Sexta Ferida
A lançada e a descida da Cruz
A lançada e a descida da Cruz
"Eis que descem o Salvador da Cruz em que morrera!
Ó Virgem sacrossanta, destes com tanto amor
Vosso Filho ao Mundo,
e vede como ele vo-lo entrega!"
(Santo Afonso Maria de Ligório)
Nosso Senhor curva a cabeça e morre.
Os planetas, descrevendo no espaço um imenso círculo, voltam, ao fim de certo tempo, ao ponto de partida, como que para saudarem Aquele que os lançou na rota do Céu. Ele, que veio do Pai, volta a Seu Pai, proferindo estas últimas palavras: "Pai, nas vossas mãos encomendo o meu espírito." Foi preciso proceder a um duplo inquérito, para se ter certeza de que Ele estava bem morto.
Os planetas, descrevendo no espaço um imenso círculo, voltam, ao fim de certo tempo, ao ponto de partida, como que para saudarem Aquele que os lançou na rota do Céu. Ele, que veio do Pai, volta a Seu Pai, proferindo estas últimas palavras: "Pai, nas vossas mãos encomendo o meu espírito." Foi preciso proceder a um duplo inquérito, para se ter certeza de que Ele estava bem morto.
Um sargento do exército romano mergulha a sua lança num dos flancos de Jesus. Ele, que tantos testemunhos de amor acumulou em Seu Coração, de súbito os derrama nesta água e neste sangue: a água, símbolo da nossa regeneração; o sangue, preço da nossa redenção.
Cristo, Espada com que Ele próprio se mata, continua a ferir, mesmo depois da Sua morte. É ela que abre os tesouros que se transforma na nova Arca, onde podem entrar as almas que querem ser salvas do dilúvio do pecado.
Mas, depois de ter aberto os tesouros do Seu Coração, a Espada penetra em Maria. Simeão predissera que uma espada trespassaria a Sua alma; desta vez, ela lhe veio do flanco entreaberto de Seu Filho.
Literalmente para Jesus, metaforicamente para Maria, foi o trespassamento de dois corações com uma só lança. É esta simultaneidade das feridas, esta transfixão simultânea do Coração de Jesus e da alma de Maria, que nos une na adoração do Sagrado Coração de Jesus e na veneração do Imaculado Coração de Maria.
Nunca nos sentimos tão unidos na alegria como o somos na dor. Os prazeres da carne podem unir, mas neles se encontra sempre uma parte de egoísmo, porque o ego se transpõe no ego doutra pessoa, onde encontra a sua própria alegria. Mas, nas lágrimas e nas dores, o egocentrismo não existe: para outrem, só queremos bem.
Nesta sucessão de feridas, Jesus sofre por Sua Mãe que tanto deve sofrer por Ele, e Maria sofre por Seu Filho, pouco cuidando do que Lhe possa acontecer a Ele própria.
Quantas mais consolações tiramos das criaturas, menos recebemos de Deus.
... Nenhum ser humano pode consolar Maria na sua solidão; apenas Seu Filho o pode fazer. A fim de que as mães que perderam seus filhos nos campos de batalha e as esposas que perderam seus esposos no meio das alegrias de seu amor não fiquem sem consolação, fez Nosso Senhor de Maria a Sua consolação e Seu modelo, e tornou-se n'Aquele que é chorado.
Ninguém jamais poderá dizer: "Deus não sabe o que a gente sofre junto de um leito de morte; não conhece o amargor das minhas lágrimas." Esta sexta dor ensina-nos, pelo contrário, que, em tal provação, só Deus nos pode consolar.
Depois da rebelião contra Deus no paraíso terrestre, pelo abuso que o homem fez da sua liberdade, aconteceu que, um dia, Adão tropeçou no corpo de seu filho Abel. Trazendo-o a Eva, estende-o sobre os seus joelhos. Então, Eva falou a Abel - mas este não respondeu. Nunca eles o tinham visto assim. Levantaram-lhe os braços, mas estes novamente caíram. Então se recordaram do que lhes fora anunciado: "No dia em que comeres o fruto da árvore, morrerás". Era a primeira morte do Mundo.
Retornou o ciclo do tempo. O novo Abel, assassinado pela raça invejosa de Caim, desceu da Cruz e foi colocado sobre os joelhos da nova Eva, Maria. Para a mãe, o filho nunca cresce, é sempre pequenino que ela o vê. Maria deve ter pensado que Belém voltara: o Seu Menino tornara a sentar-Se nos Seus joelhos.
E um outro José ali estava; José de Arimatéia. Havia também a mirra e os perfumes para a sepultura, tudo coisas que Lhe recordavam os presentes do Magos... Que presságio de morte não fora a mirra dos sábios do Oriente! Mal um menino nascera e já o Mundo pensa na morte desse menino - e, aliás, com justiça, por Ele ser o único homem vindo ao Mundo, para neste morrer. Cada um de nós vem ao Mundo, para viver. Para Ele, a morte era a finalidade da Sua vida, era o fim que Ele queria alcançar.
Ai de nós!
Maria, aqui não é Belém: aqui é o Calvário. O Seu Corpo não é branco, como se viesse de Seu Pai, mas tinto de sangue, como se de nós saísse. Em Seu berço, era um cálice de oferenda, cheio de rubro sangue da vida. Agora, junto da Cruz, o Seu Corpo é um cálice vazio - vazio de todas as gotas de sangue que Ele verteu para a Redenção da Humanidade.
No estábulo não havia lugar para Ele. Morto, também não tinha onde repousar a Sua cabeça - a não ser nos braços de Sua Mãe.
Quando Nosso Senhor contava as Suas parábolas de misericórdia e principalmente a do Filho Pródigo, só ouvíamos falar do bom pai do filho pródigo. Porque será que o Evangelho guardou silêncio a respeito da mãe do Filho Pródigo?
Creio que a resposta está na dor de Maria.
Cristo é o verdadeiro Filho Pródigo.
Maria é a Mãe do Divino Pródigo que deixou a casa celeste de Seu Pai, para peregrinar em terra estrangeira- esta nossa Terra. Ele "dissipou os Seus bens", deu o Seu Corpo e o Seu sangue, a fim de podermos recobrar a nossa herança do Céu.
E, agora, caído entre os cidadãos dum país rebelde às vontades de Seu Pai, misturou-Se com as varas de porcos que são os pecadores. Depois, prepara-Se para voltar à casa de Seu Pai.
No caminho do Calvário, a Mãe do Filho Pródigo encontra-O. Neste instante, transforma-Se Ela na Mãe de todos os filhos pródigos do Mundo, preparando-os - pelos misteriosos ungüentos da Sua intercessão - para o dia tão longínquo, em que a vida e a ressurreição correrão nas suas veias, quando eles avançarem nas asas da manhã.
(Excertos do livro: O primeiro amor do Mundo - Arcebispo Fulton J. Sheen)
PS: Grifos meus
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