quinta-feira, 14 de março de 2013

Doutrina Cristã - Parte 24

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã, 
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.

4.º - EXERCÍCIO DAS VIRTUDES TEOLOGAIS

            Obrigação e modo de exercer as virtudes teologais
            66. - Devemos fazer atos de fé, esperança e caridade, logo chegados ao uso da razão, muitas vezes na vida, implicitamente nas obras de piedade e de religião, nas tentações a vencer, quando houver importantes deveres cristãos a cumprir, e nos perigos de morte.  
            É bom fazer muitas vezes atos de fé, esperança e caridade, para conservarmos, aumentarmos e fortalecermos essas virtudes. São verdadeiras partes vitais, isto é, órgãos necessários à vida do homem espiritual, que vive segundo a razão e os ditames do Evangelho.
            Devemos fazer atos de fé, esperança e caridade com o coração, isto é, com o afeto, - com a boca, mediante as fórmulas propostas no catecismo ou em jaculatórias, - com as obras, dando prova dessas virtudes em nosso procedimento.
            Daremos prova de fé, confessando-a e defendendo-a, onde for mister, sem temor e sem respeito humano, e vivendo segundo as suas máximas.
            Daremos prova de esperança, não nos conturbando ante as misérias e contrariedades da vida, nem sequer ante as perseguições, mas vivendo resignados, seguros das promessas de Deus.
            Daremos prova de caridade para com Deus e para com o próximo, observando os mandamentos e praticando as obras de misericórdia espiritual e corporal. E, se no-lo reclamar o Senhor, daremos prova de maior amor a Ele, seguindo os conselhos evangélicos, isto é, as exportações que Jesus Cristo fez para a consecução de uma vida mais perfeita, mediante a prática de virtudes não mandadas, como a pobreza voluntária, a castidade perpétua e a perfeita obediência.

5. - VIRTUDES MORAIS

Definição

            67. - Virtude moral é o hábito de se fazer o bem adquirido pela repetição de atos bons.
            As virtudes morais têm por objeto imediato os nossos bons costumes e não se referem a Deus, senão indiretamente.
            Foram conhecidas e praticadas, como naturais, também pelos filósofos pagãos; nos cristãos, elas se tornaram sobrenaturais, porque fortificadas pela graça.
            As virtudes morais são numerosas, mas podem reduzir-se a quatro principais, que são um como sustentáculo ou gonzo (cardo) sobre que giram as outras.
            Daí lhes vem o nome de cardeais. São a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. As duas primeiras nos indicam o bem a realizar; as outras duas nos ensinam a vencer as dificuldades e a resistir ao que nos seduz ao mal.
            A prudência é a virtude que dirige todas as nossas ações, fazendo-nos conhecer se realmente são boas ou convenientes e que meios bons, convenientes e suficientes, devemos escolher para exercê-la.
            A justiça é a virtude que nos faz render a cada um o que lhe é devido; em primeiro lugar, o que é devido a Deus pela virtude da religião, e depois o que é devido a nós e ao próximo.
            A fortaleza é a virtude que nos faz afrontar sem temeridade e sem timidez qualquer dificuldade ou perigo, até a própria morte, pelo serviço de Deus e pelo bem do próximo.
            A temperança é a virtude que refreia as paixões e os desejos, especialmente sensuais, e modera o uso dos bens sensíveis. Jesus Cristo nos recomendou em particular algumas virtudes morais, chamando, nas oito bem-aventuranças evangélicas, bem-aventurado aquele que as exercita (Mat. V, 1-12.)

II. - DO VÍCIO

Paixões e Vícios

            68. - Paixões são comoções ou movimentos violentos da alma. De per si, não são nem más nem boas; mas tornam-se boas ou más conforme o uso que faz, delas, a vontade ou conforme o fim a que são dirigidas.
            Donde, se a vontade livre dirige essas paixões e inclinações segundo a lei de Deus, opera o bem; se contra a lei de Deus, comete pecado, isto é, faz um ato mal. Quando os atos maus se repetem, de modo a adquirir-se o hábito de praticar o mal, tem-se o vícioO vício é, pois, o hábito de se fazer o mal, adquirido pela repetição de atos maus.

Vícios capitais

            69 - Os vícios principais são sete e se chamam capitais por serem cabeça e origem dos demais vícios.
           1.º- Soberba, estima e amor desordenado da própria excelência. Dela nascem a ambição, a vanglória a desobediência, a obstinação, etc.
            A ela se opõe a humildade.
            2.º- Avareza, amor desordenado dos bens terrenos. Dela nascem a dureza do coração, a fraude, a violência, etc.
            A ela se opõe a liberalidade.
            3.º- Luxúria, amor desordenado dos prazeres dos sentidos. É causa da cegueira da inteligência, da perda da fé, da ruína da saúde e da família, etc.
            Opõe-se-lhe a castidade.
            4.º- Ira, desordenado movimento da alma em rejeitar o que quer que nos fira, com desejo de vingança. Provoca os litígios, as contumelias, as. rixas e conduz a graves delitos.
            É-lhe oposta a paciência.
            5.º- Gula, desordenado amor dos alimentos e bebidas. Gera a embriaguez, a impureza, etc.
É sua contrária a sobriedade.
            6.º- Inveja, tristeza do bem alheio ou alegria pelo mal de outrem. Produz a rivalidade, maledicências, etc.
            Opõe-se-lhe o amor fraterno.
            7.º- Acídia ou preguiça, desordenado amor ao descanso e consequente negligência em cumprir os seus deveres, especialmente os espirituais.
            A ela se opõe a diligência no serviço de Deus.

