São Paulo da Cruz
Nosso novo padroeiro
A Paixão de Jesus o transforma
Supera de muito as nossas débeis forças o que nos resta dizer a respeito de São Paulo da Cruz. Para cantar as maravilhas que iremos referir neste capitulo, fora necessário a lira do Anjo e o coração do Serafim. Balbuciaremos apenas algumas palavras.
Ó Jesus Crucificado, que de portentos não operais com vossos santos! Paulo foi sempre serafim de amor. Com o transcorrer dos anos essas labaredas cresceram tanto, a ponto de transformar-se em verdadeiro incêndio. Ao meditar os padecimentos do Redentor, abismava-se o santo naquele oceano sem praias nem fundo.
Flexas de amor transpassavam-lhe o coração e ele chorava copiosamente. Os colóquios com Jesus Crucificado comoveriam corações de pedra. Ouçamo-lo:
“ Ó meu amado Redentor, que se passava no vosso Coração divino durante a flagelação?! ”
- Ou: “Oh! que aflição, que agonia vos causavam os nossos pecados, as minhas ingratidões!... Por que não morro também por vós? ” .
Chamava-o de “ Meu Soberano Bem, O Celeste Esposo de minha alma..."”
Em suma, a dor e o amor encontravam expressões que, para traduzi-las, fora mister dar às palavras asas de fogo. E das expressões nasciam os desejos: sofrer e morrer pelo Amor Crucificado. Essas aspirações levavam-no aos delíquios da embriaguez espiritual e do êxtase.
Ao refletir:
“ Um Deus açoitado!... um Deus crucificado!... um Deus morto por meu amor!... ” , quedavam-se-lhe todas as potências da alma; o espírito já não formulava nenhum pensamento; somente o coração se absorvia no silêncio interior, suprema expressão da caridade.
Jesus, então, o atraía, comunicava-lhe de maneira inefável as próprias dores, fazia-o desfalecer de altíssima suavidade, submergindo-o no âmago do seu divino Coração. Duravam pouco essas operações da graça: os frutos, porém, como sejam, amor mais ardente a Jesus Crucificado e fome insaciável de padecer, perduravam por largo tempo.
Nas desolações espirituais, não pedia lenitivo: ao contrário, temia privar-se desses ricos tesouros. O frio, o calor, a fome, a sede, todos os incômodos físico. Eram-lhe doces refrigérios. Suportava-os com imensa alegria, chamando-os
“ Penhores do amor divino, pedras preciosas para o seu coração ” .
... Certo dia, com Jesus Eucarístico no coração, foi arrebatado em sublime êxtase. Abismado no Soberano Bem, prelibou por instantes os inefáveis encantos do amor e, associado à Humanidade do Verbo, teve sensível conhecimento da Divindade...
Compreendeu, além do mais, ser Jesus Crucificado a porta soberana do amor, a transformação da alma em Deus e o aniquilamento no Infinito.
“Por esta porta é que devemos entrar, - diz santa Teresa - se quisermos que a divina Majestade nos revele grandes segredos ” (Autobiografia da santa, cap. XXVII). Intuíu outrossim como a alma, do puro amor de Deus, desce novamente, se assim nos podemos exprimir, a Jesus Crucificado. Penetrou tanto este segredo, chegando a enunciá-lo com linguagem divina:
“A alma abismada toda no puro amor, sem imagens, em fé pura e simples, permitindo-o Deus, vê-se de repente submersa no das dores do Salvador e, num só relance da fé, contempla-os todos sem operação do entendimento, por ser a Paixão de Jesus Cristo obra exclusiva do amor. A alma perdida por completo em Deus, que é caridade, que é amor, transforma-se num inefável amálgama de amor e de dor. O espirito penetra-se de ambos esses sentimentos, vendo-se submerso no amor doloroso e na dor amorosa... ”
As chamas de amor reverberavam-se-lhe no rosto, no corpo tudo, chamuscando-lhe a túnica na parte que tocava o coração. Se tais eram as chamas desse amor, qual lhe não seria a impetuosidade?
Sentia contínuas e dolorosas palpitações de coração, sobretudo às sextas-feiras: indizível martírio que o fazia prorromper em furtivas lágrimas e gemidos, sempre solícito em ocultar os dons celestes. O coração, pelas violentas palpitações, não se conteve nos estreitos limites do peito, dilatando duas costelas; fenômeno que não se pode explicar naturalmente, na opinião do sábio médico Del Bene, que o observara no retiro de Vetralla, quando tratou o nosso santo.
Aliás, outras testemunhas do fato prodigioso atestaram-no com juramento no processo de Canonização. Paulo sempre passou a noite de quinta para sexta-feira santa de joelhos, imóvel, ante o ss. Sacramento exposto, a meditar os padecimentos e a morte ignominiosa do Salvador. Numa dessas noites, enquanto desabafava o amor em torrente de lágrimas, Jesus gravou-lhe no coração o EMBLEMA sagrado, semelhante ao que trazia sobre o peito, com os instrumentos da Paixão e as dores de Maria. A partir desse momento, intumesceu-se-lhe o peito, dilatando extraordinariamente a cavidade que encerra o coração.
Afirma o dr. Giuliani com juramento que não só viu, mas tocou as três costelas prodigiosamente arcadas, não tenda a menor dúvida da sobrenaturalidade do fato.
(Excertos do livro - A vida de São Paulo da Cruz - Pe. Luis Teresa de Jesus Agonizante)
PS: Grifos nossos