quarta-feira, 10 de março de 2010

Pequenas mortificações na vida da donzela cristã

Pequenas mortificações na vida da donzela cristã



Grãozinho de areia...

Dia por dia (a prudente jovem) foi se impondo um ato de mortificação totalmente desinteressado. Ora privava-se de um passeio ou de uma simples voltinha agradável; ora, entre dois caminhos, escolhia o menos agradável. De uma poltrona cômoda passava a sentar-se numa cadeira; cessava de ler, juntamente quando a curiosidade começava a despertar-se.

Aparentemente era de pouco valor o que ia fazendo.

Entretanto, nisso firmou-se a energia da heroína que ela soube mostrar diante dos rudíssimos golpes da vida. Houve sadia e cristã filosofia por parte da jovem, que não fez pouco desse exercício da vontade. Os grãozinhos de areia são, isoladamente, coisa anódina. Reunidos, formam as dunas, que enfrentam a fúria do mar e lhe detêm o avanço pela terra a dentro.

Pequenas contrariedades feitas à tua vontade, leitora, formarão essa duna contra a qual os vagalhões de paixões resolutas e teimosas irão se quebrar, cantando no embate o teu triunfo de cristã prudente. Não faças pouco das pequenas mortificações...

Os pequenos defeitos e as pequenas virtudes!

Nem um nem outro devem ser tratados com ares de pouco caso. As vinhas não perecem sob as patas de animais. Morrem vítimas de um ser microscópico: a filoxera. Os corais insignificantes - até no meio do mar! - formam suas ilhas indestrutíveis. Os formidáveis diques da Holanda são combatidos, não pelo elementar vigor das ondas, mas por um inseto que já vinte vezes pôs em périgo o país.

Atos de grande virtude, de heroísmo moral, são raros. Nascem de circunstâncias especiais e têm a vida toda para palco e escolha da hora de sua realização.

Ocasiões para praticar pequenas virtudes não faltam dentro das horas de cada dia e nas dobras de conversa. A prática contínua de pequenas virtudes supõe uma paciência real e uma grande reserva de energia.

Receber polidamente os importunos, não apoquentar-se com os mal educados, não ceder à tentação de criticar ordens, fechar os olhos sobre desatenções habituais... eis aí, senhorita, uma pequena e grande virtude.

Até o sorriso contínuo pode muito bem ser a prova da virtude que tens. Parece ser o clarão da chama que dentro de ti arde e se consome pelo bem.

(Excertos do livro: Audi Filia! Formação para moças - Pe. Geraldo Pires de Souza)