quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A Mãe segundo a vontade de Deus/ V- Duas verdades que se devem ensinar às crianças - 1.ª Parte

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927


V- Duas verdades que se devem ensinar às crianças - 1.ª Parte

Dar à criança a instrução religiosa, é no sentido lato que damos a esta palavra: 1.° instruir ou fazer instruir essa criança nas verdades, que todo o cristão deve saber e acreditar; 2.° exercitá-la na prática das virtudes cristãs; 3.° formá-la para usar dos meios de salvação com que Jesus Cristo engradeceu a Sua Igreja.

Entre as verdades da nossa augusta religião, há algumas, cujo conhecimento é tão necessário, que é absolutamente impossível a qualquer homem, que tem uso de razão, ser salvo, ignorando-as. Estas ver­dades são: em primeiro lugar a existência de um Deus, que recompensa os bons, deixando-Se ver, e possuir por sua alma, tal qual é; e que castiga os maus, governando tudo por Sua Providência; e de­pois, segundo a opinião mais provável dos doutores, os mistérios da Santíssima Trindade de um só Deus, em três Pessoas; da Encarnação ou do Filho de Deus feito homem; da Redenção, ou de Jesus Cristo morto na cruz, para resgatar todos os homens. Todos devem saber também a necessidade da graça e da oração, e a imortalidade da alma.


Estas primeiras verdades devem ser ensinadas à criança logo após as primeiras manifestações da sua inteligência; porque, ai dela, se, tendo já uso de razão, viesse a morrer, antes de ter adquirido estes conhecimentos, tão necessários à salvação! Ah! quantas crianças, por culpa de suas mães, che­gam aos sete anos, e mesmo até mais tarde, sem saberem os principais mistérios da fé, e sem conhe­cerem, por conseguinte, a grande misericórdia que Deus testemunhou aos homens, enviando-lhes o Seu divino Filho, para os resgatar, por Seus sofrimentos, morte e paixão! Pobres crianças! No momento em que estas grandes verdades se imprimiriam profun­damente no seu espírito, e no sou coração, são con­denadas a ignorá-las, enquanto que tudo o que as cerca, conspira a ensinar-lhes o mal.

Não será inútil traçar aos nossos leitores um método fácil de ensinar às crianças a doutrina cristã.

Desde que a criança começa a compreender a língua da mãe, é preciso falar-lhe de Deus; porque estudará e amará o mal, se não a ensinardes primeiro a conhecer e a amar o bem. Mostrai-lhe, seguindo o conselho de Fénelon, os pedreiros construindo uma casa, e perguntai-lhe se essa casa poderia edificar-se por si própria. — «Não» responderá ele. Fazei-lhe ver depois, provocando-lhe o espanto e a admiração, a grandeza do mundo, a elevação do Céu, as montanhas e as planícies; e quando o seu espírito estiver absorto com estas maravilhas da criação, perguntai-lhe se essas belas coisas se poderiam fazer por si próprias, sem haver ninguém que as fizesse. — «Não, minha mãe» dirá ele. Explicar-lhe-eis então quem foi o artista que fez essas obras maravilhosas, que foi um Deus onipotente e infinitamente grande, que fez tudo com uma só palavra: o Céu e a terra, com tudo quanto existe. Para lhe incutirdes depois o dogma da Providência, ensinai-lhe que tudo quanto se passa no mundo, se faz por vontade ou permissão de Deus. Mostrai-lhe uma flor, dizendo-lhe que foi Deus que a fez abrir. Quando o sol nasce, fazei-lhe notar que foi Deus que suspendeu essa bela alâmpada nos ares. Quando a morte leva algum de nós, quando nasce uma criança, quando o trovão brame, ou quando a noite expulsa o dia, quando a chuva ou a neve caem na terra, dizei-lhe que é por ordem de Deus, que tudo acontece, e que Ele dispõe de todas as criaturas, como a criança dispõe dos seus brinquedos.

Acrescentai que este Deus é soberanamente justo; que, assim como uma mãe castiga o filho que se não porta bem, e o acarinha quando é obediente, assim Deus castiga os que O ofendem, e enche de favores os que O amam e servem, e que no Céu se deixará ver aos bons, tal qual é, durante toda a eternidade, isto é, sempre. Mas, para ir para o Céu, preci­samos dum socorro especial de Deus, que se chama a graça; e para obter a graça, é necessário pedi-la a Deus, por meio da oração.

Depois destas primeiras lições, que repetireis sempre, passareis ao mistério da Santíssima Trindade. Não há senão um único Deus, meu filho, e nem podia haver muitos; mas neste único Deus há três pessoas distintas, que são: o Padre, e Filho e o Espírito Santo. O Padre não é o Filho; e o Filho não é o Espírito Santo; mas o Padre é o mesmo Deus que o Filho e o Espírito Santo. Estas três Pessoas só fazem um Deus, puro espírito, como os Anjos que não podemos ver, nem tocar, porque não têm corpo, como os homens. O teu pai, meu menino, é maior e mais velho do que tu, mas em Deus, o Padre, o Filho e o Espírito Santo têm o mesmo poder, a mesma eternidade, e as mesmas perfeições infinitas.

Pegareis depois num crucifixo, mostrá-lo-eis respeitosa­mente à criança, e far-lhe-eis contemplar com espanto e compaixão a coroa de espinhos e as chagas do Salvador. Perguntai depois quem foi que tanto sofreu, e quem foi tão cruelmente maltratado. A criança não saberá responder, mas vós acrescentareis: — «Foi o Filho de Deus, uma das três pessoas divinas, que, sendo um puro espírito, tomou corpo e alma como nós, para sofrer e morrer por nós, e fazer-nos me­recer a felicidade de ver a Deus.» Não deixeis de acompanhar estas palavras dessa unção que dá a piedade cristã, e segui este conselho: todas as vezes que falardes das coisas santas, nunca o façais, senão com gravidade e convicção. É triste ver uma mulher dizer que Deus é bom e que é preciso amá-lO, mas rindo, ou brincando, como se dissesse: Olha que linda boneca!

Quando a criança tiver compreendido estas primeiras verdades, passareis a outras, que qualquer cristão não pode ignorar, sem pecar mortalmente, a menos que não comprove a impossibilidade de as aprender. Vamos expô-las brevemente, por ordem de sua necessidade, ordem que bem fareis em seguir, quando instruirdes os vossos filhos.

A profissão de fé, que começa por estas palavras:


Creio em Deus, e que cada fiel recita todos os dias na oração, encerra doze artigos que a mãe deve mandar decorar a seus filhos, explicando-lhes o sentido; porque, é preciso aqui dizê-lo, erram todas as pessoas que julgam terem cumprido a sua obrigação, quando conseguem intro­duzir na memória de seus filhos uma série de palavras, recitadas, sem inteligência, nem devoção. Para facilitar a missão das mães cristãs, vamos dar uma curta explicação do Símbolo.

(Continuará no próximo post)