PREPARAÇÃO AO MATRIMÔNIO
30 de Agosto de 1940
Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos, edição de 1946.
Voltemos
hoje as nossas vistas para os futuros chefes de família.
Que
é mocidade? - É, dirão muitos, o tempo feliz, em que não se têm preocupações, e
que docemente corre, como as águas tranquilas de um rio...
Que
a mocidade seja um bom tempo, não há dúvida. Mas um período em que não se pensa
em nada seriamente? em que não se têm cuidados, preocupações? - Isso é que não!
Ninguém confunda mocidade com infância.
Esta é que é a idade da irreflexão. E, quando os moços dão para agir como "crianças
grandes", e não querem assumir responsabilidades, tudo vai mal. E grande
parte das desgraças que infelicitam muitos lares na hora presente deve ser
atribuída ao erro generalizado de que "os rapazes precisam aproveitar sua mocidade,
gozar a vida", mesmo com prejuízo de terceiros. Falemos mais claramente:
grande parte dos males sociais hodiernos vem da desorientação dos moços. Cultivam
certas afeições, vencem infelizes corações que têm sede de carícias,
dominam-nos, convencem-nos de que a vida é o momento fugaz do prazer, e por
isso é urgente gozá-la e... obtêm o que desejam. Passado o entusiasmo, tudo
está acabado cada qual para seu lado. Ele, sem preocupações, livre, desimpedido,
já à caça de um novo amor. E ela... desgraçada para sempre!
Um
ilustre sociólogo contemporâneo, apresenta o seguinte quadro de valores, na preparação
dos futuros chefes de família: um valor profissional;
um valor social; um valor moral; um valor cristão.
Primeiro
ele apresenta o valor profissional. É
justo. O jovem que pretende casar-se e viver à custa da mulher ou da família
desta ou da própria família é um errado. Que prestígio pode ter um chefe, que se
apresenta como subordinado como inferior, na dependência econômica de quem tudo
devia dele esperar? Ou na dependência de seus pais?
Sendo
o período da aquisição do valor profissional um período de formação, é preferível
na sua vigência, não assumir compromisso nenhum. Isso de ficar a jovem presa
dois, quatro, seis e mais anos... até que o seu desejado consiga os meios necessários
para constituir família nem sempre da bom resultado. "Cresça e apareça",
diziam os antigos. E parece-me que isto é princípio de boa filosofia.
Encaminhem;
pois, os pais a seus filhos convenientemente. Conduzam-nos desde cedo para o estudo,
para uma carreira, para um ofício. Nem ficam dispensados de tal missão os pais
ricos, que têm muito para fazer a fortuna de seus filhos. Nada corno o
indivíduo ganhar sua vida por si, sabendo o valor daquilo que vai gastar,
sentindo mesmo o peso das suas responsabilidades.
Quanto
ao valor social, procurem as famílias
assegurar para os seus rapazes uma posição adequada à própria categoria. O pobre,
como pobre. O remediado e o rico, como tais. E os casamentos devem ser, de preferência,
entre pessoas do mesmo valor social. As desigualdades neste particular não provam
bem.
O
valor moral é muito importante, pois
mantém o equilíbrio dos dois primeiros, eleva-os, dignifica-os. O homem de bem é
um elemento precioso na família e na sociedade. Para adquirir esse valor, cultivem-se
os bons costumes desde a infância. Evitem as más companhias. Fuja-se do álcool e
do jogo; das noitadas passadas em claro, desperdiçando o dinheiro, a saúde e o
tempo. Respeite-se a juventude feminina. Compenetre-se o jovem de que só
cumprindo nobremente os seus deveres e guardando seu coração para dedicá-lo a
um verdadeiro e puro amor, será um digno chefe de família no futuro.
Os
valores profissional e social só se consideram verdadeiros num homem de bem.
O
valor religioso, cristão – é a luz que faz brilhar o
futuro chefe de família. Mantém as outras qualidades, aperfeiçoando-as cada vez
mais. Refreia as paixões, modera a alegria, conforta na dor e prepara o homem
para a eterna viagem, fazendo-o adormecer tranquilamente na paz do Senhor.