"O Coração de Jesus e o Coração de Maria
formaram um só no Monte do Calvário,
pela submissão à vontade do Pai.
Cada um tem a sua cruz no mundo,
mas não há duas cruzes que sejam idênticas.
A de Nosso Senhor era a Cruz da Redenção
para os pecados do Mundo;
para os pecados do Mundo;
a de Nossa Senhora foi uma vida inteira
de união com a Cruz."
de união com a Cruz."
A Cruz não une apenas os amigos de Nosso Senhor, mas também os Seus inimigos. Só os medíocres lhe escapam. Nosso Senhor era perfeitíssimo; perturbava as consciências, portanto devia morrer.
Os ladrões eram a maldade em pessoa; perturbavam a falsa segurança dos proprietários; deviam morrer. O Próprio Cristo anunciara que seria tirado da Terra, tal como a serpente de bronze de Moisés. Assim como os Israelitas, mordidos por serpentes venenosas eram curados pela simples vista desta – sem veneno -, assim também Cristo tomou a forma do homem – mas sem o veneno do pecado; e todos os que para Ele levantem os olhos serão curados do pecado que vem da serpente, como quem diz, do demônio.
Ninguém olha de mais perto a Cruz do que Maria. Nosso Senhor mergulhou a espada no Seu Próprio coração, porque ninguém Lhe tomou a vida: “Eu dou a minha vida...” De pé, como se fora um Padre, acabrunhado como se fosse uma Vítima, entregou-Se à iniqüidade do homem, de maneira a quem o homem pudesse fazer-Lhe todo o mal possível.
O pior que um homem pode fazer é matar Deus. Permitindo ao homem que chamasse contra Ele os Seus mais mortíferos meios, e impondo-lhe, em seguida, uma completa derrota pela Sua Ressurreição dentre os mortos, Cristo provou que o mal nunca sairia vitorioso.
Foi na medida em que ela tinha preparado o Padre para ser a Vítima, que a espada penetrou na alma de Maria, por ocasião da quinta ferida. A Sua cooperação foi tão real, tão ativa, que Ela se teve de pé, junto da Cruz. Todos os quadros que representam a Crucificação nos mostram sempre Maria Madalena prostrada aos pés do Salvador. Mas a Santíssima Virgem é figurada de pé. João, que também lá estava, tão impressionado ficou de A ver de pé, durante essas três horas, que assim o escreveu no seu Evangelho.
O paraíso terrestre foi desmoronado. Três fatos concorreram para a nossa queda: um homem desobediente, Adão; uma mulher orgulhosa, Eva; e uma árvore. Deus toma esses três elementos que levaram o homem à derrota, e deles se serve como instrumentos de vitória: o novo Adão obediente, Cristo; a mulher humilde, Maria; e a árvore da Cruz.
O paraíso terrestre foi desmoronado. Três fatos concorreram para a nossa queda: um homem desobediente, Adão; uma mulher orgulhosa, Eva; e uma árvore. Deus toma esses três elementos que levaram o homem à derrota, e deles se serve como instrumentos de vitória: o novo Adão obediente, Cristo; a mulher humilde, Maria; e a árvore da Cruz.
Demoremo-nos na quinta dor, para considerar a seguinte particularidade: Nosso Senhor pronunciou, sobre a Cruz, sete palavras que foram como que as sete notas de um hino fúnebre. Por outro lado, só sete palavras de Maria o Evangelho referiu. Não quer isto dizer que Ela só tivesse falado sete vezes, mas que apenas sete vezes se Lhe fez menção. A propósito de cada uma das palavras de Jesus moribundo, o coração de Maria levava-A a recordar as palavras que Ela própria pronunciara, e a Sua dor ganha intensidade na medida em que Ela vê aprofundar-se o mistério d’Aquele que devia ser “um objeto de contradição”.
Primeira
A primeira expressão de Nosso Senhor na Cruz foi esta: “Perdoai-lhes, Pai porque eles não sabem o que fazem”. Não é a sabedoria do Mundo que salva, mas a ignorância. Se os carrascos soubessem o que de horrível faziam, quando repeliam o Filho do homem; se, sabendo que Ele era o Filho de Deus, tivessem continuado deliberadamente a provocar-Lhe a morte, então não haveria esperança de os pecadores se salvarem. Foi por virtude da ignorância da blasfêmia que praticavam que eles foram chamados a ouvir cair sobre si as palavras de perdão, e a obtê-lo.
