segunda-feira, 4 de março de 2013

A Criação dos Filhos

Fonte: Maria Rosa Mulher
Por Pe. John D. Fullerton
Traduzido por Andrea Patrícia

Tenho certeza que muitos de vocês já tiveram a oportunidade de ver como os padrões de criação dos filhos mudaram em nosso país. Ou, mesmo se você não está ciente das mudanças, você está pelo menos consciente dos efeitos negativos que elas tiveram não só na nossa juventude, mas também em nossas famílias, nossas escolas, nossas comunidades e até mesmo em nossas paróquias católicas. Desrespeito, um comportamento irresponsável e falta de perseverança estão entre as ervas daninhas mais evidentes que essas mudanças têm cultivado.

Um dos fatores que levou a uma mudança nos padrões aqui nos EUA foi o rompimento da unidade contínua da família depois da última guerra mundial. Logo após a guerra, os familiares começaram a se dispersar em centenas ou mesmo milhares de quilômetros de distância um do outro. Assim, a família foi dividida em unidades menores, e jovens pais viram-se sem o apoio de seus pais ou avós. Isso, juntamente com problemas familiares causados ​​pelo ritmo acelerado do "progresso", empurrou os pais nas mãos de vários chamados profissionais (por exemplo, os conselheiros familiares, psicólogos e assistentes sociais).
Esses "profissionais" assumem uma abordagem intelectual (mais nas nuvens) em vez de senso comum (para a terra) sobre a criação dos filhos. Com suas filosofias modernas, convenceram os pais de que o objetivo final da "paternidade" era algo chamado "autoestima" e que a família precisava ser "centrada na criança". A fim de aumentar a autoestima de seus filhos, esses "especialistas" disseram aos pais que eles precisavam dar muita atenção (ou seja, ser altamente envolvido com) aos seus filhos; quanto mais atenção, melhor pai.
Eles também foram informados de que deveriam elogiar muito seus filhos, ignorando seu comportamento inadequado. Os "especialistas", disseram que se as crianças recebessem um excedente de "carinhos quentes" pelo seu bom comportamento, por sua vez, iriam transmiti-los aos outros. Mas que se muita atenção fosse dada ao comportamento inadequado, fazendo qualquer menção a ele, seria provável que esse mau comportamento acontecesse novamente. Além disso, dizendo às crianças que elas fizeram algo errado, um pai iria fazer com que elas se "sentissem mal" sobre si mesmas, causando baixa autoestima a partir da qual elas nunca se recuperariam.
Finalmente, os "especialistas", instruíram os pais dizendo que eles deveriam proteger seus filhos da frustração e do fracasso. Essa aparência de aumentar "a auto-estima" parece ter raiz, especialmente em nossas escolas públicas, onde os educadores espalharam esta ideia e fizeram tudo o que podiam para tentar tirar a frustração e o fracasso da aprendizagem e fazer tanto o processo quanto o lugar serem "divertidos". Isto foi conseguido através do emburrecimento no nível de educação, classificando os estudantes de acordo com sua capacidade, em vez de seu desempenho, e aprovando os estudantes tivessem eles ou não aprendido as matérias, porque, como disseram, repetir o ano feriria sua "autoestima."
Os "especialistas" também tentaram desacreditar os métodos tradicionais de criação de filhos, dizendo que esses métodos seriam psicologicamente prejudiciais às crianças. Para provar isso, eles se referiram a profissionais como Sigmund Freud, cujas teorias bizarras tinham alcançado grande aceitação entre os intelectuais antes de serem lançadas para o público em geral. A contribuição de Freud levou os pais a começarem a questionar até mesmo as abordagens mais corriqueiras para a criação dos filhos, e cada pequeno aspecto passou a ter uma grande significância psicológica.
Outros psicólogos, como Carl Rogers, Gordon Thomas e Dorothy Briggs também colaboraram com a destruição. Em seu livro best-seller de 1970, Parent Effectiveness Training [Eficácia da Formação pelos Pais], Gordon diz que o verdadeiro problema não é tanto que os pais reprimam, mas que eles suprimam os intelectos e psiques de seus filhos. Eles fazem isso, exigindo a obediência a regras rígidas, punindo desvios de parâmetros estreitos "irracionais", e ao não deixarem as crianças expressarem livremente opiniões e emoções. Em sua opinião, poder e autoridade seriam a fonte de muitos, se não todos os problemas do mundo, e sua solução seria que as famílias se tornassem democráticas e não autocráticas. "No-Lose, o método de abordagem III [de Gordon] comunica aos filhos que os pais pensam que suas necessidades são importantes também, e que se pode confiar que, em troca, as crianças sejam atenciosas às necessidades dos pais, isso é tratar as crianças como nós tratamos os amigos ou um cônjuge. [O método] é tão bom para as crianças porque elas gostam de sentir que confiam nelas e de serem tratadas como um igual ." ( P.E.T., p. 213)
