VIII - A COROA DE ESPINHOS
Jesus emite várias afirmações no decurso da Sua Paixão. Duas entre outras são nitidamente formuladas de modo que não deixam lugar a dúvida alguma.
Ao Sumo Sacerdote que o intima a de clarar se é o Filho de Deus, o Cristo bendito, o Messias esperado: Vos dicitis, quia ego sum. Dizeis bem, sim, Eu o sou.
A Pilatos que Lhe pergunta visivelmente perturbado: És então verdadeiramente Rei? Responde Ele: Tu dicis, quia rex sum ego. Sim, dizes bem, Eu sou Rei.
Sim, Ele é Deus!
Sim, Ele é Rei!
Morrerá por estas duas verdades!
Tão bem se havia apreendido o sentido dessa dupla afirmação, que é precisamente esse duplo caráter de Deus e de Rei que é feito objeto de todas as derisões e zombarias no drama da Paixão. Efetivamente, quer essas zombarias venham do povo: Vamos! Se é o Filho de Deus que desça da cruz!; quer venham dos sacerdotes: Vamos! Tu que destróis o Templo para levantar outro em três dias!; quer caiam dos lábios de Herodes que o reveste da túnica branca, ou dos dos soldados: Salve, rei dos judeus!...; essas zombaria tendem todas a ridicularizar o Deus e o Rei.
O Deus, em duas das Suas mais altas prerrogativas: conhecer o futuro e escapar à morte: Cristo, profetiza quem te bateu! Salvou os outros, não se pode salvar a si.
O Rei, na coroa irrisória que Lhe enterram na cabeça, e no próprio título que apõem ao topo da cruz.
Quem poderia ter dado àqueles soldados estrangeiros a cruel idéia da coroação, a não ser aquela dupla corrente que agitava todos os espíritos no momento da Paixão? Ele se diz Filho de Deus, pois havemos de vê-lo. Acaba Ele de declarar a Pilatos que é Rei...
Acudi todos, ó amigos; nós vamos fazer a cerimônia da coroação. E toda a coorte é convocada para assistir; enfileiram-se em torno da Vítima. Acaba esta de sair desfalecente da flagelação; mal teve tempo de vestir a túnica. O Sangue das feridas permeia-Lhe as roupas. Ele chega curvado ao máximo, tremendo, pálido e ensangüentado, como o vindimador que espremeu sozinho o lagar.
Despem-nO e fazem-nO sentar no meio do pretório. Havia no corpo da guarda um frangalho de clâmide púrpura. A clâmide era antes de tudo um manto militar; quando de púrpura, era uma vestimenta real.
Acudi todos, ó amigos; nós vamos fazer a cerimônia da coroação. E toda a coorte é convocada para assistir; enfileiram-se em torno da Vítima. Acaba esta de sair desfalecente da flagelação; mal teve tempo de vestir a túnica. O Sangue das feridas permeia-Lhe as roupas. Ele chega curvado ao máximo, tremendo, pálido e ensangüentado, como o vindimador que espremeu sozinho o lagar.
Despem-nO e fazem-nO sentar no meio do pretório. Havia no corpo da guarda um frangalho de clâmide púrpura. A clâmide era antes de tudo um manto militar; quando de púrpura, era uma vestimenta real.
Assim, daquele homem caído, desfeito, sem aparência humana, fazem, burlescamente, um rei de comédia.
Como Lhe colocaram aquela clâmide nos ombros? Que é que restava daquele trapo de púrpura? Qual era a postura humilhada de Jesus sob aquele ridículo manto? Ignoramos estes pormenores, mas certamente tudo deve ter sido ajustado de maneira irrisória. Pois não era ridículo que O queriam tornar? E, quando o manto foi assim lançado de modo que constituísse uma zombaria, acharam de cuidar da coroa.
Cortam a toda a pressa – porque há que apressar-se: Pilatos está esperando, os judeus impacientam-se nas ruas – cortam, pois, às pressas, um molho de espinhos. Trazem então o espinheiro e jogam-no brutalmente sobre a cabeça do Rei Jesus.
É mister, entretanto, dispô-lo em coroa. Como o feixe espinhoso não segura naquela cabeça que se inclina a seu pesar debaixo daquele doloroso fardo, batem-Lhe com força em cima. Ela se enterra então profundamente, aquela coroa espessa e rubra de Sangue. Todo o alto da cabeça fica coberto: é como um capacete cujas pontas aceradas atravessam a cabeleira, escalpelam o crânio, penetram na carne e fazem à volta toda da fronte uma auréola de Sangue.
É mister, entretanto, dispô-lo em coroa. Como o feixe espinhoso não segura naquela cabeça que se inclina a seu pesar debaixo daquele doloroso fardo, batem-Lhe com força em cima. Ela se enterra então profundamente, aquela coroa espessa e rubra de Sangue. Todo o alto da cabeça fica coberto: é como um capacete cujas pontas aceradas atravessam a cabeleira, escalpelam o crânio, penetram na carne e fazem à volta toda da fronte uma auréola de Sangue.
Grossas gotas pingam pouco a pouco, molhando todo o rosto tão pálido, indo perder-se na barba poeirenta e suja.
Nada falta: eis ali o Rei, a corte está formada, o desfile dos cortesãos vai começar.
Nada falta: eis ali o Rei, a corte está formada, o desfile dos cortesãos vai começar.
Zombar da realeza de Cristo é negá-la. O mundo não pode admitir que alguém lhe seja superior, porque este teria o direito de fiscalizar-lhe as máximas. E aí está porque a realeza do Cristo será sempre escarnecida ou negada. O processo da zombaria é o mais conforme aos costumes mundanos.
A zombaria é uma malignidade e uma fraqueza. Zomba-se daquilo que não se pode aniquilar, esperando assim fazê-lo desaparecer sob os sarcasmos. Poucos homens, mesmo superiores, resistem à zombaria. O ridículo mata.
Jesus e a Sua obra por excelência, a Igreja, sobrepõem-se ao ridículo, e é essa uma prova de divindade: que a Igreja atravesse o mundo sempre a mesma, vitoriosa.
Jesus e a Sua obra por excelência, a Igreja, sobrepõem-se ao ridículo, e é essa uma prova de divindade: que a Igreja atravesse o mundo sempre a mesma, vitoriosa.
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(Primeira parte do livro “A subida do Calvário”, do padre Louis Perroy, SJ)
PS: Texto recebido por e-mail, mantenho os grifos.