Esta primeira expressão lembra a Maria a Sua. Também Ela dizia respeito à ignorância. Quando o Anjo Lhe anunciou que ia ser Mãe do Filho de Deus, perguntara: “Como pode ser isso, se não conheci varão?” Ignorância, aqui, significava inocência, virtude, virgindade. Ignorância que se confessa não é ignorância da verdade, mas ignorância do mal.
Jesus perdoa aos pecadores que são ignorantes, mas não os anjos rebeldes que sabiam o que faziam e que, por conseqüência, se tinham colocado fora da Redenção. Maria é bendita, porque era ignorante do homem, devido ao Seu voto de virgindade.
As duas expressões unem-se aqui numa só dor para Jesus e para Maria: a dor de ver que os homens não possuem a verdadeira sabedoria, aquela que só às crianças é dada: eles ignoram que só Cristo os pode salvar.
Segunda
A segunda expressão de Cristo foi dirigida ao ladrão arrependido. Este começou por blasfemar contra Ele, mas, ao ouvir as palavras de perdão, ao ver a beleza de Sua Mãe, corresponde à graça; considera o seu castigo como “uma recompensa dos seus crimes”. A vista do Homem na Cruz central, obedecendo à vontade de Seu Pai, leva-o a aceitar a sua própria cruz, como provinha da vontade de Deus. E então lança ele um supremo apelo ao perdão, e Cristo lhe responde: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.
Esta magnífica aceitação dos seus sofrimentos, por parte do ladrão, para expiar as suas faltas, faz que Maria se lembre da outra palavra do Anjo. Quando este Lhe disse que Ela ia ser Mãe d’Aquele a quem Isaías descreveu como o homem batido e afligido por Deus, proferiu Ela a Sua segunda palavra: Fiat. “Faça-se em mim a Tua palavra”.Não há nada no Universo que mais importância tenha do que fazer a vontade de Deus, ainda que isso leve ao ladrão um suplício, e uma dor Àquela que se tem de pé junto da Cruz.
O Fiat de Maria foi uma dos grandes Fiats do Mundo: um fez a luz, o outro aceitou a vontade do Pai, no Jardim das Oliveiras. Quanto ao de Maria, traduz-se na aceitação de uma outra vida, em que Ela se esquecerá de Si própria, para ser a companheira da Cruz.
O Coração de Jesus e o Coração de Maria formaram um só no Monte do Calvário, pela submissão à vontade do Pai. Cada um tem a sua cruz no mundo, mas não há duas cruzes que sejam idênticas. A de Nosso Senhor era a Cruz da Redenção para os pecados do Mundo; a de Nossa Senhora foi uma vida inteira de união com a Cruz.
Quanto à do ladrão, consistiu em suportar a agonia na cruz, como prelúdio de uma coroa. Uma vez que a nossa liberdade é a única coisa que possuímos como própria, constitui a mais perfeita oferenda que a Deus podemos fazer.
Terceira
A primeira palavra de Nosso Senhor era para os seus carrascos; a segunda para os pecadores; a terceira foi dirigida a Sua Mãe e a São João. Palavra de saudação e, no entanto, mercê dessa palavra, todas as relações humanas foram modificadas. Jesus chama a Sua Mãe “Mulher”, e a João “Filho”. – “Mulher, eis ai o teu Filho.” – “Filho, eis aí a tua Mãe.” É a ordem dada a todos os que quererão segui-Lo, para que vejam em Sua Mãe a própria Mãe deles. Tudo o mais Ele o dera. Ia agora dar-Se também. Mas, naturalmente, voltaria a encontrá-La, como Mãe do Seu Corpo Místico.
A terceira expressão de Maria foi também uma saudação. Não sabemos com rigor quais as palavras que empregou, mas sabemos que ia visitar e cumprimentar sua prima Isabel. Nesta cena evangélica, havia também um João – João Batista – que proclamava Maria como Sua Mãe. Isabel, sentindo seu filho agitar-se de alegria em seu próprio ventre, fala, por sua vez, e dirige-se a Maria como “Mãe de Deus”. Dois meninos estabelecem relações ainda mesmo antes de nascerem!
Quando Jesus, na Cruz, proferia a Sua terceira expressão, pensava Maria na sua. Na Visitação, era portadora da influência de Cristo, antes mesmo de Ele ter nascido, por, no Calvário, estar destinada a ser Mãe de todos aqueles que quisessem renascer.
