Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
Eu
creio: isto é, estou firmemente convencido das verdades que vou professar.
Estou certo de que não erro, crendo-as, porque me foram ensinadas por Jesus
Cristo, o Filho de Deus, que não pode enganar-Se, nem enganar-nos; porque a
razão nos faz compreender, e o próprio Deus nos ensinou, que é a perfeição
infinita. Estas verdades foram depois ensinadas pelos apóstolos, os amigos de
Jesus Cristo, que receberam de Deus o privilégio de não poderem nem enganar-se,
nem enganar os homens, privilégio de que goza hoje, e de que gozará até à
consumação dos séculos a santa Igreja Romana, isto é o Papa, e os Bispos
conjuntamente com ele, porque Jesus Cristo prometeu estar com eles até ao fim
do mundo, afim de os preservar de todo o erro.
A divindade de Jesus Cristo, e
da Sua Igreja, têm afinal sido demonstradas pelos maiores milagres, atestados
pela história mais certa, e tem convertido os maiores incrédulos; também todos
os apóstolos e os santos mártires acreditaram e acreditam o que Deus revelou e
a Igreja ensina.
Creio
em Deus: isto é, estou certo que Deus existe, que há um só Deus, e que este
Deus é o fim de toda a criatura.
Creio
em Deus Padre, a primeira pessoa da Santíssima Trindade. O Seu poder não tem
limites. Fez do nada, por Sua única vontade, o Céu, a terra, e tudo quanto
existe.
Creio
em Jesus Cristo, como creio em Deus Padre. Creio que é Filho verdadeiro de
Deus, a segunda pessoa da adorável Trindade, o mesmo Deus que o Pai. É o nosso
soberano Senhor, e o Seu poder estende-se sobre todas as criaturas.
Sei
e creio que o mesmo Filho de Deus Se fez homem, tomou um corpo e uma alma como
nós, sem deixar de ser Deus. Não nasceu à maneira dos outros homens, porque não
teve, como homem, pai verdadeiro. Por obra do Espírito Santo, o Seu corpo foi
formado no seio de Maria, a mais pura das virgens, que o deu à luz, sem dor,
duma forma milagrosa.
Este
mesmo Jesus Cristo padeceu durante trinta e três anos a pobreza e os
sofrimentos, sobretudo no tempo de Póncio Pilatos, governador da Judeia.
Pregaram-Lhe as mãos e os pés numa cruz, por meio de grossos cravos, e morreu
neste afrontoso suplício. O Seu corpo, separado da Sua alma, foi metido no
sepulcro. A Sua alma desceu ao lugar em que as almas dos justos, mortos antes
da vinda do Salvador, esperavam que Ele fosse livrá-las e abrir-lhes o Céu,
até então fechado, pela desobediência de Adão.
No
terceiro dia depois da sua morte, reuniu-se a alma ao corpo, e saiu vivo e
glorioso do sepulcro, para subir ao Céu quarenta dias depois, pela virtude da Sua Onipotência. No Céu está sentado sobre um trono à direita de Deus, e acima
de todas as criaturas. Um dia virá, em que Ele aparecerá sobre as nuvens, com
grande majestade e poder, para julgar todos os que foram resgatados pelo Seu
sangue, isto é, os justos e os pecadores, todos os que morreram depois de Adão
até ao fim dos tempos, e os que estiverem vivos no fim do mundo.
Creio
no Espírito Santo, da mesma maneira que creio no Padre e no Filho. É a terceira
pessoa da Santíssima Trindade, igual ao Padre e ao Filho, e o mesmo Deus que o
Padre e o Filho. —Creio que há uma só verdadeira Igreja de Jesus Cristo, que é uma
sociedade de verdadeiros fiéis servindo a Deus, como Ele quer ser servido; o Papa
é o seu chefe visível, e todos nós lhe devemos obediência. Assiste-lhe o Espírito
Santo e ela não pode enganar-se no que nos manda acreditar, e não manda fazer,
senão o que é justo. É santa em Jesus Cristo, seu chefe invisível, santa na sua
doutrina, santa nos sacramentos, santa num grande número dos seus membros. Os
santos do Céu, os católicos da terra e as almas do Purgatório fazem todos parte
da Igreja de Jesus Cristo. Os santos do Céu, e as almas dos justos da terra
podem auxiliar-nos com as suas orações. As nossas boas obras tendem a aliviar
as almas do Purgatório. É a isso que se chama a comunicação dos santos. — Creio
que Jesus Cristo deu à Sua Igreja o poder de perdoar os pecados, e fora da
Igreja os pecados não podem ser perdoados. — No fim dos séculos os corpos de
todos os homens hão de unir-se às respectivas almas, e nunca mais se separarão.
