Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula
P.S: Especial, em andamento formiguinha, AQUI.
Jesus falando ao coração do sacerdote
por Bartholomeu do Monte
Edição de 1910
I.
– Filho, quanto Me consola ver-te prostrado a Meus pés, para que Eu te
ilumine, e fale ao teu coração!
Tu tens maior necessidade das Minhas
luzes e auxílios que os outros; porque as Minhas verdades, soando continuamente
em teus lábios e em teus ouvidos, já te não impressionam.
Entrega-te pois a Mim, reflete, pensa,
medita; porque todo o mal nasce da falta de meditação. Por isso o mundo está
tão extraviado e pervertido; por isso há tantos sacerdotes só no nome, e tão
poucos na realidade e na virtude. Mas põe de parte a consciência dos outros, e
cuida somente da tua.
Se tens caído no pecado, filho, porque
não recorres à oração? Todas as boas obras, ainda as mais santas, como a
esmola, a austeridade, a pregação, até a celebração do tremendo Sacrifício da
Santa Missa, podem existir com o pecado; porém pecado com devota e frequente
meditação não pode. (1)
Se queres livrar-te dele, a meditação é
o remédio; se temes a recaída, a meditação é arma e escudo conta as tentações
que padeces, e conta os perigos do século acelerado em que vives; é a fornalha
donde extrairás a chama, que deve inflamar-te em santo empenho de cumprires
todas as tuas obrigações, que são tantas e tão graves!
Então ditoso de ti! Já não cometerás
novos pecados; resgatar-te-ás dos passados, e, satisfazendo-Me por meio da
penitência, fervor e edificação das almas, crescerás de virtude em virtude, e
chegarás a ser, como outros muitos, um santo. Doutra sorte serás um
eclesiástico só na aparência, um profano vestido de Sacerdote ou de Religioso;
serás um miserável coberto de pecados até à morte. (2)
Ah!
Filho, se compreenderas bem a necessidade que tens da oração mental!...
II. – Filho, a Minha Igreja, as almas remidas com o Meu sangue esperam que tu Me aplaques; que sustentes e fortaleças os justos; que convertas, doutrines, inflames e salves os pecadores. Os seculares se encomendam continuamente às tuas orações; para este fim te dão esmolas, e gozas dos bens da Igreja; para este fim te constitui Sacerdote e advogado, não só dos vivos, mas também dos mortos.
Porém dize-Me, filho, satisfarás a estes
deveres sem oração? Imaginas que, para suspender Meus flagelos, obter a paz,
santificar as almas, basta um Memento,
que dura tanto quanto um Credo, ou
poucas orações vocais sem devoção? Como hás de inflamar os outros, se o teu
coração é gelo? Como os comoverás, se tu não estás comovido? Não basta, filho,
não basta ciência nem eloquência para salvar almas: vale mais uma palavra,
nascida de um coração abrasado na oração, que cem sermões de um teólogo vão e
dissipado. Se queres ganhar almas para mim, entrega-te à oração: assim o
praticaram todos os varões apostólicos; assim o pratiquei Eu mesmo para te dar
o exemplo.
Na oração receberás as luzes, graças e
fervor convenientes para encaminhá-las. Assim afervorado, conhecerão os
seculares que não exerces o teu ministério só por ofício ou costume; e Eu mesmo
ei de contribuir com aquelas graças que me pedires, que redundarão em grande
proveito deles, e também teu; pois, filho, de que te serviria teres salvado o
mundo todo, se perdesses a tua alma?!
III.
– Eia, filho, vem todos os dias a Meus pés; vem consolar Meu coração. Acharás
que o Meu trato não te causa pena; antes será o teu conforto, a tua consolação
e a origem de todo o meu bem.
Dize-Me, pois, que resolução tomas? Tens
tempo para tudo e para todos; e só o não terás para Mim e para a tua alma? Tens
talento e capacidade para as ciências, para os interesses terrenos, para longas
e profundas meditações sobre objetos, muitas vezes a Mim desagradáveis, e a ti
e ao teu próximo perniciosos; e não o terás para pensar em tuas obrigações e na
ciência dos Santos?
Se não sabes, Eu serei teu mestre; e
assim como a Meus discípulos abri os tesouros da Minha celestial doutrina, assim
te farei gostar os Meus dons, e te encherei do Meu espírito. Aprenderás mais
junto à Minha Cruz, que na leitura de todos os livros.
Tantos pobres, afadigados, rudes e
ignorantes, tem tempo, e tem-no todos os dias, e assim meditando chegam a
conseguir a eminente ciência da santidade; e não o terás tu, nem saberás, nem
quererás? Deixar-te-ás vencer deles?
Por amor de ti Eu passei noites inteiras
em oração; derramei vivo suor de sangue no Horto; e por Mim não quererás gastar
uma hora em corresponder-Me?!
Fruto.
– Propõe fazer todos os dias ao menos meia-hora de meditação. Procura munir-te
de algum livro concernente ao teu estado, como as Meditações de Bevellet, as do
Parocho de Leyão, as de Rogerio e outras. Entretanto usa do presente livrinho;
e procura ganhar as Indulgências, concedidas por Bento XIV a quem ensinar,
aprender e praticar este santo exercício.
A meditação é prescrita a todas as
Ordens Regulares nas respectivas Constituições. São Francisco de Assis e São
Boaventura dizem: que, sem exercício da meditação, o Religioso nunca terá
virtude, e a final se perderá. São Francisco de Sales queria que todo o
eclesiástico prefixasse uma hora cada dia para meditar; o que o Santo observava
inviolavelmente.
São Carlos mandava que os ordinandos
fossem examinados sobre se sabiam fazer oração, se a praticavam, e o fruto que
dela tiravam; quando ignorassem esta matéria, não eram promovidos às Ordens
sacras.
Ainda que te aches no estado de aridez,
nunca deixes a meditação: busca, não as consolações de Deus, mas o Deus das
consolações, e colherás abundantes frutos.
Grava em teu coração a seguinte máxima
do Venerável São João D’Ávila: Que é absolutamente inábil para o sacerdócio
quem não é homem de oração.
NOTAS
1 – Perspectum íd velim, nos quamvís culpis, et sceleribus coopertos precatio deprehendat, illico tamen expiari... Medicinam etenim quandam expultricem aegritudinum esse constat iis, qui morbis animi conflictantur. (Chrysost. Homil. 67).
2 – Ubi vero contigerit, ut aliquis sit precibus nudus, is a daemonibus abripitur, et in scelera, exitia, calamitates impellitur. (Chrysost. Ibidem).
1 – Perspectum íd velim, nos quamvís culpis, et sceleribus coopertos precatio deprehendat, illico tamen expiari... Medicinam etenim quandam expultricem aegritudinum esse constat iis, qui morbis animi conflictantur. (Chrysost. Homil. 67).
2 – Ubi vero contigerit, ut aliquis sit precibus nudus, is a daemonibus abripitur, et in scelera, exitia, calamitates impellitur. (Chrysost. Ibidem).