segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Princípios da vida de intimidade com Maria Santíssima - Parte 3


“Tendo um mesmo decreto eterno decidido ao mesmo tempo a Encarnação e a Maternidade divina,
o Cristo e a Virgem são inseparáveis na obra da salvação”.
Padre Júlio Maria, 
Princípios da vida de intimidade com Maria Santíssima


Convém notar com efeito que a intercessão da Santíssima Virgem não é somente atual, sem antecedentes.

Sua parte na distribuição da graça é a consequência do papel que ela teve em sua aquisição.

Não há senão um Mediador entre Deus e os homens, o Cristo Jesus.

Somente ele era capaz de uma reparação que igualasse à ofensa, só ele podia, em rigor de justiça satisfazer e merecer pela humanidade decaída. Mas esta ação principal não exclui de modo algum a ação universal de Maria Santíssima.

O Salvador podia excluir todo e qualquer auxiliar. Não o quis, porém; associou-se á Virgem Santíssima, sua Mãe, para completar a obra redentora.

Dela ele quis receber a vida física e por ela quer ser gerado nas almas, para que a Virgem Santíssima fosse ao mesmo tempo a Mãe de seu corpo natural e de seu corpo místico.

É pois Maria Santíssima quem está encarregada de nos gerar como irmãos de Jesus.

É de sua plenitude, depois da plenitude do Senhor, que devemos ser enriquecidos. Daqui a proposição clássica que “todas as graças nos vem por Maria”.

Falando do papel da mediação da Virgem Santa, em bom número de autores encontram-se bastantes inexatidões e mais ainda obscuridades; daí uma noção inexata acerca da graça no espírito das almas piedosas, assim também como de sua ação e do papel da Virgem Santa na distribuição da mesma graça.

É por isso que quisemos tratar até o amago esta questão, apresentando-a sob todas as formas, para faze-la brilhar com todo seu esplendor, porque é ela sobretudo que nos mostra a grandeza da Imaculada e a necessidade de recorrer a ela.

Na SS. Virgem há com efeito uma dupla grandeza: a de Mãe de Deus; esta é o cume, é a que a aproxima de Deus. Mas há uma outra, derivada desta primeira, que a aproxima de nós: é a plenitude de sua graça e por conseguinte seu papel de mediação. Plena sibi, superplena nobis, dizem os teólogos.


Convém notar bem: aqui é que se encontra precisamente o ponto obscuro em certas obras de piedade: Maria não é Medianeira, senão porque é Cheia de Graça.

Com efeito, pode-se conceber – e é o que fazem certas almas – uma medianeira ou tesoureira independente do que ela trata ou distribui.

Assim uma pessoa serve de intermediária entre dois inimigos, para os reconciliar; ela mesma fica completamente fora do fato, intervem, reconcilia, sem dar coisa alguma de si mesma, a não ser palavras de paz, explicações amáveis.

Um tesoureiro, encarregado de dar esmola, tratar de negócios ou de pagar contas, tira do cofre de seu patrão, sem dispender do que é seu. Ele também permanece fora do negócio que faz.

E quantas vezes já não se representou a Santíssima Virgem sob este aspecto? Não a consideram muitas vezes como uma simples intermediária – como tesoureira das misericórdias divinas, - colocando-a fora do fato... e não permitindo a sua intervenção nesta obra de reconciliação e de perdão senão como uma simples “empregada” ?

Ora, nada de mais falso e desastroso á verdadeira devoção para com a digna Mãe de Deus e dos homens.

Pensando bem, ver-se-ia que esta maneira de encarar o papel da SS. Virgem é soberanamente injurioso ao Salvador, rebaixa a Santíssima Virgem em vez de engrandece-la, e está em pleno desacordo com a sã teologia e a doutrina da Igreja.

Deus em suas obras nada faz de incompleto, nem por intervalos.

Sua sabedoria as concebe e realiza em uma unidade magnífica de plano, onde todas as partes se harmonizam desde o princípio até o fim: Atingens a fine usque ad finem.

Já que, entretanto, ele quis servir-se de Maria na obra da Redenção, é necessário que ele continue associando-a a si em todas as aplicações desta obra, das quais a maior e a mais importante, é a comunicação da graça.

Esta estreita e falsa concepção, que admite o Filho de Deus, nascido da Santíssima Virgem, e rejeita em seguida a mesma Virgem que lhe deu á luz, é herética, mas a Igreja Católica, guarda da verdade, proclama bem alto e repete em todos os tons que toda a série dos mistérios do Cristo em parte alguma o Homem-novo, o Adão Celeste, está sem a mulher, nem a mulher sem o Homem.


É para faze-lo sobressair claramente que a Igreja chama a SS. Virgem: Mãe dos homens, Co-redentora, Medianeira, Tesoureira e distribuidora das graças.