podes aliviá-la das penas em que está. Inclinemo-nos sobre as sepulturas e lá dentro ouviremos esta voz: Memento! Lembra-te!
3.º- Lembrança compassiva. - À Igreja diz-nos ainda: deixa esse cadáver inconsolável e acompanha essa alma que segue destinos misteriosos; todavia, se estiver no Purgatório, podes aliviá-la das penas em que está. Inclinemo-nos sobre as sepulturas e lá dentro ouviremos esta voz: Memento! Lembra-te!
2.º
- Para com os nossos queridos mortos temos o dever de fidelidade
Devemos ser fiéis aos exemplos que
eles nos deram. Os caminhos que eles seguiram exalam o perfume, da fé, da
caridade, da honra, da castidade, da santidade cristã, sigamos os vestígios de seus
pés.
Façamos o que eles fizeram para
chegarmos onde eles estão.
Demais, devemos ser fiéis às suas
recomendações. Que nos diziam eles durante a vida? que nos disseram eles,
sobretudo nos últimos momentos? Como temos cumprido o que lhes prometemos, junto
do seu leito, à hora da sua morte? Se a sua voz se fizesse ouvir, certamente
dir-nos-iam: Memento! Lembra-te!
3.º-
Para com os nossos queridos mortos temos o dever de auxílio
Somos católicos, acreditamos no
Purgatório. Que é o Purgatório? Podemos defini-lo em três palavras: 1.º- É o
estado de sofrimento. Sofrem-se aí
dois suplícios terríveis; a pena de dano,
ou a privação de Deus e a pena dos sentidos,
ou do fogo. Podemos abreviar essa separação e apagar esse fogo. 2.º- É um
estado de impotência, inteligência e de esperança. Neste mundo podem as almas alcançar merecimentos, mas
não no outro. O tempo da vida foi-lhes concedido para isto e esse tempo passou,
acabou. Deus, em certo modo, está na impossibilidade de lhes fazer bem. Na
ordem sobrenatural. Deus tem duas espécies de bens: os bens da graça e os bens
da glória. Não pode conceder-lhes os bens da graça porque não podem merecer,
não pode dar-lhes a glória porque não estão suficientemente purificadas para a
gozar. Para se libertarem dali ou têm de recorrer a um empréstimo ou
sujeitarem-se a sofrer aí, durante muito tempo, talvez. Procuraremos nós subscrever-nos
para este empréstimo que elas fazem à terra. Temos para isso à nossa disposição
todos os tesouros da Igreja: a missa, a comunhão, as esmolas e as indulgências.
Muitos cristãos têm o costume de
tomar nota de todos os acontecimentos felizes ou infelizes que se têm dado na
sua vida. É o calendário do coração. Aí está escrita a data do seu nascimento,
do seu batismo, da sua primeira comunhão, da sua confirmação e outras datas
mais íntimas ainda: a morte de seus pais, de seus filhos, de seus amigos. Estes
dias são sagrados como os dos seus aniversários. Nestes dias tomar a resolução
de não se preocuparem com as coisas do mundo e consagram-se inteiramente a
Deus. Visitam-se as sepulturas queridas; sobretudo, visita-se Jesus
Sacramentado ouve-se missa, comunga-se. É nestes atos de piedade que se ora
pelo resgate dos cativos, é neste tesouro da mesa da comunhão que se encontra a
libertação, ou pelo menos, o alívio dessas benditas almas.
“Dai-lhes, Senhor, o lugar de
refrigério de luz e de paz.”