terça-feira, 22 de junho de 2010

A beleza de Jesus

6ª Contemplação


A beleza de Jesus

Prelúdios:

Contemplemos Jesus à idade de 33 anos, na época de começar a Sua Paixão... É de uma beleza majestosa, a fronte alta, o olhar doce, a fisionomia delicada, de estatura mediana, de gesto calmo, de porte digno e paternal...

Ó Jesus, quanto desejaria ver-Vos nesta idade!... Eu o posso pela contemplação!... Oh! colocai-Vos diante de mim, afim de que eu possa formar uma idéia de Vossa beleza humana, iluminada de beleza divina!...

O salmista já cantava a beleza de Jesus. (Sl. 44, 3 e 5)

3 - Vós sois o mais belo dos filhos dos homens... a graça espalha-se sobre os Vossos lábios: é por isso que Deus Vos abençoou por toda a eternidade.

5 - Ide, prosperai pelos caminhos e reinai por Vossa beleza e Vossos atrativos.

Ó Jesus, antes de iniciar a contemplação de Vossas instruções e de Vossa Paixão, eu sinto a necessidade de recolher-me, de colocar-me bem em presença de Vossa pessoa divina, para observá-la, contemplá-la e gravar no meu espírito e no meu coração Vossos traços inefáveis...

A beleza tem para nós atrativos irresistíveis... E quando a beleza moral se une aos reflexos de beleza física, nós sentimos em nós uma impressão de simpatia e de ternura, que deixa por vezes traços indeléveis.

É um destes traços que eu queria imprimir na minha alma, imprimi-lo em caráteres de fogo, afim de que no decurso destas contemplações eu Vos tenha continuamente no espírito, afim de que eu possa ler no Vosso olhar os sentimentos de Vossa alma e os desejos do Vosso coração.

A fase de Vossa vida, que eu quero contemplar aqui, é aquela em que a Vossa pessoa, a Vossa fisionomia e os Vossos gestos atingiram a plenitude da idade, da expressão, da dignidade... principalmente da beleza que nós estimamos ver aureolar a fronte daqueles que nos são caros.

Como éreis belo, Jesus, na idade de 33 anos, ao termo de Vossa vida apóstolica, à hora de começar a vossa Paixão - belo de uma beleza majestosa e doce.

Segundo o aviso profético. "Vós sois o mais belos dos filhos dos homens" - Speciosus forma prae filius hominum, diffusa est gratia in labiis suis (Sl. 44,3). E de outro modo não podia ser. Quando uma natureza não encontra nenhum destes obstáculos que deixa o pecado, é a alma que modelo o exterior; é a sua missão: ela imprime-lhe a sua imagem, ou para melhor dizer, passa para ela e irradia.

A alma sai, por assim dizer, de seu retiro, transpira através da poeira do corpo, e, subindo ao semblante, dá-lhe uma beleza sem igual na ordem das coisas criadas. A fisionomia fala antes que a boca se abra. Os olhos sabem dizer coisas que as palavras não traduzem. A bondade se expande no sorriso e não sei que simpatia misteriosa desperta um belo timbre de voz.

Ah! quando uma alma é ao mesmo tempo elevada e bela, forte e eterna, em uma palavra, quando ela é perfeita, tudo se harmoniza em seu exterior - Et super omne quod visu pulchrum est (Is. 2,16).

Que dizer então de Vossa beleza, ó Jesus?... Beleza que não era somente humana, mas se elevava na irradiação da divindade. Assim como quando se encontra natureza privilegiada, basta ver-lhe a fisionomia, os olhos, os lábios, basta ouvir-lhe a palavra, diz-se: eis aí uma alma onde há grandeza, nobreza, bondade, nio; do mesmo modo bata ver-Vos, ó Jesus, para ser levado a dizer:

Eis uma alma onde divindade!

O amor que inspirais é tão puro, que difunde uma paz extrema; é tão profundo que sacia esta imensa necessidade de amar e de ser amado, tormento do pobre coração humano! - Specie tua et pulchritudine tua intende, prospere, procede et regna (Sl. 44,5).

***

Ó Jesus, como é possível que não tenhais atraído todos a Vós, pelo encanto de Vossa beleza? Muitas almas, sem dúvida, se afeiçoaram a Vós e Vos amaram apaixonadamente... mas tantas outras Vos fugiam, caluniavam e perseguiam com o seu ódio?

Duas razões o explicam: a primeira é uma lei muito humana: Nós a tudo nos habituamos e as coisas mais extraordinárias cessam de no-lo parecer tal, se as revemos diariamente. A Vossa primeira aparição, não há dúvida, Vós excitastes a admiração, a simpatia e o amor. Não importa: ele é um de nós, diziam, e seu pai é o carpinteiro - Nonne hic est faber, filius Mariae, frater Jacobi? nonne et sorores ejus hic vobiscum sunt? (Mc. 6,3).

Tão verdade é que num meio restrito toda a superioridade granjeia inimigos e se choca com a malquerença - Omnes qui pie volunt vivere in Christo Jesus, persecutionem patientur (II Tim. 3,12).

A esta razão de ordem natural vem reunir-se uma razão mais elevada, tirada do plano divino: O plano divino exigia que Vos distinguísseis o menos possível do comum, para melhor salvaguardar a liberdade humana. Quereis atrair tudo a Vós, porém, mais pela santidade de Vossa doutrina, do que pela beleza e encanto de Vossa pessoa - Et cum elevatus fuero omnia trahan ad me ipsum (Jo)

Para atingir este alvo, Deus, de um lado, lança uma espécie de véu sobre as Vossas belezas divinas; e de outro, retinha cativos os olhos daqueles que não deviam reconhecer-Vos - Oculos habent et non videbunt

Ó Jesus, não se dará comigo o mesmo que se deu com aqueles que Vos cercavam durante a Vossa vida mortal?... O que eles contemplavam diariamente acabou por não mais os comover... O que eu leio, o que eu contemplo de Vossas belezas divinas, não acabou também por me deixar indiferente?

Será possível, ó Jesus, que Vossa beleza divina se apague em meu espírito?... Sob a luz de Vossa beleza, como a vida seria doce e pura!... Oh! eu quero desconfiar do enfado dos sentimentos que o hábito traz consigo... Em minhas contemplações, quero preservar-me dele, gravando fortemente em meu espírito a imagem que os prelúdios indicam e que deve acompanhar-me durante todo o tempo do exercício!

Virgem santa e pura, Vós que Vos comprazeis tanto em contemplar a Jesus, conservai-me perto d'Ele... e que Ele triunfe em mim pelo encanto de Sua beleza!...

(Contemplações evangélicas, doutrinais e morais sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Pe. Júlio Maria, missionário de N.ª S.ª do SS. Sacramento)

PS: Mantenho os grifos do autor.