sábado, 8 de maio de 2010

O meio da educação moral - Última parte

Nota: Essa parte deveria ter sido a primeira a ser postada, pois são questões preliminares.

O meio da educação moral
Última parte


Questões preliminares

Qual é o fim desta primeira parte?
É o estudo: da natureza da educação moral (cap. I), e da idade em que convém começá-lo (cap. II)

Capítulo I

Em que consiste a educação moral?
A educação moral é a arte:

- De formar o coração e de lhe dar o amor do belo e do bem.
- De formar a vontade e de a fortalecer por bons hábitos.
- De destruir as más inclinações e os defeitos.

Quais são as condições desta educação?
São múltiplas.

Umas referem-se ao meio em que é ministrada; resumem-se em duas seções: o bom exemplo e a vigilância. Outras regulam as relações do educador e do educando; dum lado, está a autoridade; do outro, o respeito...

Capítulo II

Da idade em que convém começar a educação moral

Quando se deve começar a educação?
Ainda antes do nascimento.

A mãe com efeito não pode e não deve esquecer que as suas disposições físicas e morais, durante os meses que precedem o nascimento, hão de influir, duma maneira notável, no coração e no espírito do seu filho.

Mal se move no ventre, e ainda em embrião,
vai Deus modificando,
segundo os movimentos da alma maternal,
o homem futuro que ela concebeu.

Ela dá a vida e a beleza que se vão apagando,
aos filhos que se hão de parecer consigo;
às vezes, basta uma idéia, boa ou má,
para deixar a marca na fronte virginal.

(Jean Aicard, A canção da criança, o poema da mãe)

Que deve fazer a mãe durante os meses da gravidez?
Escutai o que dizia Mgr. Dupanloup às mães dignas de ouvirem esta linguagem:

"Já que a grande bênção divina desceu até vós, no profundo mistério da maternidade, dada pelo próprio Deus, admirai e senti a dignidade da vossa vocação e a própria grandeza do vosso poder. Que doravante, não haja nos vosso pensamentos e nos vossos sentimentos, nada que não seja nobre e puro. Vós não sois apenas uma pessoa, sois uma dualidade.

Quando orardes, quando comungardes, orai e comungai pelo filho que Deus vos deu; ministrai-lhe assim, desde já, alguma coisa do alimento celeste. Quando recebeis Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia, pedi-Lhe que inspire ao pequenino coração, que está tão perto do vosso e do de Jesus, os gérmens da fé, da graça e das virtudes do alto. Invocai muitas vezes a Virgem Maria, afim de que vosso filho sinta, por intermédio del'A, a presença de Jesus, como outrora São João Batista.

Pedi ao divino Redentor, que o batize, por assim, antecipadamente, por sua infinita bondade; que o prepare, ou, pelo menos, o conserve, pela Sua Providência, para o santo batismo; e que, desde já, o abençõe, como outrora abençoava as criancinhas nos braços de suas mães!"
(Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. II, p. 168)

Quando a criança vem ao mundo, quais devem ser os pensamentos do pai e da mãe?
"Que virá a ser esta criança? Qui puer iste erit?
Ei-lo nuzinho em vossos braços! Mas é uma alma imortal! Qual será o seu futuro? Não sabemos; mas o que é certo é que dos cuidados que tomarmos na sua educação dependerá o seu futuro e toda a sua vida!

O que nós sabemos é que estamos encarregados de educar, encarregados de formar a sua alma! Em tal obra, coisa alguma se deve abandonar ao capricho, à sorte, e tudo, de hoje em diante, deve convergir para este fim, sacrificar-se a esta necessidade. É mister que pensemos nisto em cada dia, que disto nos ocupemos em cada hora."
(Mgr. Dupanloup, ob.cit. p. 169)

Todos os pais compreendem que disto se devem ocupar desde essa hora?
Infelizmente, não.

E, todavia, não são educadores unânimes em afirmar esta obrigação?
Sim, certamente.

