2.º Dia - 17 de dezembro
Canta-se o Puer Natus
Aflição do coração de Jesus no seio de Maria
Hóstias e oblações não quisestes, mas formastes-me um corpo.
(Hebr. 10,5)
Considera a grande amargura com que devia sentir-se afligido e oprimido o coração do Menino Jesus no seio de Maria, naquele primeiro instante em que o Pai lhe propôs a série de desprezos, trabalhos e agonias que havia de sofrer em Sua vida para libertar os homens de suas misérias: "Pela manhã chama a meus ouvidos..., não retrocedi..., entreguei meu corpo aos que me feriam" (Is. 50, 4-6). Assim falou Jesus pela boca do Profeta: "Pela manhã, quer dizer, desde o primeiro instante de minha concepção, meu Pai me fez compreender sua vontade: que eu tivesse uma vida de sofrimento e fosse, finalmente, sacrificado na cruz; não retrocedi; entreguei meu corpo aos que me feriam". E tudo aceitei pela salvação das almas e, desde então, entreguei meu corpo aos açoites, aos cravos, e à morte.
Pondera então quanto padeceu Jesus Cristo em Sua vida e em Sua paixão; tudo lhe foi posto ante os olhos desde o seio de Sua Mãe e tudo Ele abraçou com amor; mas, ao consentir nessa aceitação e vencer a natural repugnância dos sentidos, quanta angústia e opressão não teve que sofrer o inocente Coração de Jesus! Conhecia bem o que primeiramente tinha que padecer; os sofrimentos e opróbrios do nascimento numa fria gruta, estábulo de animais; os trinta anos de trabalho como artesão; o considerar que seria tratado pelos homens como ignorante, escravo, sedutor e réu da morte mais infame e dolorosa que se reservava aos criminosos.
Tudo aceitou nosso amável Redentor a cada momento, e a cada momento em que o aceitava, padecia reunidas todas as penas a abatimentos que depois padeceria até sua morte. O próprio conhecimento de Sua dignidade divina contribuía para que sentisse mais as injúrias recebidas dos homens: "Tenho sempre presente a minha ignomínia". Continuamente teve diante dos olhos sua vergonha, especialmente a confusão que sentiria ao ver-se um dia despido, açoitado, pregado com três cravos de ferro, entregando assim Sua vida entre vitupérios e maldições daqueles que se beneficiavam com sua morte. "Feito obediente até a morte e morte de cruz" (Phil. 2,8) e para quê? Para salvar-nos, a nós, míseros e ingratos pecadores.
Reza-se o Terço e a Ladainha de Nossa Senhora
Oração: Amado Redentor nosso, quanto Vos custou desde que entrastes no mundo, tirar-nos do abismo em que nosso pecados nos haviam submergido. Para livrar-nos da escravidão do demônio, ao qual nós mesmos nos vendemos voluntariamente, aceitastes ser tratado como o pior dos escravos; e, nós que o sabíamos, tantas vezes tivemos a ousadia de amargurar vosso amabilíssimo Coração, que tanto nos amou. Mas já que Vós, nosso Deus, sendo inocente, aceitastes vida e morte tão penosas, aceitamos por Vosso amor, Jesus, todas as dores que nos venham de Vossas mãos.
Aceitamo-las e abraçamo-las porque procedem daquelas mãos transpassadas um dia para livrar-nos do inferno, que tantas vezes merecemos. Vosso amor, nosso Redentor, ao oferecer-Vos para sofrer tanto por nós, obriga-nos a aceitar por Vós qualquer pena e desprezo. Dai-nos a aceitar por Vós qualquer pena e desprezo. Dai-nos, Senhor, por Vossos méritos, Vosso santo amor, que nos torna doces todas as dores e todas as ignomínias. Amamo-Vos acima de todas as coisas, amamo-Vos com todo o coração, amamo-Vos mais que a nós mesmos. Vós, em vossa vida, nos destes tantas e tão grandes provas de afeto e nós, ingratos, que prova de amor Vos damos? Fazei, pois, ó nosso Deus, que durante os anos que nos restam de vida vos demos alguma prova de amor. Não nos atreveríamos, no dia do juízo, a comparecer diante de Vós tão pobres como somos agora e sem fazer nada por Vosso amor; mas que podemos fazer sem Vossa graça? Apenas rogar-os que nos socorrais, e ainda essa nossa súplica é graça vossa. Oh, Jesus, socorrei-nos pelo mérito de Vossas dores e do sangue que derramastes por mim.
Maria Santíssima, recomendai-nos a Vosso Filho, já que por nosso amor o tivestes em Vosso seio.
Lembrai-Vos que somos daquelas almas por quem morreu vosso Filho.
Cântico: Adeste, Fideles