Dois aspectos da maternidade
A Maternidade humana tem dois aspectos: trazer ao mundo uma nova vida, o que pressupõe a cooperação de um pai; e trazer ao mundo uma nova personalidade ou seja um novo "eu", o que implica a cooperação de Deus...
A mãe, em ambos os desempenhos, como geradora de vida física, e como cooperadora de Deus, está trabalhando pela sua própria salvação. A maternidade, mesmo em seu aspecto puramente físico, tem uma propriedade salvadora, pois a Escritura afirma que a mulher encontrará sua salvação na geração da prole (Timóteo 2,15).
A mãe é também glorificada em seus filhos, que espelham pelas suas vidas afora a graça de Deus que através dela lhes foi concedida. São os filhos que tornam as mães famosas; ao deparar com um filho digno, havará sempre quem exclame, como fez, entre a multidão, a mulher que gritou para Cristo: "Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos a que foste amamentado" (Lucas 11,37(.
A mãe é duplamente benfeitora da humanidade: preserva-lhe a vida física e defende-lhe a vida moral.
Por meio da vida, e das altas qualidades dos filhos que gerou, ela é um desafio constante que o universo apresenta à morte...é depositária das realidades eternas. É bem possível, hoje em dia, que as mulheres que têm tanto horror a ter filhos vejam apenas a maternidade no seu primeiro aspecto de mera procriação, e não no seu segundo aspecto de cooperação com Deus, para maior difusão do Seu Reino e maior glória do Seu Corpo Místico.
A maternidade perde metade de sua beleza, quando considera o nascimento como um mero processo biológico e desconhece o ponto de vista teológico. Se o amor for apenas um entendimento entre marido e mulher, e não uma cooperação entre homem, mulher e Deus, - então ele perde grande parte de seu encanto.
Diz Santo Tomás: "É muito melhor e mais belo unir-se àquilo que é superior, do que preencher as falhas do que é inferior".
A mulher não é uma restauradora de ruínas; ela é, antes de mais nada, uma cooperadora de Deus. Anexando à sua cooperação com o homem, a sua cooperação com Deus, ela reafirma mais uma vez o segredo do casamento: são necessários três elementos ao amor: homem e mulher, como princípios geradores, e Deus, para insuflar a alma imortal.
Limitação da prole
A limitação da prole é uma decisão deliberada e consentida por parte dos esposos, a fim de negarem a Deus a possibilidade de criar um novo ser à sua imagem e semelhança. É a vontade humana opondo-se livremente à vontade divina, da mesma forma que certos sistemas agrícolas controlam propositadamente a produção da terra, a bem de um maior aproveitamento econômico. O non serviam de Lúcifer teve seu efeito catastrófico sobre a Criação, e principalmente sobre aqueles que dizem:
"Recuso-me a aceitar de Deus a Sua Santa Vontade, que é a multiplicação, pois Nosso Senhor, referindo-se aos dons inaproveitáveis, disse: Tire-se dele o talento".
A opinião médica mais corrente hoje em dia é atribuir as psicoses e neuroses femininas a essa fuga da maternidade. Uma mulher que tivesse uma árvore plantada em seu jardim, não iria todas as noites cortar com a tesoura cada pequenino galho que pudesse crescer sobre o telhado. Essa mulher sabe que o normal é que a árvore espalhe seus galhos ela também sabe que uma determinada limitação de galhos, ou seja, permitir que a árvore de um novo galho apenas cada cinco anos, seria prejudicial tanto às árvores como aos galhos.
Essa limitação acabaria por matar a árvore. Estatisticamente falando, é aliás o que acontece. De cada seis casos de divórcio, cinco são de casais que não tiveram filhos.
Maternidade: Heroísmo contínuo
... Em nossas vidas cristãs individuais, muito de nós cuidamos separadamente da alma e do corpo. Muitos dias são dedicados à melhoria de nosso físico: muito poucos minutos são reservados para os cuidados espirituais.
A maternidade é um lembrete de que as melhores vidas são aquelas em que o desenvolvimento físico e espiritual caminham simultaneamente, como acontece com uma mãe educando seu filho: ambos crescem juntos. Justamente por causa da alma, há um desenvolvimento físico a cada instante.
A mãe cristã é como Simeão, que tomou em seus braços, o Infante Divino, com seus quarenta dias de idade. Mas o verdadeiro aspecto da questão, não é que ele tenha sustentado a Criança, mas sim que a Criança o tenha sustentado.
