Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
VIII-
Do temor de Deus
O
temor de Deus é o princípio da sabedoria.
«Ensinai
à criança desde a sua mais tenra mocidade, escrevia Bossuet, e por assim
dizer, desde o berço, o santo temor de Deus.» Com esta virtude, vir-lhe-ão ao
mesmo tempo, todos os outros bens.— «Não é efetivamente, pergunta Mgr.
Dupanloup, este temor religioso que inspira à criança o amor do trabalho, a
pureza dos costumes, a docilidade, o respeito para convosco, e o respeito para
com ele próprio? Que é o pudor, tão belo e tão puro na fronte da mocidade, tão
santo e tão nobre nos olhares da idade madura, tão venerável sob os cabelos
brancos do velho, senão a mais elevada delicadeza do respeito, e do temor de
Deus?... Sejam quais forem os defeitos, direi mesmo os vícios naturais de uma
criança.... se nós pudermos abrir o seu coração ao amor e ao temor de Deus,
tudo se torna fácil, com o tempo e com a paciência, e então espero tudo, não
só pelo presente, mas especialmente pelo futuro.»
Lê-se
nos livros santos que o patriarca Tobiasy tendo tido um filho a que deu o seu
nome, ensinou-lhe a temer a Deus, desde a infância, e a abster-se de todo o
pecado.» Mais tarde, este santo velho julgando a morte próxima, chamou o filho
e disse-lhe: — «Escuta meu filho, as palavras do teu pai: conserva Deus no teu
espírito todos os dias da tua vida, e guarda-te de consentir em algum pecado e
de violar os preceitos do Senhor. Passamos, é verdade, uma vida pobre, mas
teremos muitos bens, se temermos a Deus, e fugirmos de toda a iniquidade.»
Não
é assim que raciocinam hoje alguns pais indiferentes. Conservando por seus
filhos, não sei que solicitude, preservando-os com cuidado do certas
desordens, que o próprio mundo sabe exterminar, nada lhes dizem, acerca do
respeito que devem a Deus e à Sua lei. Insensatos! edificam sobre areia, vêem
menosprezada a sua autoridade, que só o temor de Deus pode fazer respeitar, e
deixam os seus filhos, sem defesa, contra os ataques do demônio, do mundo e da
carne ! «Ai das educações, exclama o ilustre bispo de Orleans, a que não
preside o santo nome de Deus, e onde raras vezes se fala nele.» Ai das mães que
não sabem inspirar o temor de Deus a seus filhos! Preparam para si próprias um
cálice de amargura bem cheio de lágrimas e de dores!
Devem,
pois, as nossas leitoras aproveitar a ocasião de falar muitas vezes a seus
filhos na grandeza de Deus, no Seu poder, na Sua glória e na Sua infinita
majestade.—-«Oh! meus filhos, lhes dirão, Deus é o rei imortal dos séculos.
Ouvindo o Seu nome, todos os joelhos se dobram, nos Céus, na terra e no
inferno. Milhões de anjos obedecem, tremendo, às Suas ordens; com três dedos
sustenta a terra. Criou tudo com uma só palavra, e com uma só palavra, tudo pode
destruir. A Sua imensidade enche o universo.»
Como
nada há que seja mais capaz de imprimir no coração o temor de Deus como o
quadro do juízo final e a descrição dos suplícios eternos do inferno, uma mãe
cristã, reunindo os filhos sobre os joelhos, ou em volta dela, dir-lhes-á com a
força, que só a fé viva sabe inspirar: «No fim do mundo, meus filhos, ao som
estrepitoso da trombeta final, ressuscitarão todos os homens. O Senhor enviará
os Seus anjos, que os reunirão todos no vale de Josafat. Aí aparecerá Jesus
Cristo, o Filho de Deus, feito homem, que virá sobre as nuvens com grande poder
e majestade, assentado sobre um trono brilhante e cercado de todos os anjos que
lhe farão cortejo. Ao lado de Jesus Cristo se assentarão, para julgar com Ele
o mundo os doze Apóstolos que anunciaram o Seu Evangelho. Então serão abertos
os livros, em que estão escritas todas as ações dos homens, todas as suas
palavras, todos os seus pensamentos. Os justos verão todas as suas boas obras
manifestadas aos olhos do universo, e ouvirão essa feliz sentença, que fixará a
sua felicidade eterna: «Vinde benditos de meu Pai, possuir o reino que vos foi
preparado desde o princípio do mundo».
«Mas
qual não será a confusão dos maus, quando virem desvendados aos olhos dos anjos
e dos homens todos os crimes da sua vida, até os cometidos em segredo, os
pensamentos e os mais recônditos sentimentos! O Senhor revelará a sua vergonha
às nações e a sua ignomínia aos reinos! Serão um objeto de horror para os
anjos, para os homens, e até para eles próprios. Não sabendo como fugir ao
olhar irritado de Jesus Cristo, que não terão forças para impedir, gritarão às
montanhas: Caí sobre nós e escondei-nos, sepultai-nos sob as vossas ruínas.
Será tudo em vão, porque a terrível sentença: Retirai-vos de mim, malditos: ide
para o fogo eterno que foi preparado para o demônio e seus anjos, os sepultará
para nunca mais morrerem, e para sofrerem sempre, nos abismos do inferno.
«Ó
meus filhos, o inferno ! Sabeis o que é o inferno? O inferno é a privação de
todos os bens, e o conjunto de todos os males. A criança que tiver a desgraça
de cair neste golfo, onde habita um eterno horror, estará privada de seus pais,
de sua mãe que ela amava, de seus amigos, de todos e de tudo que lhe poderia
trazer alguma consolação. Estará separada de Deus, o soberano bem das almas,
separada de Maria, sua mãe do Céu. Só terá por sociedade os demônios, seres
degradados e horríveis à vista, que o atormentarão sem cessar, e se
encarniçarão em fazê-lo sofrer. E aí, com todos os malvados do mundo, que
morreram sem fazer penitência, com os blasfemos, os sacrílegos, os assassinos,
os ladrões, apenas será rodeado de trevas, e verá um fumo espesso misturado com
chamas. Ouvirá blasfêmias, choros e ranger de dentes; e sentirá cheiros
insuportavelmente fétidos. De todos os lados será cercado de chamas; nadará
num tanque de fogo, donde nunca poderá atingir as extremidades exteriores; este
fogo o devorará sem o consumir; viverá sempre e nunca ninguém lhe irá levar uma
gota de água, para mitigar uma sede ardente, de que será atormentado. Meus
filhos, temei a Deus, e os Seus julgamentos. Quem poderá habitar com esse fogo
devorador? Quem resistirá à cólera de Deus?
Estas
lições, repetidas com unção, e a propósito, incutirão no ânimo das crianças o
temor da justiça divina. É bom, porém, evitar, que à mais leve travessura, à
mais desculpável desobediência, se ameace logo a criança com os suplícios do
inferno; porque isso seria contraproducente. E seria falsear a consciência
duma criança, ameaçando-a, do que por uma leve falta, atraía sobre si os
castigos eternos de Deus. Só o pecado mortal é que abre o inferno à alma.