Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos, edição de 1946.
FIM PRIMORDIAL DO MATRIMÔNIO
8 de Agosto de 1940
O fim principal do Matrimônio é a
geração e a educação da prole.
Recordemos a lição que, a este
respeito, nos deu o Santo Padre Pio XI, na sua célebre encíclica - "Casti
Connubii" de 31 de Dezembro de 1930.
Deus Criador, na Sua infinita bondade,
quis servir-Se dos homens, como cooperadores, para propagar a vida. É o que se
depreende das mesmas palavras da Bíblia Sagrada, descrevendo a maravilhosa cena
da Criação dos nossos primeiros pais: "crescei e multiplicai-vos e enchei
a terra".
Note-se, porém, que esta ordem
divina foi dada muito antes do primeiro pecado.
Santo Agostinho, comentando - com a
habitual elegância dos seus escritos - as palavras do apóstolo São Paulo a
Timóteo, diz: "A opinião de São Paulo é que as núpcias devem ser contraídas
por motivo da prole... Quero, continua o bispo de Hipona quero que as moças se
casem, para procriarem os filhos e serem boas mães de família".
Quem reflete seriamente sobre a
dignidade humana, quem crê na vida futura e espera que Deus recompense abundantemente
o bem praticado no mundo; quem não vê no homem apenas um ser que, de qualquer
maneira, há de se esforçar por gozar a vida, mas um futuro cidadão da
eternidade, um discípulo de Jesus Cristo que deve sofrer, como seu Mestre, para
merecer; quem considera a criatura racional como composta de alma e corpo - o
corpo, templo da alma, e a alma, templo de Deus; quem foi educado na verdadeira
escola espiritualista católica, ou ao menos crê na imortalidade da alma - não
pode deixar de ver na procriação uma bênção de Deus, em favor da humanidade; uma
honra insigne para as famílias, que são chamadas a desempenhar a missão de
colaboradores do mesmo Criador!
A criatura racional pela excelência
da sua natureza, está acima de todos os outros seres da terra. Mais ainda: Deus
quer a geração dos homens não só para que eles encham o mundo, mas para que
conheçam o seu Eterno Senhor, e O amem, e pratiquem o bem, especialmente a
verdadeira caridade que é puro amor e finalmente sejam, pelo mesmo Deus,
recebidos em seu Reino eterno.
Não basta, porém, colaborar na
continuidade da espécie. É preciso educar a prole. E essa educação há de ter
por base a Religião.
Quantas mães andam esquecidas da
grave obrigação que lhes é imposta: encaminhar, desde cedo desde tenra infância,
seus filhinhos para Deus! Quadros de beleza incomparável - tão comuns
antigamente é hoje escasseando... - as mães, juntando as mãozinhas do seu
filho, ensinando-lhe as primeiras orações, traçando com o pequenino o sinal da
Cruz, que há de mostrar-lhe sempre a sua dignidade de cristão!
Se a prole, no começo, não se pode
prover a si mesma do necessário para a vida física, nem para a vida intelectual
- nada pode certamente quanto à vida espiritual. Daí a grande responsabilidade
dos pais. Responsabilidade que não se pode admitir desprezada, quando se trata
de cristãos e muito mais ainda de católicos.