sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Coração de Jesus

14ª Contemplação
O Coração de Jesus


(Revmo. Pe. Júlio Maria, missionário de Nª. Sª. do SS. Sacramento)

Prelúdios

Reepresentemo-nos a aparição de nosso Senhor a santa Maria Margarida Maria. Uma capela silenciosa: a humilde religiosa ajoelhada. O Santíssimo Sacramento exposto: de repente Jesus mostra-Se belo, majestoso, mas triste...

Ó Jesus, possa o meu coração compreender o que vêem os meus olhos, pois só o coração compreende o amor... e Vós vinde manifestar Vosso amor.

***

Escutemos a expressão de Jesus nesta aparição:

"Eis aqui este coração que tanto amou os homens, que nada poupou até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor, e Eu não recebo da maior parte senão ingratidões, por suas irreverências e seus sacrilégios, pela frieza e desprezo que eles têm para comigo neste Sacramento de amor. Mas o que mais me penaliza é que são corações que me são consagrados que me tratam assim."

(Revelações do sagrado Coração de Jesus a santa Margarida Maria)

Ó meu Jesus, eu não Vos conheceria senão parcialmente se não conhecesse o Vosso coração... Vosso coração!... oh! é todo Vós mesmo... Quando se chega a conhecer o Vosso Coração, tem-se a chave da Vossa bela e admirável fisionomia... Vosso Coração!...

É o amor! e o amor é a Vossa essência. Deus é amor! e quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus nele - Deus caritas est: et qui manet in caritate, in Deo manet et Deus in eo. (I Jo. 4,16)

Aqueles que não Vos amam é porque não Vos conhecem, pois Vós sois o amor - Qui non diligit, non novit Deum: quoniam Deus caritas est (ibid. 8)

E este amor é um fogo devorador - Etenim Deus noster ignis consumens est (Hb. 12,29), do qual não é possível aproximar-se sem experimentar o calor e sentir-se atraído - Et in caritate perpetua dilexi te: ideo attraxi te, miserans (Jr. 31,3).

Oh! permiti, então, que eu Vos contemple, pois este coração que manifestais a Santa Margarida é o mesmo coração que já tínheis sobre a terra. A glória nada lhe mudou.... sua natureza é a mesma, apenas seu estado é diferente.

Se agora, na beatitude, que Vos retira toda a faculdade de sofrer, Vos apresentais com um semblante tão triste, com o coração ferido, falando com a voz onde tremulam lágrimas, não fazeis mais do que mostrar o que éreis sobre a terra. As aparições representativas do passado reproduzem no espírito a imagem do que foi.

Os sofrimentos que aturastes são sempre Vossos, e se não são sofrimentos atuais, não são menos sofrimentos reais que Vós aproximais do fato que os causou. Assim, todas as Vossas palavras guardam Sua verdade... todas as Vossas aflições têm direito ao nosso pesar e à nossa compaixão... Se nós vo-la recusamos nesta hora, para Vós será como se nunca as tivésseis recebido de nós, por quem e para quem sofrestes.

A grande lição que Vosso Coração me dá é amor e a reparação.

E o que pedis é o amor e a reparação: e amor do sacrifício! As ternuras de meu coração e as lágrimas de meus olhos!

Ó Jesus, eu me prostro diante desta revelação de amor, de sensibilidade humana, que me diz tudo. Vós, então, sentis como nós... Vós amais do mesmo modo que nós!

Não me venham fazer a enumeração raciocinada e glacial das qualidades de Vosso coração: É inútil e é demasiado! Eu as conheço melhor e as amo mais, quando Vos vejo chorar junto ao túmulo de Lázaro. Vós, um Deus, em quem tudo é sincero.

Et lacrymatus est Jesus. Dixerunt ergo Judaei: Ecce quomodo amabat eum (Jo. 11,36)

Vejo estas lágrimas entumescerem as Vossas pálpebras e afogarem Vossos olhos... sigo-as ao longo de Vossa face e julgo vê-las correrem ainda... até às minhas pobres misérias!... Não tendes Vós o mesmo coração? E minhas misérias são elas menores?... Eu também não sinto necessidade de ser amado?

E depois, tenho visto outras lágrimas, lágrimas cruéis, capazes de desarmar o céu e de enternecer a terra. Jerusalém estava diante de Vós e além, todas as faltas dos homens... as minhas em particular... Vistes tudo isso e contemplastes demoradamente cada uma de minhas negligências!

Videns Civitatem flevit super illam (Lc. 19,41)

Chorais, ó Jesus!... Poderíeis indignar-Vos, vingar-Vos!... mas não, preferís chorar! Deveis vencer, mas vencereis por Vossas lágrimas! ... e esta vitória é mais gloriosa do que vencer abatendo pobres seres como nós!....

Vossas ameaças, ó Jesus, teriam feito de nós seres amedrontados... Vosso castigos, seres infelizes... Vossas lágrimas transformaram-nos em seres que amam! Eu quereria contemplá-las, estas lágrimas vertidas sobre minhas faltas, que Vós sentis tão vivamente... Este grito de angústia que Vos escapa é uma verdadeira revelação para nós, almas religiosas:

"O que mais me penaliza é que são corações que me são consagrados que me tratam assim!"

Ó Jesus, mostrai-me estas faltas, estas tibiezas, estas indiferenças que Vos entristecem e Vos fazem chorar!... Eu quero evitá-las, custe o que custar!

Não sou eu um destes corações que Vos são consagrados e que Vos fazem chorar?... Choráveis sobre Lázaro ressuscitado por Vossas  lágrimas e Vossa oração?... Choráveis sobre Jerusalém, por causa de sua ingratidão, de sua infidelidade; de sua indiferença... mas estas lágrimas estenderam-se muito além da cidade deicida... e vieram cair sobre minha alma, para despertá-la, excitá-la e estimulá-la na santidade!...

E eu não soube corresponder a tanto amor: Eis por que vieste reavivar estas emoções de Vossa vida terrestre, na aparição a santa Margarida Maria.

Ó Jesus agradeço-Vos me terdes mostrado o Vosso coração amante, sensível e triste!... Esta cena mostra-vos todo inteiro... possa eu tê-la sempre diante dos olhos, pois o que não pode o raciocínio, as lágrimas o fazem num instante.

Ó Virgem amante, Vós que tão perfeitamente compreendestes o Coração de Jesus, fazei-me compreendê-lo também. Abri-mo afim de que ele seja meu refúgio e meu asilo em todas as dificuldades!...

(Contemplações evangélicas doutrinais e morais sobre a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Revmo. Pe. Júlio Maria)

PS: Mantenho os grifos do autor.