Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
VII
- Da obrigação de incutir cedo a virtude à criança
Já
atrás observamos que contentarem-se os pais com ensinar à criança as verdades e
os deveres do cristianismo, sem lhes fazerem compreender o espírito, sem lhes
incutirem a prática da lei de Deus, seria uma obra muito incompleta. Também,
depois de ter ordenado à mãe que instruísse os seus filhos, Deus acrescenta:
Cultivai-os e vergai-os sob o jugo da virtude, desde a mais tenra mocidade. É
preciso efetivamente começar cedo esta cultura do coracão, porque é tanto mais
fácil ensinar para o bem as crianças, quanto elas são mais novas e mais tenras.
Além disso, as primeiras impressões que recebe a criança são as mais vivas e as
que ficam mais tempo gravadas no coração. É como um vaso novo, que conserva
sempre o cheiro do primeiro líquido que conteve. Fénelon queria que se
formasse a criança para a virtude, mesmo antes de falar.
«Talvez
pensem que exagero, escrevia ele, mas basta considerar quanto, nesta idade, as
crianças procuram as pessoas que as afagam, e evitam as que as contrariam, e
como elas sabem gritar e calar-se, para lhes darem aquilo que desejam. Pode-se,
pois, coligir que elas conhecem desde então mais, do que de ordinário se
imagina. Pode-se, pois, logo nessa idade por gestos, inspirar-lhes o amor das
pessoas virtuosas e o horror dos defeitos que mostram as outras crianças. Esses
princípios não se devem desprezar.»
Ocupando-se
com inteligência das crianças, desde os mais tenros anos, reprimindo-lhes os
primeiros movimentos das paixões, implantando na sua alma, como numa terra
própria, os germens das virtudes, não hesitamos em afirmar com o imortal
arcebispo de Cambrai: — «Por pouco que o seu natural seja bom, podem-se tornar
meigas, pacientes, firmes, alegres e tranqüilas; se, porém, se despreza esta
educação na primeira infância, tornam-se ardentes e inquietas durante toda a
sua vida. Formam-se os costumes; o corpo ainda tenro, e a alma sem outros
recursos, voltam-se para o mal. Forma-se neles uma espécie de segundo pecado
original que é a origem de mil desordens quando elas crescem. É dessa forma que
as silvas nascem e crescem num campo inculto, o quanto mais fértil é o terreno,
mais más ervas produz, não sendo cultivado; enquanto que o mais ingrato
terreno produz frutos, sendo bem cultivado, e a árvore estéril dá frutos, sendo
enxertada.
A
mãe de S. Francisco de Sales tanto tinha sabido inspirar a virtude a seu
filho, desde o berço, que esta santa criança pedia, por meio de gestos e
olhares, esmola para todos os pobres que encontrava, de sorte que a ama era
obrigada a trazer sempre fruta consigo. Um dia, que ela não tinha nada que
desse a uma criancinha pobre, que encontraram, Francisco obrigou-a a
oferecer-lhe o seio, e sustentou, muito alegre, com as suas mãozinhos, a cabeça
dessa criança, enquanto ela sucava o leite da sua ama. Quando, mais tarde foi
bispo de Génebra. Francisco de Sales recomendava à santa senhora do Chantal,
que tivesse grande zelo em apoderar-se, sem perder tempo, dos pensamentos de
seus filhos, e de suas afeições nascentes, a fim de os virar para Deus. Segui este
conselho, piedosas mães. Hoje, muitas crianças recebem logo as funestas
tentações do vício, que facilmente se poderiam ter evitado, fazendo voltar cedo
todas as suas afeições para o bem. São os frutos que o lavrador procura fazer
produzir no seu campo; prefere-os as mais brilhantes flores.
Longe de vós,
pois, a loucura dessas mulheres que põem todo o seu zelo em ensinar galanteios
aos filhos, ou a prática de deveres estéreis do mundo, sem pensarem em fazer-lhes
participar dos frutos das virtudes cristãs. — «Mas dirão talvez algumas das
nossas leitoras, não pretendemos fazer os nossos filhos padres. S. Crisóstomo
responde-lhes: — «Não é necessário efetivamente que todos os vossos filhos
sejam padres ou religiosos; mas exorto-vos a fazê-los cristãos, levando-os, por
palavras e exemplos, a conformarem a sua vida com as máximas do cristianismo. É
esse para vós um dever, tanto mais imperioso, quanto mais vivamente desejardes
que eles vivam no mundo, onde encontrarão tantos perigos, de que os preservaria
a solidão de um claustro. Um navio, navegando, no meio do mar, não carecerá
mais urgentemente de um leme e de um piloto, do que o que está ancorado no
porto, ao abrigo dos ventos e das tempestades?