Dorothy Briggs reforça os temas de Gordon no seu livro de 1970, Your Child’s Self-Esteem [A Auto-Estima de Seu Filho], outro best-seller. Em seu livro, ela incendeia os tradicionais métodos educativos dizendo que eles seriam prejudiciais à "autoestima", assim como o próprio conceito de obediência. Segundo ela, os pais não deveriam tomar decisões unilaterais quando se tratasse de lidar com a insatisfação ou discordâncias por parte das crianças, mas sim se engajar na "escuta ativa", respeitando o ponto de vista da criança, e então estabelecer com ela um acordo. Assim, não haveria um vencedor e um perdedor, mas dois vencedores. "A disciplina é democrática quando os pais compartilham o poder, quando adultos e crianças trabalham juntos para estabelecer regras que protejam os direitos de todos. Nas casas democráticas as crianças têm uma parte igual na elaboração de limites. A família funciona como uma unidade para estabelecer políticas amplas, gerais, enquanto permitem flexibilidade dentro desses limites." (YCSE, p. 244)
O tema subjacente a este pensamento é que as crianças nascem neste mundo como puros pequenos seres. Em seguida, são corrompidos por seus pais, que, por sua vez, foram corrompidos por seus pais e assim por diante. Essa maneira de pensar pode ser rastreada até a filosofia autosservida do filósofo do século XVIII, Jean-Jacque Rousseau, que, sendo pai, abandonou e se recusou a apoiar seus três filhos. Rousseau argumenta que os seres humanos são inerentemente bons e, portanto, não são culpados de nada. Eram somente distorcidos pela sociedade, e ela somente poderia ser a responsável por todas as coisas depravadas que as pessoas faziam.
Como essas ideias altamente subversivas foram colhidas e ecoadas por toda a comunidade profissional, o efeito sobre os pais foi paralisante. Pela primeira vez na história, os pais começaram a pisar em ovos em torno de seus filhos tentando não perturbar o seu estado de bem-aventurança. Logo eles se tornaram os pais mais inseguros, ansiosos, indecisos e cheios de culpa que a história já viu.
Desde a década de 1950, não é preciso olhar profundamente para ver o impacto que essas novas práticas tiveram na nossa cultura. Por exemplo:
1. Os crimes violentos cometidos por jovens aumentaram seis vezes.
2. A violência por parte das crianças contra seus pais e professores, algo quase nunca ouvido antes, tornou-se um problema sério.
3. A taxa de crianças nascidas de adolescentes solteiras aumentou quase 200 por cento.
4. A depressão na adolescência tornou-se quase epidêmica.
5. A disciplina em sala de aula tornou-se um problema sério. Os professores já não têm de lidar apenas com as crianças conversando fora de hora, ou furando fila, mas tem que lidar com drogas e álcool, assalto e roubo.
6. Desde 1960, a taxa de suicídios de adolescentes mais do que triplicou e agora é a segunda principal causa de morte entre eles.
As normas ou práticas de criação das crianças desempenham um papel importante na definição das bases sociais de qualquer cultura e não é muito difícil ver como, em última análise, uma cultura é definida pelas práticas de educação dos filhos.
Nem é muito difícil de ver que essas normas ou práticas têm sido ultimamente projetadas para atacar os direitos de Deus e de Sua Igreja, tentando destruir a autoridade legítima e nossa dependência dela. Deveríamos nos admirar com o fato de que os nossos jovens e agora os adultos jovens, têm problemas para aceitar a autoridade; que eles mostram como uma fraqueza de vontade quando se trata de praticar o auto-sacrifício e a perseverança; e que para mais e mais deles muitas vezes é difícil levar a sério as suas responsabilidades?
Um psicólogo moderno, John Rosemond, parece ter descido da nuvem intelectual e voltou para o senso comum das práticas tradicionais já testadas. Ele sustenta a necessidade de os pais treinarem os filhos para os "três Rs". Não! Ele não está se referindo a "leitura, escrita e aritmética" [1] (embora estes também sejam muito importantes na educação), mas sim a "responsabilidade, respeito e desenvoltura.” [2].
Antigamente essas eram as normas de boa educação dos filhos. Os pais não eram medidos pelo grau de cansaço provocado pela condução seus filhos de um evento para outro, ou pelo modo como estavam envolvidos no dever de casa de seus filhos, ou por quantos "carinhos quentes" davam a cada dia, mas sim pelo fato de se ter ou não conseguido dotar seus filhos de quantidades adequadas de cada um dos "Três Rs". O sucesso de haver ou não um pai conseguido dotar seus filhos das quantidades adequadas de cada "R" era evidente para os amigos e vizinhos, que os tinham em alta estima e diziam que eles "estavam fazendo um bom trabalho." Se seus filhos se tornassem médicos, carpinteiros ou zeladores, isso era secundário ao fato de que a boa educação dos filhos deveria acima de tudo garantir que eles pudessem ser ativos não só na própria família, mas também para a comunidade, em qualquer vocação que escolhessem.
Boas práticas na criação dos filhos são, naturalmente, importantes para ambos os pais em casa e os professores na escola. Assim, ao longo dos próximos meses, vamos considerar um pouco mais em profundidade cada um destes "Três Rs". Basta dizer por agora que deve finalmente ser fundamentada no respeito que demonstrarmos a Deus, a responsabilidade que nós, como membros do Corpo Místico, temos sobre nossas ações, e a desenvoltura em cooperar com Suas graças durante as nossas lutas diárias.
Original aqui.
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Nota da tradutora:
[1] No original “reading, riting, rithmetic”.
[2] Três Rs: no original "respect, responsibility and resourcefulness."