Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos, edição de 1946.
MATRIMÔNIO
6 de Agosto de 1940
Começamos hoje a estudar o
último Sacramento, em ordem da enumeração da Igreja - o Matrimônio.
Os cinco primeiros sacramentos – Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência e Extrema Unção santificam
a vida individual; a Ordem e o Matrimônio santificam a vida social.
A Ordem tem por fim a direção das
multidões cristãs para Deus, a administração dos Sacramentos, a pregação da
palavra, a evangelização dos povos, enfim o governo da Igreja universal.
O Matrimônio visa a propagação da
espécie em condições dignas do homem religioso, dignas da humanidade religiosa.
A Ordem mantém a família sacerdotal,
multiplicando, pela Ordenação legítima, os continuadores da Obra dos apóstolos,
que é a mesma obra de Jesus Cristo.
O Matrimônio mantém a família
humana, repetindo, como um eco, as palavras do Criador crescei e
multiplicai-vos - em Deus e para Deus!
A idéia de solidariedade brilha na
Igreja, ilumina-a toda, satura a instituição que Jesus Cristo deixou na terra,
para realizações sobrenaturais. Como é sublime a expressão do apóstolo São Paulo:
- Somos muitos, mas constituímos um só corpo, pois todos participamos de um só
pão (1 Cor 10, 17). O pão é massa que, antes, eram milhares de partículas
pequeníssimas, pó muito tênue... que depois se uniu, sem solução de
continuidade. Somos um só corpo, o corpo místico do qual o próprio Cristo é a
cabeça.
No Batismo brilha a solidariedade:
os pais apresentam à fonte da regeneração o filho pequenino, pelo qual os
padrinhos respondem, assumindo a responsabilidade sobre o que o novo cristão
deve rejeitar e sobre o que ele deve crer.
A Confirmação prepara os soldados da
fé, para as lutas em conjunto.
A Eucaristia une em Cristo os fiéis.
A Penitência se destina a sanear o
ambiente, purificando o indivíduo.
A Extrema Unção, também ela, é uma
demonstração emocionante de solidariedade: o moribundo recebe o conforto dos
seus irmãos que rezam por ele, ajudam-no a transpor os umbrais da eternidade. -
As últimas orações da Igreja, quando o cristão exala o último suspiro, são já
palavras de consolação aos que ficam chorando, a soluçar.
Já vimos a Ordem, Sacramento social,
por excelência. - O mesmo se dá com o Matrimônio.
Este sacramento está ligado
intimamente à natureza humana. O homem é um composto de espírito e matéria. Se
fosse só espírito, não existiria o casamento - pois não haveria morte, nem
infância, nem velhice. O Matrimônio completa os vivos e substitui os mortos;
guarda os berços e os leitos da dor; ampara os dois extremos da vida, fecha os
olhos aos que já cumpriram sua missão na família e espargi flores sobre as
sepulturas...
A alimentação conserva em cada um de
nós a vida. O Matrimônio tem o nobre fim de alimentar a humanidade. Há, porém,
uma diferença. A alimentação conserva a vida só para este mundo. Ao passo que o
Matrimônio, pela procriação que é a nutrição da espécie, dá seres humanos que
povoam a terra e prepara os cidadãos da eternidade!