Nota do blogue: Agradeço a alma generosa que me enviou esse texto. Deus lhe pague.
Princípios da Vida de Intimidade com Maria Santíssima,
autoria de Pe. Julio Maria Lombaerde.
Já percorremos as principais causas dos méritos da Virgem Maria. Falta somente uma última causa não menos importante e que reúne como que em um só feixe, melhor, em uma espécie de “Sol” todos os raios esparsos que até aqui analisamos. Pelo que já vimos, o espírito humano deve compreender sua impotência ao apreender esta “Maravilha do Altíssimo” que se chama a Mãe de Deus.
Tantas belezas morais, tantas graças nos causam admiração; sente-se que o que se pode dizer a esse respeito nada é do que se teria e deveria dizer ainda.
No assunto que temos a tratar aqui, encontra-se o abismo hiante, sem medida, ultrapassando todas as nossas concepções e todos os nossos cálculos. Para termos um pequeno sumário da proporção do crescimento da graça santificante em Maria, vários teólogos, como Suarez, Justino de Miechow, de Rhodes, Véga, Santo Ligório, Combalot e quase todos os modernos, têm recorrido aos algarismos, averiguando sua impotência, para exprimir em palavras o que seu espírito concebe a respeito da graça de Maria.
Afim de proceder com clareza e precisão, ponhamos desde o início os princípios teológicos sobre os quais repousam estes cálculos.
PRIMEIRO PRINCÍPIO:
“Todo ato bom produz uma graça igual ao próprio ato”.
SEGUNDO PRINCÍPIO:
“Maria agiu sempre segundo sua força e conforme toda a virtude da graça e do hábito que nela estavam; em Maria não se pode supor nem negligencia, nem tibieza”.
Destes dois princípios, que podem, servir de premissas, pode tirar-se a conclusão imediatamente.
Se todo ato bom produz uma graça igual ao próprio ato, e se todos os atos de Maria foram feitos com todo o fervor e todo o amor que Deus lhe deu, sem que jamais alguma negligência tenha interrompido seus atos, é necessário admitir que a santidade de Maria foi duplicada por cada um de seus atos.
Por um lado uma graça, que opera segundo toda sua energia, revoca uma graça igual e por conseguinte duplica-se a si mesma; por outro lado a graça de Maria foi sempre ativa, e ativa segundo toda potência; logo, se avaliarmos a graça de Maria, em um dado momento a cem graus, o ato de amor a seguir ajuntará cem graus novos; o segundo ato, produzido por um ato de duzentos valia duzentos outros; o terceiro produzido por quatrocentos graus eleva a soma de santidade a oitocentos graus; o quarto a mil e seiscentos, o quinto a 3 mil e duzentos; etc.
Procedendo deste modo, no trigésimo dia chegareis a um total de 26 bilhões, 442 milhões, 742 mil e seiscentos.
O que seria, se quiséssemos calcular até o centésimo, até o milésimo, etc.? (...) Até o fim de sua vida... Digamos, mesmo depois de um ano este aumento se tornaria inexplicável e incompreensível.
Vinde, pois, matemáticos, contai, suputai, colocai algarismo após algarismo, passai vossa vida a alinhar números, e depressa estará esgotada vossa ciência e não tereis ainda escrito um número capaz de exprimir o grau de graça da Mãe de Deus.
A esse respeito têm-se feito cálculos extravagantes e sublimes. Pe. D’Argentan deu um exemplo disso. Ele supõe que o ponto de partida da santidade de Maria fosse a santidade consumada de um serafim, o mínimo, contrário até à verdade teológica que reconhece em Maria uma santidade inicial superior à dos anjos e dos homens, tomados coletivamente; mas partamos daqui, afim de estarmos fora de todo exagero; este mínimo com mínimo de atos nos dará um total que eu diria assombroso, se não estivéssemos acostumados a encontrar, falando de Maria, a cada passo, abismo que desconcertam toda razão humana.
Logo, supõe-se que Maria em seu primeiro instante estivesse à altura dos Serafins em graça e em amor. Ela produz logo seu primeiro ato de amor como é dever, diz Santo Tomás, de toda criatura que atinge o uso da razão. Eis sua graça duplicada, e duas vezes igual à do mais sublime Serafim. Depois os atos se multiplicaram e só Deus conhece o número que atingiram.
Suponhamos que Maria tenha feito um ato por dia... Um só. Se essa suposição fosse tomada a sério, seria injurioso para a Santíssima Virgem, pois ela teria ficado vinte e quatro horas, sem progredir um só passo, quando a verdade é que ela progredia continuadamente dia e noite.
Mas adotemos ainda este mínimo, é o bastante, para desconcertar toda inteligência criada.
