Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
IV- Instrução
religiosa; sua necessidade
Nada
mais acrescentamos acerca da instrução intelectual, porque não é essa a que
hoje mais escasseia. Os pais que a não receberam na sua mocidade, lamentam
vivamente essa falta; os que a receberam, por sua própria experiência lhe
reconhecem as vantagens, e todos à porfia a querem procurar para seus filhos.
Mas
há uma outra espécie de instrução, sobre que devemos mais insistir, porque é
mais necessária, e mais desprezada que a instrução intelectual: queremos falar
da instrução religiosa.
É
a mãe obrigada em consciência a dar ou a mandar dar a seu filho uma instrução
cristã? Não hesitamos em responder: É; é a isso obrigada, é esse um dos mais
graves e dos mais sagrados dos seus deveres. Em quantas passagens dos nossos
santos Livros, reitera Deus aos pais a ordem de instruir os seus filhos nas
verdades e nas práticas da religião? «Instruí vosso filho para que ele vos não
leve ao desespero» está escrito no livro dos Provérbios. E noutra parte:
«Instruí vosso filho, e educai-o com cuidado, afim de que vos não cubra de
confusão». E ainda num outro sítio: «Instruí vossos filhos, e desde a sua mais
tenra idade, vergai-o sob o jugo da lei de Deus». Os santos doutores,
intérpretes da palavra divina, dizem aos pais, com S. João Crisóstomo: «Não te
esforces em fazer do teu filho um sábio, mas fá-lo instruir, de forma a fazer
dele um cristão. Vós sois, ó pais, os apóstolos de vossas famílias, pertence-vos
governá-los e instruí-los». Os vossos lábios são os livros onde os vossos
filhos devem encontrar o conhecimento dos seus deveres de cristãos.
«Sem
a fé, disse o grande Apóstolo, é impossível agradar a Deus» e, por
conseguinte, sem ela, é impossível à criança viver da vida da graça. Mas como
terá fé essa criança, se não foi instruída nas verdades reveladas? Além disso,
a fé sem as obras, é morta, e incapaz, por conseguinte, de abrir o Céu a
ninguém. É pois necessário que a criança, ao mesmo tempo que aprende as
verdades da fé, seja formada na prática dos deveres, que ela impõe. Mas a quem
pertence dar o conhecimento da verdade, e dos costumes virtuosos, senão a seus
pais, e sobretudo a sua mãe? Encarregada de fornecer aos filhos o pão de cada dia, não o é também a mãe de lhe ensinar a doutrina santa? Ela, que
é o guia, desde o berço, para os costumes da vida, não tem também o dever de formá-lo
para a vida sobrenatural e divina? Se ela deixasse de cumprir esta nobre
tarefa a criança seria ordinariamente condenada a morrer na ignorância; porque,
como se sabe, o pai não tem muitas vezes zelo, senão para os interesses
terrestres e mortais. Mas num século em que a fé se não alimenta, senão com
dificuldade, mesmo nas almas mais seriamente instruídas, sendo, como é, atacada
pelos discursos e pelos livros ímpios, que nos aparecem de toda a parte, que
seria da criança, que não tivesse recebido educação religiosa? Cegas são, pois,
as mulheres, que não procuram dar a seus filhos, senão a ciência do mundo, e os
conhecimentos profanos; como se a ciência da salvação não fosse a única
necessária, e como se o conhecimento de Deus não fosse de todos o mais nobre, e
o mais estimável. Mães insensatas, que não compreendem, que a importância
exclusiva dada hoje à instrução científica e literária, não forma senão homens
enervados e viciosos, isto é, muito maus cidadãos. Esta observação é de um
homem a quem a experiência revelou as chagas do nosso século[1].
Só a instrução
religiosa é capaz de fazer homens virtuosos. Assim o compreenderam todas as
santas mães cristãs, que deram eleitos ao Céu. S. Francisco de Sales, não
sabendo ainda ler, sabia já todo o catecismo, «porque M.me de
Boisy, sua mãe, escreve M. Hamon, ao mesmo tempo que lhe ensinava o alfabeto,
se aplicava ainda mais a dar-lhe a inteligência das santas verdades, por meio
de claras explicações e de variadas comparações; e a inspirar-lhe o espírito
da lei de Deus, isto é o amor e o temor filial; enfim a explicar-lhe a prática
por seus exemplos, e por suas palavras.» A mãe de Santa Rosa de Viterbo estava
atenta a vigiar o primeiro despertar da inteligência de sua filha, para a virar
para Deus. E, para que objetos piedosos fixassem os primeiros olhares desta
criança, tinha cuidado de rodiar o seu berço de imagens e de estátuas.
Todos
os dias Virgínia Bruni consagrava uma hora inteira a explicar o catecismo a
seus filhos. Mesmo muito doente, encontrava no zelo materno bastante força e
energia, para exercer sem interrupção, este piedoso ministério. À quem insistia
com ela, para tratar da sua saúde : — «O meu primeiro dever, respondia, é
instruir meus filhos, e este dever não cessarei de o cumprir, até ao meu último
suspiro.»
Nota:
___________________
[1]
«Coisa deplorável, acrescenta ele: as estatísticas dos hospitais e das prisões
da Europa demonstram que as enfermidades, a alienação mental, o suicídio e os
outros crimes aumentam com a instrução e o pretendido progresso das luzes
(Doutor Descureis).