sábado, 22 de dezembro de 2012

Aquisição da fé

Nota do blogue: Acompanhem esse importante Especial AQUI.

Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950


I - Como devemos ir ao encontro da Fé

Jó perguntava um dia: Per quam viam spargitur lux? Em que condições, se derrama a luz da fé nas nossas almas? Como se deve ir ao encontro da fé?

  1. A fé exige a recepção do sacramento do batismo
Deus dá-nos a fé desde o batismo, diz o Concílio de Trento e por isso se chama Sacramento da Fé. Efetivamente, no batismo ao mesmo tempo que nos dá a graça santificante, dá-nos a faculdade de crer ou a virtude da fé. Enquanto o batizado não chega ao uso da razão não pode usar desta faculdade, não pode pôr em prática a sua fé. Esta atividade só se produz na idade da razão sob a influência da graça e da instrução religiosa. Dá-se o mesmo com o sentido da vista, nas crianças recém-nascidos; enquanto os olhos se lhe não abram: a criança, verá, sob a influência da luz, os objetos que estão ao alcance da sua vista.

  1. A fé é uma doutrina, é preciso estudá-la
Devemos estudá-la, aprendê-la bem, tanto no seu motivo e nas suas provas.

- Objeto da fé. A fé abrange tudo o que Deus disse para se crer e a santa Igreja ensina da parte de Deus. Compreende verdades, que se devem acreditar, preceitos que se devem praticar e conselhos que é conveniente seguir. O apóstolo São Paulo chama aos cristãos de seu tempo - iluminai, iluminados nas verdades da fé. Os cristãos de hoje devem ter noções nítidas da fé.

- Motivo da fé. O motivo da fé diz o Concílio do Vaticano, é a própria autoridade de Deus. Todo o ato de fé pode reduzir-se aos seguintes termos: Eu creio porque Deus o revelou e porque Deus é a verdade soberana não pode enganar-Se nem enganar-nos

- Provas da Fé. A fé era tão intensa nos Apóstolos que narrando a vida de Jesus Cristo podiam acrescentar: “Estas palavras ouvi-as dos seus próprios lábios! Porque não acredito eu em Cristo como os seus contemporâneos?” Os argumentos que eles tiveram conservam a mesma força provativa, e há vinte séculos que se vêm juntando novos argumentos.

  1. A fé é uma virtude, exige uma vida pura
Devemos purificar o nosso espírito da soberba, e o nosso coração da impureza.

- Soberba. - A soberba é um vício de tal ordem que se assemelha em muito ao álcool, porque tolda a inteligência impedindo-a de reconhecer a verdade. Um espírito soberbo é um espírito rebelde, isto é disposto a não crer. Como poderá alguém receber o Espírito de Jesus se está cheio do seu próprio espírito? Além disto, a fé é um dom de Deus, diz o Apóstolo São Paulo; ora está escrito que Deus resiste aos soberbos e que só dá a Sua graça aos humildes.

- Impureza. - A fé é incompatível com a impureza; porque o coração impuro perde o amor à verdade e ao bem. Assim o afirmam os santos. “É impossível ter uma vida impura, diz São João Crisóstomo, e não vacilar na fé.” “Quando alguém começa a entregar-se ao pecado da luxúria, diz Santo Ambrósio, começa a perder a fé. - Os próprios incrédulos confirmam esta doutrina. Quando Bourget um douto incrédulo do século XVIII, chamado por D'Alembert, a melhor cabeça da Academia, se preparava para a conversão, disse ao padre Berthonie que o ajudasse na obra da sua conversão: “Meu padre, eu era incrédulo porque era um homem corrompido. Remediemos o mal depressa: preciso mais de curar o meu coração do que o meu espírito: confesse-me.

Uma boa confissão é para a inteligência o que a operação da catarata é para os olhos do cego. Ela restitui num instante a luz da fé. Não é isto um fato que se verifica todos os dias? Perde-se a fé à medida que se afasta da santidade da vida. Com razão dizia Henry Lasserre: “a impiedade é um crime do coração antes de ser um crime da inteligência”.

“Diz o ímpio no seu coração: não há Deus”. Não é necessário talento, nem sabedoria para fazer um incrédulo, basta muita soberba e maldade de costumes. “Bem-aventurados, pois os limpos do coração, porque eles verão a Deus.”

  1. A fé é uma graça, exige a oração
 A fé, como diz São Paulo, é um dom de Deus, uma graça. Ora o meio normal para alcançar a graça é a oração. - Devemos pois, pedir instantemente a fé, ou o aumento da fé. Eu creio Senhor, mas fazei que eu creia com mais firmeza.

II- Como a fé vem ao nosso encontro

A fé vem ao nosso encontro por diversos caminhos.
  1. Pela criação. - A primeira impressão da fé vem-nos do lado da terra. É a voz da natureza criada que nos fala de Deus. Por quem foste criada? Por um ser mais poderoso que eu é que tudo foi criado, porque o operário é sempre mais poderoso que a sua obra. - Para que foste criada? A natureza responde da mesma maneira: para que nas obras reconheçais artista. “Nós vemos a Deus na natureza como num espelho, diz São Paulo, e assim as coisas invisíveis são conhecidas pelas visíveis.”
  1. Por Jesus Cristo. - Na criação conhecemos Deus e os Seus principais atributos; na Revelação de Jesus completa-se o testemunho das criaturas acerca de Deus; na Pessoa de Jesus vemos Deus presente, falando e operando - Jesus é o supremo testemunho de Deus. “Nunca ninguém viu Deus: o Unigênito que está no seio do Pai, dá testemunho de Deus.” (Jo. 1, 18). Jesus Cristo. mesmo o afirma. “Eu falo-vos daquelas coisas que vi no seio de meu Pai.” (Jo VIII, 28). O Pai confirma isto mesmo: “Este é o meu Filho muito amado escute-o.” (Mat. XVII, 5). “Quem me vê a mim, diz Jesus Cristo, vê meu Pai”. É necessário conhecer Jesus Cristo. Este conhecimento é tão necessário à nossa alma, como o ar e o pão para o corpo; é indispensável ao nosso ministério e ao nosso apostolado, que consiste em levar Jesus às almas.

  1. Pela Igreja. - A Igreja é depositária da Doutrina de Jesus Cristo. Depositária única, só a ela foi dito: “Ide e ensinai a toda a criatura”. Depositária infalível, é assistida pelo Espírito Santo, e, por consequência, não se engana nem pode enganar. É pelos ouvidos abertos à voz da Igreja que a fé entra nas nossas almas - fides ex auditu.
  1. Pela família. - A fé vem-nos da família a que pertencemos. Nascemos numa atmosfera impregnada de religião e de piedade. Por isso, podemos dizer com Jó: Desde a infância a piedade cresceu comigo.
  1. Pela sociedade. - Vivemos numa sociedade onde Jesus Cristo é conhecido, amado, servido e respeitado. Participamos dos benefícios da civilização cristã e, por consequência, do Beneficio da fé.