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A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
VIII-
Das casas de educação
«Entre
todos os deveres que a autoridade paterna impõe a um pai e a uma mãe, nenhum
conheço mais grave, escreve Mgr. Dupanloup, que o de escolher - os mestres a
quem deve ser confiada uma parte desta santa autoridade.»
A
mulher do povo, especialmente a que habita nas aldeias, não pode ordinariamente
enviar o seu filho senão à escola paroquial; as mais das vezes é difícil mandá-lo
a outra freguesia vizinha. Como apreciar devidamente os serviços prestados à
Igreja e à sociedade, por religiosos e religiosas, que consagram a sua vida a
instruir o filho do povo, e a educá-lo no amor, e no temor de Deus? Que mulher
cristã não seria feliz, confiando-lhe o seu filho ou filha? E onde poderia ela
encontrar uma dedicação mais desinteressada e mais sincera?—«Para ser professor
de instrução primária, disse o grande historiador Thiers, é necessária uma
humildade e uma abnegação, de que um leigo raras vezes é capaz: é preciso o
padre, o religioso; o espírito, a dedicação leiga não são suficientes!» Se acontecesse,
— o que Deus não permita —, que uma criança não pudesse ir à escola, sem expor
a sua fé, e a sua inocência, seria infinitamente melhor que ela não abandonasse
o teto da sua choupana.
As próprias escolas, onde se não ensina a religião, nem
as virtudes cristãs, não podem bastar à educação da infância. Toda a escola mista
de crianças de ambos os sexos oferece perigos que uma mãe deve temer. E é por
ventura necessário que o agricultor mande o seu filho para o colégio? Essa
criança não deixará daí encontrar a saudade da vida dos campos, e depois de
acostumado, voltará com ares de gran-senhor. Achamos natural e necessário que
o vosso filho aprenda a ler, a escrever e a contar, e é isso mesmo que ele
aprenderá na escola da sua aldeia; mas que fique cultivador, como seu pai, que
é o melhor partido que pode tomar. Também achavamos razoável que as mães de
família do campo não mandassem a suas filhas como pensionistas, para
estabelecimentos, donde elas voltam, falando francês, usando chapéu, sabendo
bordar a ouro, a canotilho e a cabelo, mas desprovidas dos conhecimentos
usuais mais necessários. Longe de nós, todavia, censurar as mães que confiam os
filhos a um colégio, dirigido por religiosos ou religiosas, onde essas crianças
estão ao abrigo dos perigos do mundo.
Digamos
agora uma palavra a propósito da escolha de colégio, ou antes escutemos o
ilustre prelado cujas palavras nunca nos cançaremos de citar: — «Se as crianças
devem encontrar na educação pública maus costumes e impiedade, vale mais mil e
mil vezes que fiquem para sempre ignorantes, ou recebam uma educação menos
perfeita, do que perder a sua fé e ver murchar a sua virtude. Não oferece o mau
colégio a horrível certeza duma corrupção imediata, profunda, medonha, e o
mais das vezes irremediável?
Antes,
pois, que os pais escolham a casa de educação, onde devem colocar os seus
filhos, é preciso que se informem, que consultem, que vejam com seus próprios
olhos... Por mais que escolham, nunca um pai e uma mãe escolherão de mais,
porque uma escola onde se professe o culto e se ensinem as verdades da religião
é uma coisa importante. Nada sobre este ponto pode ser feito ao acaso[1].
Trabalhar por hábito, por capricho, por sugestão alheia, ou por complacência,
tratando-se do mais grave dos assuntos e do mais santo dos deveres, seria uma ação
sem desculpa [2].»
Vê-se
daqui que se deixa cegar pela ternura a mãe que escolhe sempre o colégio mais
vizinho, afim de mais facilmente poder prodigalizar as carícias a seu filho,
sem prever os perigos que aí pode correr a sua inocência. E como desculpar os
pais, que confiam os filhos a um estabelecimento aliás mui pouco recomendável,
unicamente porque os preços aí são mais reduzidos? Sob o pretexto de que seu
marido exerce um cargo público, uma mulher cristã julgar-se-ia obrigada a
enviar seus filhos, para um destes colégios «onde esses desgraçados, juntos a
condiscípulos mal criados, não encontram o mais de vezes, para substituir um pai,
ou uma mãe, senão indiferentes ou mercenários, olhares duros, corações de gelo,
e mãos de ferro[3] — «A educação religiosa, exclama na tribuna
francesa M. de Gasparin, não existe realmente nos colégios... Recordo-me com
horror do que eu era, ao sair dessa educação nacional, recordo-me do que eram
todos os meus companheiros com quem eu tinha relações: nem tinhamos os mais
débeis princípios da fé e da vida evangélica.» Uma mãe cristã procurará, pois,
para seu filho um estabelecimento, onde possa encontrar, nos mestres, a fé, o
zelo, a virtude; e nos alunos o espírito de submissão e a pureza dos costumes.
O pai de S. Francisco de Sales queria mandá-lo para o colégio de Navarra, que
efetivamente tinha uma grande fama, onde havia grande quantidade de alunos, mas
onde havia pouco zelo em cultivar a piedade. M.me de Boisy, sua mãe, fez porém
valer tantas razões para fazer prevalecer o colégio dos Jesuitas, ao colégio de
Navarra, que seu marido, sacrificando corajosamente todas as suas pretensões e
as suas vistas de amor próprio, viu-se constrangido a dar o consentimento[4].
Se
não fosse o zelo vigilante de sua mãe, o jovem Francisco, em vez de vir a ser
um santo, teria talvez perdido a inocência e a fé.
M.me
Acarie colocou dois dos seus filhos no colégio de Pontoise, onde não havia
senão pobres, esperando, diz o seu biógrafo, que eles aí aproveitariam os bons
exemplos dos seus condiscípulos, que tinham felizes disposições para a virtude.
Na escolha duma casa de educação, uma mãe segundo a vontade de Deus não se
deixa guiar por uma louca vaidade, mas pelo desejo da salvação de seus filhos.
Notas:
__________
[1]
Foi o que compreendeu uma verdadeira mãe que escrevia estas linhas em 3 de
julho de 1866: - «Meu reverendo Padre,
desejo que o santo Sacrifício seja oferecido no venerado santuário de La
Salette para obter, por intervenção da Santíssima Virgem, conhecer e cumprir a
vontade de Deus, na escolha que devo fazer dum estabelecimento, para aí confiar
o meu filho. Oh! Recomendai com todo o fervor essa intenção a Nosso Senhor, por
intermédio de Sua santa Mãe. Talvez me tenham exagerado o perigo do colégio,
para meu filho, mas não me posso tranquilizar sobretudo com os exemplos, que a
cada momento vejo diante dos olhos. Pedi, pois eu vo-lo suplico, meu reverendo
Padre, para que o meu querido filho conserve o precioso tesouro da sua
inocência.»
[2] Mgr. Dupanloup
[3] Mgr. Dupanloup
[4] Vida de São Francisco de Sales