Creio que depois do julgamento há de haver uma vida eternamente feliz para os
justos e uma vida eternamente infeliz para os réprobos.
Aquele
que nos revelou o que devemos crer, também nos ensinou o que devemos fazer para
merecer o Céu. Deus deu dez mandamentos a Moisés, sobre o monte Sinai, onde fez
brilhar o Seu poder por meio de trovões e relâmpagos que encheram de espanto o
povo de Israel, reunido ao pé da montanha. A Igreja declarou que estes dez
mandamentos são obrigatórios para todos os fiéis, e todos, por conseguinte os
devem conhecer. Eis aqui em resumo o que cada um destes mandamentos nos proíbe
e nos prescreve:
1.º
Amar a Deus sobre todas as coisas.
Este
primeiro mandamento obriga-nos à prática das virtudes da fé, da esperança, da
caridade e da religião.
Peca-se
contra a fé: negando uma só que seja, das verdades que a Igreja nos manda
acreditar; alimentando no nosso espírito alguma dúvida acerca de qualquer
dessas verdades; deixando decorrer muito tempo, sem fazer atos de fé; e
proferindo palavras ou lendo escritos que ataquem a religião.
Peca-se
contra a esperança: desconfiando da Providência; murmurando contra ela;
desesperando de se corrigir dos seus defeitos ou de chegar à vida eterna;
pensando que será salvo sem o socorro da graça, ou sem as boas obras; e adiando
para outra ocasião a sua conversão, sob o pretexto de que Deus é
misericordioso.
O
amor que devemos a Deus deve levar-nos a nunca aborrecer este soberano bem de
nossas almas, a evitar que O sirvamos com tibieza, e a obrigar-nos a recitar
freqüentes atos de caridade.
A
religião ordena-nos que prestemos a Deus o culto que Lhe é devido, convida-nos
a honrar os santos, e principalmente a Santíssima Virgem, Mãe de Deus.
Obriga-nos também a orar.
À
religião proibe-nos que prestemos à criatura o culto que só se deve prestar a
Deus; que tenhamos costumes e conversas supersticiosas, e que procuremos
conhecer o futuro, ou a fazer coisas maravilhosas, por intermédio do demônio. É
um sacrilégio maltratar as pessoas consagradas a Deus, ou profanar os lugares
santos; é também um sacrilégio tratar com desprezo as relíquias, as imagens, e
principalmente receber os sacramentos sem as disposições necessárias.
2.º
Não jurar o nome de Deus em vão.
Este
segundo mandamento ordena-nos que respeitemos o nome adorável de Deus. Condena
a blasfêmia, os juramentos falsos ou injustos, o costume de certificar o que
se afirma, por juramento, erguendo a mão ou de qualquer outra maneira, e enfim
a violação dos votos que se fizeram, ou a negligência em cumprí-los.
3.º
Guardar domingos e festas de guarda.
Este
terceiro mandamento obriga-nos a ouvir missa aos domingos, e dias santificados,
abstendo-nos nesses dias de obras servis.
4.º
Honrar pai e mãe.
Os
meninos devem a seus pais amor, respeito e obediência. Tornam-se culpados aos
olhos de Deus, desejando mal aos autores da sua vida, não lhes assistindo nas
suas doenças ou necessidades, dirigindo-lhe palavras injuriosas, batendo-lhes,
ou recusando fazer aquilo que eles lhes mandam. Devem também respeito e amor ao
sacerdote, e aos mestres que são a seu respeito os representantes de Deus.
5.º
Não matar.
Devemos,
pelo amor que temos a Deus, amar todos os homens, como nossos irmãos, visto que
foram feitos à imagem e semelhança de Deus; devemos assistir-lhes nas suas
necessidades, e desejar a salvação de todos. A cólera, a inveja, a discórdia,
a avareza que rejeita os rogos do pobre, o ódio, o desejo da vingança, e o
homicídio são crimes que este quinto mandamento condena. O escandaloso, que
induz uma alma ao pecado, é mais culpado ainda que o assassino. — Devemos
conservar a nossa vida, porque só Deus é Senhor dela. Faríamos mal, se
desejássemos a morte por impaciência, e seria um grande crime dá-la a nós
mesmo, antes que Deus nos quisesse retirar deste mundo. Quem despreza a salvação
da sua alma, e persevera muito tempo no pecado mortal, torna-se também culpado
perante Deus.
