Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
OS SACRAMENTOS EM GERAL
Definição
A palavra Sacramento teve primeiro
um sentido lato e significou, em geral, coisa sacra e religiosa. Em tal
sentido, eram chamados Sacramentos alguns ritos, segundo os pagãos.
No Antigo Testamento houve também
Sacramentos impropriamente ditos ou ritos religiosos, como a circuncisão, os
sacrifícios, o banquete do cordeiro pascal, etc., os quais não produziam a
graça nem a renovação interior, mas apenas uma justiça exterior e legal. Em o
Novo Testamento os Sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo
para nos santificarem.
Desta
definição transparece que três são os elementos: sinal sensível, produção da
graça, instituição divina.
Sinal sensível, o qual, caindo sob
os nossos sentidos, nos indica o efeito invisível da graça; assim por ex. no Batismo
a ablução externa indica a ablução interna produzida pela graça.
Produção da graça, enquanto o sinal sensível
é eficaz, isto é, não só indica, mas produz por si a graça.
Instituição divina, pois somente
Deus pode dar a um rito qualquer o poder de conferir a graça.
Número
6- Os Sacramentos são sete, porque
segundo o ensino infalível da Igreja, tantos são os que instituíra Jesus Cristo.
Os teólogos quiseram encontrar, para esse número centenário, uma razão de
conveniência, comparando as necessidades da vida espiritual com as da vida
natural. O homem, efetivamente, nasce, tem necessidade de se robustecer, de se
nutrir, de se curar das enfermidades, de receber especiais cuidados na última
doença, e, na vida social, precisa de ser governado e de se perpetuar: assim,
na vida espiritual, o homem nasce com o Batismo, se fortalece com a Crisma, se
nutre na Eucaristia, sara com a Penitência, recebe auxílios e conforto para a última viagem na Extrema Unção, recebe a hierarquia para o governo das almas
pela sacra Ordem, e se perpetua no Matrimônio.
Necessidade
7.— Os sete sacramentos são
necessários todos. Cinco são necessários ao individuo e dois (Ordem e
Matrimônio) à sociedade.
Dos cinco primeiros, dois se dizem
necessários de necessidade de meio, isto é, indispensáveis para conseguirmos a
vida eterna: — o Batismo, a todos os homens, e a Penitência, àqueles que pecaram
mortalmente depois do Batismo.
Os demais são necessários de
necessidade de preceito, porque existe um preceito de os recebermos, como a
Penitência, uma vez por ano, e a Eucaristia, ao menos pela Páscoa, e em perigo
de morte, como Viático.
Efeitos.
— Graça santificante
8 — Os Sacramentos nos santificam,
ou dando-nos a primeira graça santificante, que apaga o pecado, ou aumentando-nos
a graça que possuímos já. Dão
a primeira graça o Batismo e a Penitência, que se dizem sacramentos dos mortos,
porque dão a vida da graça às almas mortas pelo pecado. Dão
a segunda graça, isto é, aumentam a graça já possuída — a Crisma, a Eucaristia,
a Extrema Unção, a Ordem e o Matrimônio, que se dizem Sacramentos dos vivos,
porque, para os recebermos, devemos já ter na alma a graça. Recebê-los em
pecado mortal é cometer um pecado gravíssimo de sacrilégio, porque se
receberia indignamente uma coisa sagrada.
Graça
sacramental
9. — Além da graça santificante, os
sacramentos conferem a graça sacramental, isto é, o direito de receber de Deus
as graças atuais necessárias para conseguir-se o fim próprio de cada
sacramento.
Jesus Cristo instituiu os
sacramentos por um fim geral — o de nos santificar.
Além desse fim, Jesus Cristo assinalou
a cada sacramento um fim particular: — o Batismo nos torna cristãos, a Crisma
nos faz soldados de Jesus Cristo, a Eucaristia nutre a alma, etc.
Para alcançar esse fim próprio,
temos necessidade do auxilio de Deus, isto é, das graças atuais: — o direito a
se receberem estas graças diz-se “graça sacramental”.
Caráter
10— Alguns sacramentos produzem na
alma um terceiro efeito, a saber: — imprimem caráter, sinal espiritual que não
se cancela nunca, mas permanece mesmo na vida futura, para glória dos bons e
confusão dos maus.
O caráter tem dois escopos: a)
faz-nos capazes de receber ou cumprir certos atos relativos à religião; serve
para distinguir quem recebeu o sacramento de quem o não recebeu.
Três são os sacramentos que imprimem
caráter e podem ser recebidos uma só vez: — o Batismo, a Crisma e a Ordem.
O Batismo imprime o caráter de cristão;
a Crisma, o de soldado de Jesus Cristo; a Ordem, o de seu ministro.
Como operam os
sacramentos
Validade e liceidade
11— Os sacramentos produzem esses
efeitos por virtude própria, independentemente das disposições do ministro,
com a condição única de que quem os receber não ponha obstáculo algum, como o
sol por sua virtude ilumina um ambiente, contanto que não se fechem as janelas
e não se lhe ponha obstáculo.
Cumpre distinguir-se entre validade
e liceidade de um sacramento.
Um sacramento é valido, quando o sinal
sensível, o ministro e o sujeito têm todas as condições exigidas para que o
rito seja sacramento.
É licito, quando quer o ministro,
quer o sujeito têm as disposições requeridas pela Igreja para conferi-lo e
recebê-lo. Um sacramento, portanto, pode ser válido, mas ilícito: assim por ex.
o ministro, que não esteja em estado de graça, opera ilicitamente, embora o
sacramento seja válido e frutuoso, isto é, produza o efeito em quem o recebe.
Pelo contrário, se o sujeito, ao receber um sacramento dos vivos, não anda em
estado de graça, o sacramento é válido (sendo que na Crisma e na Ordem imprime
caráter), mas ilícito e infrutuoso, porque não produz o efeito isto é, não aumenta
a graça santificante.
Matéria,
forma e ministro.
12.— Para ter-se um sacramento são
necessárias três coisas: — matéria, forma e ministro.
Matéria é o elemento sensível, que
se requer para fazer o sacramento, isto é, a parte do sacramento que nos cai
sob os olhos; assim a água no Batismo, a acusação dolorosa dos pecados na
Penitência, etc.
Forma são as palavras que o ministro
deve pronunciar no próprio ato de aplicar a matéria. Elas indicam a que fim
se quer empregar a matéria e, por isso, dão a esta uma forma determinada; assim
por ex. no Batismo a ablução da água, que por si representa somente uma ablução
externa, — por meio das palavras “Eu te batismo, etc.” passa a significar um
lavacro espiritual.
Ministro é a pessoa capaz, que faz
ou confere o sacramento em nome e pela autoridade de Jesus Cristo: assim o
Bispo na Crisma, o Sacerdote no Batismo, os esposos no Matrimônio, etc.
Parte
essencial e cerimônias
13. — Na administração dos
sacramentos importa distinguir-se o que é essencial e as cerimônias que
acompanham o rito. O que é essencial foi instituído por Jesus Cristo e não pode
ser modificado. As cerimônias, porém, foram dispostas pela Igreja — a) para
gerarem nos fiéis estima e reverência ao sacramento; b) para darem a
compreender melhor os efeitos do sacramento; c) para inculcarem as obrigações
que o sacramento impõe. Só a Igreja pode modificar essas cerimônias.