PARTE III

A GRAÇA
Definição

            1.º- Deus, na Sua infinita bondade, deu ao homem um fim sobrenatural a conseguir, destinando-o a ver e a gozar eternamente de Deus, infinito Bem.
            Para obter esse fim, não eram suficientes as forças naturais do homem: por isso, deu também aos homens uma energia proporcionada, com que pudessem realizar obras de bondade mais elevada, que a bondade natural, e obras tais de serem dignas do prêmio eterno. Essa energia sobrenatural chama-se a graça.
            Por "graça", pois, entendemos, em geral, qualquer dom de Deus em ordem à vida eterna. Dom, não prêmio, para excluir assim qualquer direito por parte nossa.

Graça atual e habitual ou santificante

            2. - Há duas espécies de graça: atual e habitual. Diz-se graça atual qualquer auxílio que Deus nos concede para praticar uma ação meritória do prêmio eterno: assim por ex. a graça de rezar bem, a graça de suportar pacientemente uma enfermidade, uma desgraça, etc. A graça atual é sempre necessária a todos e a cada um dos atos, ordenados de qualquer forma à vida eterna; e é necessária de tal modo, que, sem ela, é impossível um só ato salutar, ainda que seja o pensamento, o desejo e o começo do mesmo, segundo no-lo ensinou Jesus Cristo: "sem mim nada podeis fazer". (Jo. XV, 5.)
            Todavia, a graça não ofende nem diminui a nossa liberdade, como o definiu o Concílio de Trento.
            Deus, que a todos quer salvos, concede-nos a cada um a graça suficiente. A graça, que se une ao livre consentimento e consegue o fim para o qual Deus a concedeu, diz-se graça eficaz.
            A graça atual chama-se preveniente, se vem antes de qualquer desejo nosso, esforço ou ato; cooperante ou concomitante, se acompanha ou sustem o ato bom que despertou em nós; perficiente, se acompanha o ato até à sua realização.
            A graça habitual, chamada também santificante, é aquele dom sobrenatural de Deus, inerente á nossa alma, e por isso habitual, que nos torna santos, isto é, justos, filhos adotivos de Deus, irmãos de Jesus Cristo e herdeiros do Céu. Diz-se habitual, porque destinada, por si, a ficar na alma, enquanto não nos alongarmos dela, como em nós fica um vestido, enquanto não o tiramos. Ela é, pois, a vida sobrenatural da alma.
            A graça santificante recebe-se no santo Batismo; perde-se com qualquer pecado mortal; readquire-se com a Penitência ou com um ato de dor perfeita, unido ao propósito de confessar-se: aumenta com os demais sacramentos.

Mérito

            3. - As nossas boas obras feitas com o auxílio da graça são meritórias. O mérito não pode derivar senão da promessa de Deus, que, fidelíssimo, sabe manter o que prometeu.
            Por mérito entende-se a consequência do ato virtuoso, realizado com o socorro da graça, em virtude do fim sobrenatural, que torna o próprio ato digno de recompensa eterna. Há mérito de justiça, quando, por força de promessa de Deus, o prêmio é devido por estrita justiça; e mérito de conveniência, quando é devido, não por justiça, mas somente por uma certa conveniência.
            No mérito de justiça, requer-se, por parte de Deus, a promessa e o socorro da graça; por parte do homem, o estado de graça e o oferecimento da obra a Deus, com reta intenção. É de fé que o justo pode merecer de justiça o aumento da graça santificante e o aumento de glória.
            No mérito de conveniência, requer-se que a boa obra seja feita para agradar a Deus e conseguir-se a própria salvação. O justo pode merecer de conveniência a graça eficaz para conservar e acrescer a graça santificante, assim como para vencer as tentações; pode ainda merecer de conveniência a perseverança final, as graças para os outros e os próprios bens temporais. O pecador pode merecer de conveniência a conversão.
            A grandeza do mérito deriva da dignidade e santidade da pessoa, da excelência e dificuldade da obra e da perfeição com que se opera. Os atos mais indiferentes podem tornar-se meritórios.          

Meios da graça

            4. - Os meios com que podemos ter de Deus o dom preciosíssimo da graça são os Sacramentos, que a produzem, e a Oração, que no-la impetra do Senhor.