"Nunca vos haveis de arrepender de ter começado demasiadamente cedo a  vossa missão de educadoras."
(R.P.Charman, às mães, p.14)

"É bom acostumar a criança, desde os primeiros meses, a não se agarrar obstinadamente ao objeto que tem nas mãos. A criança, sem dúvida, nada compreende; mas, sem dar por tal, habitua-se a ceder. Lutais já, e com vantagem, contra a teimosia futura; depois, ser-lhe-á mais fácil obedecer, quando chegar ao uso da razão."
(Ibid., p.13)

"A educação começa desde o seu nascimento. O apaziguamento dos seus primeiros gritos, uma paciente resistência aos primeiros caprichos, eis o começo da sua educação. Desde a primeira carícia dada á criança por sua mãe, desde a primeira palavra que ela com um beijo deposita em seus lábios, desde o primeiro pensamento que o timbre da sua voz, a ternura e a luz do seu olhar, a inspiração e o sopro da sua alma, vão despertar no fundo desta inteligência, até a última lição dada, por um pai ou por um professor digno deste nome, a este homem em miniatura, no momento da sua entrada no mundo: tudo o que se diz, tudo o que se faz, tudo o que se ordena, tudo o que se proíbe, tanto sob o teto paterno como no colégio, deve dizer-se ou fazer-se, ordenar-se ou proibir-se, com o fim de cultivar, de exercitar, de desenvolver na criança os dons da natureza."
(Mgr. Dupanloup, Da educação, t.I, p.11-12)

"Aos três anos, o homem está feito", diz Joseph de Maistre. Se é certo que a expressão é exagerada, não menos certo é também que as inclinações começam cedo e que é um crime esperar o advento da razão para se darem à criança os cuidados da educação."
(J.Guibert, o educador apóstolo, p. 75)

"Entre os dois e os quatro anos, está a fase decisiva da educação."
(F. Nicolay, as crianças mal educadas, p.454)

"O coração do homem é um vaso profundo;
se a primeira água que nele se deitasse fosse impura,
nem toda a água do mar poderia lavar a mancha,
pois que o abismo imenso e a nódoa está no fundo."
(A. de Musset)

"Velai piedosamente os seus primeiros dias,
tudo, neste mundo, depende do seu início.
O dia será mau, se a aurora for sombria;
o fruto será amargo, quando manchado por uma picada;
turbar-se-á o riso, se o ribeiro for turvo;
enfim, o homem ressente-se, completamente, do berço."
(J.Autrand)

"O homem, quando nasce, é já um homem; a vida depende da infância, como a messe depende do grão que se semeia."
(Le Play)

"A ânfora conserva por muito tempo o perfume de que, ainda nova, foi impregnada.- Quo semel est imbuta recens servabit odorem. Testa diu...
(Horácio, Epístola, 1,2).

"A criança tem, na sua natureza, alguma coisa flexível e tenra, lentum quiddam et molle, que a torna susceptível de formação, e se deixa mover ao sabor da vontade de que depende."
(São Jerônimo, Carta a Demetriade)

É esta a opinião de Jean Jacques Rousseau?
Não.

E, porque a sua tese desperta aindam de tempos a tempos, os ecos adormecidos da preguiça e da vaidade humana, mencionamo-la aqui para a estigmatizar como merece.

No critério de Jean Jacques Rousseau, a criança deve crescer em plena liberdade (foi, sem dúvida, para assegurar esta liberdade que ele abandonou os próprios filhos), deve escolher por si mesma as suas opiniões e crenças, (uma escolha supõe conhecimentos: mas donde lhe vieram eles?); só deve conhecer Deus aos dezesseis anos e é só também nesta idade que deve começar a disciplinar a sensibilidade (quer dizer, deve educar-se a criança, quando já for quase um homem).

Mas o próprio Jean Jacques Rousseau tinha sido mal educado; não conhecera sua mãe, e é esta a sua desculpa; foi um mau pai e, toda a vida, um ímpio.

Não confirma a razão plenamente as opiniões dos educadores honestos que temos citado?
- Tem-se muitas vezes comparado a alma da criança a uma cera mole, susceptível de receber todas as impressões. Dever-se-á esperar que endureça para a trabalhar, ou será prudente deixar ao acaso o cuidado de gravar as primeiras e decisivas sensações?

- E, visto ser a educação uma obra comparável à da jardinagem, não poderia o jardineiro dos corações aproveitar do jardineiro das flores algumas receitas colhidas da experiência?

Esperaremos, na cultura, que as más ervas sufoquem a planta para as arrancarmos?
E, para destacar os rebentos sem consistência, esperaremos a maturação das flores e dos frutos?

É a criança capaz, numa tão tenra idade, de tirar algum proveito dos cuidados que se lhe prodigalizam?
Evidentemente que sim.

É isto tão certo que, desde os primeiros meses, se lhe ensina uma língua, coisa extremamente difícil. Os hábitos do bem são, ao mesmo tempo, fáceis e mais importantes.

(Catecismo da Educação - Abade René de Bethléem)

PS: Grifos meus.