Da mesma maneira a mãe verá que não só fisicamente ela carrega a criança, como também a criança, composta de corpo e alma inseparáveis, serve-lhe de sustentáculo. O novo ser que ela abriga em seu ventre, vem de Deus, da mesma forma que a graça vem à alma através de Deus. Essa verdade espiritual é inseparável do desenvolvimento físico da vida dentro do seio materno.
... Quando finalmente dá à luz, a mãe verdadeiramente cristã esforça-se para que o desenvolvimento físico e moral de seu filho caminhem simultaneamente, a fim de que a criança, sadia de corpo, seja continuamente vivificada por uma vida espiritual intensa, o que provará ao mundo que a santificação do corpo da alma é simultânea.
Os pensamentos elevados e dignos que tiver uma mãe grávida, afetarão beneficamente o filho de suas entranhas, da mesma maneira que os sustos e os choques lhe serão prejudiciais.
São tremendos os efeitos psicológicos que o amor produz sobre o próximo. A mãe que gera o filho por amor, consciente de estar obedecendo ao preceito divino e desincumbindo-o de uma missão sagrada, verificará em sua vida a veracidade das palavras de Nosso Senhor:
"Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos a Ele, e faremos Nele morada" (João 14,23). E a seguir, a criança lhe servirá de suporte, o que é a última prova do amor de Deus pela mãe...
A mãe é como a terra na qual se desenvolvem as sementes da adolescência.
O Evangelho nos fala de quatro tipos de mães:
"E quando semeava, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, e vieram as aves do céu e comeram-na. Outra parte, porém, caiu em lugar pedregoso, onde não havia muita terra; e logo nasceu, porque não tinha profundidade de terra. Mas, saindo o sol, queimou-se; e porque não tinha raiz, secou. Outra parte caiu entre os espinhos; e cresceram os espinhos e a sufocaram. Outra parte enfim, caiu em boa terra, e frutificou: uns grãos renderam cento por um outros sessenta, outros trinta. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça" (Mt. 13,4-9)
Como depositária das sementes, a mãe se entrega completamente a Deus, dizendo como Maria: Ecce ancilla Domini. "Eis aqui a Serva do Senhor".
A terra apresenta uma submissão passiva às sementes, muito embora tenha que submeter-se ao sacrifício da escavação e do plantio. Ao passo que a submissão da mulher é inteiramente feita à base de sacrifício. Uma mulher tem muito maior capacidade de sacrifício do que o homem. O homem é capaz de heroísmo, em uma explosão momentânea e apaixonada de coragem.
Mas a mulher é heróica através dos anos, dos meses e às vezes até dos segundos da vida cotidiana, embora o caráter de repetição monótona de seus esforços possa dar-lhe a falsa aparência de banalidade. Não apenas seus dias, também suas noites, não apenas seu espírito, também seu corpo, participam do Calvário da Maternidade. Por conseguinte, a mulher tem melhor compreensão da redenção do que o homem, pois ela se acerca mais da morte, ao gerar a vida.
Na mãe estão reunidas as duas grandes leis espirituais, que em outras pessoas, são extrínsecas e separadas: o amor do próximo e o amor do sacrifício.
Todos os seres humanos, a não ser as mães, amam o próximo quando amam algo fora deles próprios. Mas o próximo para uma mulher grávida, está dentro dela própria e por ela deve ser amado. Geralmente se entende por sacrifício aquilo que se realiza fora da carne, mas o sacrifício da mãe é parte integrante de sua própria carne.
Não sendo um sacerdote, levando Deus aos homens e os homens a Deus. Leva Deus aos homens formando o corpo em cuja alma o Poder Divino já está presente. Conduz os homens a Deus pelo renascimento batismal, no qual ela oferece seu filho a Cristo. Reflexo terreno da maternidade de Maria, também a mãe pode ser glorificada com um Ave-Maria terreno!
Ave, Maria.
Ave, Mãe.
Cheia de graça!
Cheia de vida; um corpo, produto do amor do marido pela mulher; uma alma, produto do amor de Deus.
O Senhor é convosco!
Deus está com as mães. "Aquilo que fizerdes a quem quer que seja, o estais fazendo a Mim".
Bendita sois entre as mulheres.
Toda mulher sofre um apelo à maternidade, seja física ou espiritual. Uma mulher será tanto mais feminina, quanto mais cristã ela for. Uma mulher será tanto mais esposa, quanto mais ela for mãe.
E bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
E bendito é o fruto do teu ventre - João, Pedro, Maria, Ana. "Bendito seja aquele que vem em nome de Deus".
(Excertos do livro: O mistério do Amor - Arcebispo Fulton J.Sheen)
PS: Grifos meus.