O nascimento de Jesus nenhuma dor Lhe causou. Mas o de João e de milhões de entre nós, ao pé da Cruz, tal agonia Lhe levaram, que Ela bem mereceu o título de Rainha dos Mártires. Jesus sacrificou-nos Sua Mãe, para d’Ela fazer nossa Mãe. Maria sacrificou o Seu Divino Filho, para de nós fazer Seus filhos. Triste troca! Mas Ela estava convencida de que valia bem a pena.
Quarta
A quarta palavra da Santíssima Virgem foi o Seu Magnificat; a quarta expressão de Nosso Senhor é tirada do salmo vinte e um, que começa com este desabafo de tristeza: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” – mas que, todavia, termina quase como o canto de Maria: “Os pobres começarão e ficarão saciados; os extremos da Terra se lembrarão do Senhor e a Ele adorarão.”
Os dois cânticos elevam-se, sem que seja dado nenhum sinal de segura vitória.
Como é fraca, quando a consideramos apenas pelo lado humano, essa Mulher mergulha os Seus olhares até ao fim dos tempos e que profetiza: “todas as gerações me chamarão bem-aventurada!” E como, pelo lado humano, se nos afigura sem esperança o desejo d’Aquele que ao mundo veio para se apoderar da Terra e que, repelido agora por ela, chama por Seu Pai!
Mas, para Jesus e para Maria, há tesouros na noite: para Maria, na noite duma Mulher; para Jesus, na noite do Gólgota.
Só aqueles que marcham na noite vêem as estrelas.
Quinta
A quinta expressão de Maria foi proferida quando Ela interroga Jesus: “Meu Filho! Porque procedeste assim conosco? Vosso pai e eu Te procurávamos aflitos.” É essa a expressão de todas as criaturas à procura de Deus. A quinta expressão de Nosso Senhor é a do Criador à procura do homem: “Tenho sede”. Não é a sede das águas da Terra, mas das almas.
As palavras de Maria resumem as aspirações de todas as almas em relação a Cristo, e as palavras de Cristo consubstanciam o Seu amor por cada uma das almas que Ele criou. Ora, no mundo, só existe uma coisa capaz de impedir esse encontro: é a vontade do homem. Para encontrar Deus, é preciso querer. Do contrário, Ele parecerá sempre que é um Deus que Se esconde.
Sexta
A sexta expressão de Maria tinha sido uma simples prece: “Eles não têm vinho”: palavras que apressaram Nosso Senhor a realizar o Seu primeiro milagre e a meter-Se no caminho real do Calvário. Depois de Nosso Senhor ter saboreado, na Cruz, o vinho que Lhe foi dado por um soldado, disse Ele: “Tudo está consumado.” Essa “Hora”, que Maria tinha, por assim dizer, começado, quando Cristo transmutou a água em vinho, está agora terminada: o vinho da Sua vida transformou-se em Sangue: o Sangue do Seu Sacrifício. Em Cana, Maria mandava Seu Filho para a Cruz; no Calvário, Cristo declara que terminou o Seu trabalho de Redenção.
O Coração Imaculado de Maria era o altar vivo sobre o qual o Sagrado Coração de Jesus se oferecia em Sacrifício, e Maria não ignorava que, a partir desse momento, os homens só seriam salvos pela oferenda do Filho de Deus.
Sétima
As últimas palavras de Maria, referidas pelo Evangelho, são as de abandono completo à vontade de Deus: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 11-5). Na Transfiguração, o Pai Celeste fala assim: “Eis o meu Filho bem-amado, escutai-O”.
E Maria lança este supremo apelo: “Fazei a Sua Vontade.” As últimas palavras de Jesus, na Cruz, foram aquelas pelas quais Ele abandonou a Sua vida à vontade de Deus: “Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito.”
Maria abandonou-Se a Jesus, e Jesus abandonou-Se a Seu Pai. Fazer a vontade de Deus, até à morte, tal o segredo de toda a santidade.
E aqui Jesus nos ensina a morrer, porque se Ele quis ter Sua Mãe junto de Si, na suprema hora do Seu grande abandono, como nos atreveríamos nós a deixar de dizer, diariamente:
“Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém” ?
(O Primeiro Amor- Arcebispo Fulton J.Sheen – Quinta ferida)
(O Primeiro Amor- Arcebispo Fulton J.Sheen – Quinta ferida)
PS: Grifos meus
PS: Ver também: Feridas anteriores