6.º
e 9.º Guardar castidade. — Não desejar a mulher do teu próximo.
Estes
dois mandamentos proibem-nos todo o pensamento, todo o desejo, toda a palavra,
todo o olhar e toda a ação que fira a modéstia e o respeito, que devemos à presença
de Deus.
Condenam
também indiretamente a ociosidade, o excesso no beber e no comer, e todas as
ocasiões perigosas que suscitam facilmente pensamentos ou ações pecaminosas.
7.º
e 10.º Não furtar.— Não cobiçar as coisas alheias.
Nunca
nos apossemos, senão daquilo que nos pertence; entreguemos os objetos que acharmos
às pessoas que os perderam; paguemos as nossas dívidas o mais breve possível.
Não desejemos mesmo apropriar-nos, por meios injustos, do que não possuímos; este
desejo é condenado pelo décimo mandamento.
8.º
Não levantar falso testemunho.
Por
este oitavo mandamento, proíbe-nos Deus as mentiras, os juízos temerários, a
maledicência, as calúnias, os falsos testemunhos, e em geral tudo o que se diz
ou se faz, com a intenção de enganar, especialmente, quando por esse meio, se
atenta contra a honra, ou contra a reputação do próximo.
A
Igreja, isto é o Papa e os Bispos, a quem Deus nos mandou obedecer, impôs-nos
leis que devemos conhecer e respeitar.
1.º
Ouvir missa inteira aos domingos e festas de guarda.
Obrigação
grave, por conseguinte para todo o fiel que chegou à idade da razão, de ouvir
missa e de se abster das obras servis, nos dias santificados, assim como nos
domingos: entendendo-se que ouve missa inteira o que assiste à leitura do
Evangelho, e se conserva daí em diante com todo o respeito e humildade,
pensando na morte e paixão do Divino Redentor.
2.º
Confessar-se, ao menos, uma vez cada ano.
É
um pecado mortal ficar mais de um ano, sem se confessar, desde que uma pessoa
entra no uso da razão, sobretudo sentindo a consciência sobrecarregada com
alguma falta grave.
3.º
Comungar pela Páscoa da Ressurreição.
Obrigação
grave de receber o bom Deus, na comunhão, ou, pelo menos, no tempo pascal,
desde que qualquer pessoa já fez a sua primeira comunhão.
4.º
Jejuar, quando manda a Santa Madre Igreja.
Todas
as pessoas que têm vinte e um anos completos, devem, se não tiverem razões
legítimas que as dispensem desta obrigação, não tomar senão uma única refeição,
durante quarenta dias da quaresma, as quatro têmporas e as vigílias dos
Apóstolos, e de algumas grandes festas.
5.º
Não comer carne às sextas-feiras e sábados.
Não
se pode, sem pecado, comer carne à sexta-feira e ao sábado, depois dos sete
anos completos, a menos que se não tenha obtido uma legítima dispensa.
Para
observar os mandamentos, carecemos do socorro de Deus. Sem a graça, somos como
uma criança que cai a cada instante, se a mãe a não ampara, ou como um doente
tão enfraquecido que não pode fazer o menor movimento, sem ser auxiliado por
mão estranha. O Senhor estabeleceu dois meios para obter a graça, a saber: a
oração e os sacramentos.
Deus
mandou-nos orar, e prometeu conceder-nos tudo o que Lhe pedíssemos. A primeira
e a mais importante de todas as orações é o Padre-Nosso; a mãe deve ensiná-lo
de cor a seu filho, e explicar-lhe o sentido.
Meu
Deus, o Pai e o Criador de todos os homens, Vós que reinais nos Céus — que o Vosso
nome seja conhecido, respeitado e abençoado por todos os Vossos filhos. Reinai
sobre todas as almas, pela Vossa graça! E reinemos nós conVosco um dia na
glória! Os anjos do Céu, ó meu Deus, são fiéis em executar as Vossas ordens;
observem, pois, todos os homens a vossa lei, com tanta fidelidade, como os
anjos! Dai-nos hoje a graça, esse pão que sustenta as nossas almas. Dai-nos
também a alimentação, de que carecemos para o nosso corpo. Perdoai-nos todos os
pecados que cometemos, como nós perdoamos tudo aos que nos ofenderam. Não permitais
que fiquemos expostos ao perigo de Vos ofender. Amparai-nos, quando nos
inclinarmos para o mal; livrai-nos das tentações do demônio, nosso inimigo, e
de tudo quanto nos pudesse acontecer de mau, quer seja para o corpo ou para a
alma.