No segundo dia Maria tinha pois duas vezes outro tanto de graças e de amor que o mais ardente Serafim. No terceiro dia, quatro vezes outro tanto; no quarto dia, oito vezes; no oitavo cento e vinte e oito vezes.
No fim de um mês, em trinta dias, ela ultrapassaria o Serafim, sabeis quantas vezes? – 1.642.068.272 vezes!
Lede e compreenderei. Um bilhão, seiscentos e quarenta e dois milhões, sessenta e oito mil, duzentos e setenta e duas vezes.
Depois começa o segundo mês de sua existência. Dois, cinco, dez dias se passam, e a Santíssima Virgem redobrando sempre o seu mérito, se apresenta com o total de: 2.193.477.908.528 vezes a santidade do mais brilhante Serafim.
Ponderai isto. Depois de quarenta dias, a Santíssima Virgem ultrapassa tudo que o céu contem de mais santo depois de Deus, com 2 trilhões, 193 bilhões, 908 mil, 528 vezes.
E o crescimento continua sempre... Continua sem interrupção, sem enfraquecimento como continua a série dos dias. O quadragésimo quinto dia chega com um total de 70.188.693.072.57670 trilhões, 188 bilhões, 693 milhões, 72 mil, 576 graus...
No quinquagésimo, este total já é elevado a: 2.246.022.178.322.438 de graças.
Após cinquenta dias somente, não lhe concedendo senão este mínimo de um ato por dia, a Virgem Imaculada, teria pois ultrapassado o mais ardente Serafim, mais de 2 quatrilhões, duzentos e quarenta e seis trilhões de vezes.
E se em vez de fazer um ato ela fizesse cinquenta por dia, na noite do primeiro dia de sua existência ela teria alcançado este número...
E se, o que se aproxima cada vez mais da verdade, se em vez de um ato de meia em meia hora Ela fizesse cinquenta atos por hora, a Imaculada se apresentaria com este total depois de uma hora de existência.
Ora, notai ainda, o mínimo de partida e o mínimo de atos.
Que seria se começasse o cálculo por onde se devia começar para estar na verdade: a santidade consumada de todos os anjos e todos os santos?
E isto não somente durante 50 dias, mas durante mais de 70 anos!
O cálculo é impossível... Nem pensemos nisso, só a eternidade nos poderá dar uma idéia.
Continuando mesmo o crescimento mínimo indicado, que numero ou, melhor, que volume de números tereis depois de um ano, depois de dez anos?
Os graus de amor e de graça da Mãe de Deus estariam muito acima dos grãos de areia da praia do mar.
Depois de dez anos, acima dos grãos de areia que seriam necessários para encher o espaço desde o centro da terra até o firmamento.
E o que são dez anos quando se pensa que esta progressão imensa não durou menos de 73 anos, pois, seguindo a maior parte dos autores, é esta a idade que alcançou a Mãe de Deus.
A esta vista o nosso espirito não se sente tomado de vertigem?
Não nos sentimos como que esmagados sob o peso do infinito poder de Deus? Após isto compreende-se como Maria pôde dizer: “Fecit minhi magna qui potens est!”
O Todo Poderoso fez em mim grandes coisas... Deus fez de sua Mãe, como o diz Santo Tomás, uma “quase divindade” – “a obra prima de sua onipotência”.
E o que se pode opor a esta doutrina? (...)
Nada, responde Suarez pois isto não é senão um prodigioso crescimento que a muitos parecerá incrível, pois não poderão compreender, nem a sua extensão nem a sua excelência. Mas, que se lembre que Maria é revestida de uma dignidade infinita; que o começo de sua santificação era mais perfeito que a consumação de todas as outras santidades reunidas; e diante destes progressos admiráveis e divinos, o espanto e a estupefação, dos quais se tem o trabalho de precaver, darão lugar à admiração, ao reconhecimento, ao amor.
Concluamos, dizendo que esta imensidade não é o infinito, visto que toda qualidade e todo crescimento mesmo sobrenaturais são necessariamente limitados. Entretanto, em Maria, estas qualidades atingem o grau supremo que uma simples criatura possa atingir.
Esta imensidade é, de fato, a consequência final da maternidade divina, sendo proporcionada a esta maternidade e com esta maternidade é que deve ser medida.
Do mesmo modo que não se concebe para uma criatura uma dignidade maior que a de ser Mãe de Deus, do mesmo modo, com efeito, não poderia haver – conquanto que o contrário seja de absoluta possibilidade – uma graça mais elevada que a graça final, consequência última e suprema da maternidade divina.
Sim, tudo isso merece admiração dos séculos, e é mais doce ainda pensar que o conhecimento de uma santidade tão admirável será uma parte de nossas delicias na mansão eterna.
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