Inútil
seria recomendar a uma mãe cristã que ensinasse a seu filho a Saudação
angélica, ou o Ave-Maria, etc.
Há
sete sacramentos, que são; o batismo, a confirmação, a comunhão, a penitência,
a extrema-unção, a ordem e o matrimônio.
Sacramento
é um sinal sensível, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para produzir a
graça e santificar-nos.
Toda
a criança que nasce, vem incursa no desagrado de Deus, em conseqüência do
pecado original que Adão, por sua desobediência, transmitiu a todos os homens.
O Batismo, o mais necessário de todos os sacramentos, lava o pecado original, e
faz-nos filhos de Deus e da Igreja. Para administrar o sacramento do Baptismo,
derrama-se água natural sobre a cabeça da pessoa que se batiza, tendo a
intenção de fazer o que faz a Igreja, e dizendo ao mesmo tempo : — «Eu te batizo
em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo.»
Toda
a pessoa pode batizar, em caso de necessidade.
Depois
do batismo, o mais necessário dos sacramentos é a Penitência, ou a confissão.
Vamo-nos confessar, para obter o perdão dos nossos pecados. Em vez, porém, de
encontrar a graça e a amizade de Deus, cometeria um sacrilégio quem, ao
confessar-se, ocultasse voluntariamente um pecado mortal, ou não tivesse um
pesar sincero de todas as faltas graves, de que se acusa, e a firme resolução
de nunca mais as cometer.
O
mais augusto de todos os sacramentos é a Eucaristia, que contém real e
verdadeiramente o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, sob as aparências do pão e do vinho. A hóstia que o sacerdote coloca sobre
a língua dos que vão comungar, é o Filho de Deus, feito homem. Para, pois, se
receber a Deus condignamente, é preciso estar em jejum, e não ter pecado mortal
na consciência. Seria um enorme sacrilégio, receber Jesus Cristo numa alma,
manchada por uma culpa grave. Sobre o altar, durante a santa Missa, Jesus
Cristo Se imola, para a glória de Seu Pai, como foi imolado outrora no monte
Calvário.
A
confirmação é um sacramento que nos dá o Espírito Santo, com a abundância das Suas
graças, que nos torna perfeitos cristãos, e nos dá a força de confessar a fé
de Jesus Cristo, mesmo à custa da nossa vida.
Para
receber dignamente este sacramento, é preciso também estar em estado de graça.
Os
nossos leitores compreenderão a utilidade desta exposição das principais
verdade da fé.
Fomos
pouco extenso acerca deste importante assunto; mas, para não sermos muito
prolixo contentamo-nos em indicar o livro da Educação das meninas, que
fornecerá pormenores muito práticos, sobre este ponto. As Horas de Piedade,
editadas pela editora desta obra também melhor do que qualquer outro livro
português poderá servir para este fim. O nosso mais ardente desejo seria que
este livro fosse lido no seio de todos as famílias. Terminamos, por estas
palavras do ilustre arcebispo do Cambrai: — «É preciso sem que apertemos muito
as crianças, fazer com que elas desde princípio, se afaçam a conhecer a Deus.
Fazei-as compenetrar das verdades cristãs, sem lhes permitir assomos de
dúvida». Temei ainda mais tornar-lhes penoso o estudo do catecismo, do que o do
alfabeto ou da gramática; «deixai brincar uma criança, e misturai a instrução
com o brinquedo, de forma que a sabedoria se lhe não apresente, senão por
intervalos, e com rosto risonho.» Imagens ou quadros representando as
principais verdades da religião, seriam um meio inteiramente fácil,
interessante e eficaz para instruir.
Se
houvesse mães que não pudessem dar a seus filhos o conhecimento das primeiras
verdades, e dos primeiros deveres da nossa santa religião, deveriam tratar de
os mandar instruir imediatamente, por alguma pessoa virtuosa. Em todas as
vilas e aldeias, e mais facilmente ainda nas cidades, podem-se encontrar almas
caridosas, que se julgam felizes, ensinando as criancinhas a conhecer a Deus. E
as nossas leitores fariam bem, podendo, se se aplicassem a esta obra, que as
escolas sem Deus tornam hoje, mais do que nunca, necessária.