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A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
VI-
Das criadas e das governantas
Deve
a mãe, como já dissemos, cultivar por si própria, os primeiros anos de seus
filhos, com a mais atenta vigilância, e não se separar deles, senão o menos
possível. Assim fazia aquela santa senhora do Chantal. Ela nunca perdia de
vista os seus filhos; despia-os por suas próprias mãos, deitava-os ela mesma, e
não os deixava, senão depois de todos estarem a dormir. No dia seguinte,
despertava-os, vestia-os, e depois levava-os ela própria à capela. Mas nem
sempre as ocupações e a vida doméstica permitem às mães de família o prazer de
terem os seus filhos, debaixo do alcance da vista, e por isso confiam-nos a
criados, ou damas de companhia.
Daqui
se vê quanto é importante escolher a pessoa que deve, durante a ausência da
mãe, cumprir para com a criança um ministério mais nobre, do que comumente se
pensa; direi mesmo uma importante missão! Numas das suas cartas, dá S. Jerônimo
sábios conselhos a Gaudêncio, acerca da maneira de educar a pequena Pacatula,
sua filha, que não tinha ainda sete anos. — «Que a criada que acompanhar essa
criança, dizia ele, que a governanta encarregada de a guardar, não seja nem
ociosa, nem faladora, mas que seja sóbria, grave, aplicada ao trabalho manual,
e que nada diga, que não seja próprio para formar uma jovem para a virtude.
Traçai com o dedo uma passagem para a água, espalhada na terra, e a água, segue
logo o vosso dedo: assim sucede com uma idade tenra e delicada, que toma
facilmente todas as formas, e levá-la-eis para toda a parte que quizerdes.»
Escrevendo a Locta, nobre viuva romana, recomenda o mesmo santo doutor, que
escolha para sua filha uma ama que se não entregue à moleza, nem à
intemperança, e uma governanta que, por sua modéstia, seja digna de ser estimada.
— «É necessário, acrescentava, que as criadas que acompanharem a vossa filha se
desviem com cuidado das reuniões mundanas; porque ensinariam mais maldade a
vossa filha, do que elas mesmas teriam aprendido, nessas reuniões».
S.
Gregório, escrevendo a uma nobre patrícia, chamada Théoctista, recomenda-lhe
que vele com cuidado pelos filhos da imperatriz, e pelas pessoas que os
rodeiam. — «Para eles, diz este santo doutor, as palavras das amas, serão um
leite salutar, se elas forem virtuosas; mas um veneno mortal, se elas forem
depravadas.» —«Se deixais a vossa filha entregue a mulheres de espírito
leviano, mal regulado e indiscreto, escrevia a uma senhora distinta o imortal
Fénelon, elas lhe farão mais mal em oito dias do que vós poderíeis fazer-lhe em
muitos anos. Falarão umas para as outras, com excessiva liberdade, diante duma
criança que observará tudo, e que tudo julgará poder fazer. De forma que a
criança ouvirá maldizer, blasfemar, mentir, suspeitar, disputar; verá cenas de ciúmes,
inimizades, questões irritantes e cenas incompatíveis com a sua idade. Além
disso estas pessoas, dotadas ordinariamente dum espírito servil, não deixarão
de querer agradar à criança, mostrando-lhe ao vivo tudo quanto ela desejar
saber». Mas se mulheres dum espírito leviano são capazes de fazer tanto mal às
crianças, que lhes são confiadas, não seria uma desgraça extrema, uma
verdadeira calamidade deixar cair uma criança, entre as mãos duma mulher de
costumes fáceis, e um crime para os pais entregar em semelhantes mãos o
depósito mais precioso o mais sagrado que Deus lhes concedeu ? Seria possível
que uma mãe escolhesse, para uma função, que exige tantas virtudes, uma pessoa
suspeita, ou simplesmente desconhecida? Pois há-as que chegam a levar até esse
ponto a sua negligência, e a sua imprevidência. — «Quem não tem muitas vezes
deplorado a sorte das crianças expostas? exclama sobre este assunto, Mgr.
Dupanloup. Só a caridade as recolhe e as educa; a irmã de S. Vicente de Paulo,
transformada em mãe, sem deixar de ser virgem, as aquece contra o coração; mais
tarde os bons Padres da doutrina cristã, ou algumas irmãs zelosas lhes
prodigalizam os seus cuidados. Mas as crianças ricas nem sempre têm a mesma
felicidade, porque, depois de terem haurido, como a criança exposta, um leite
mercenário, são muitas vezes abandonadas em casa dos pais, a criados que as
depravam. Quantas vezes não tenho lido ocasião de deplorar isto mesmo, e em
famílias cristãs! Ah ! se os pais soubessem tudo! Se eu pudesse dizer-lhes tudo
quanto sei [1]
Antes,
pois, de fixar uma escolha, que é de tamanha importância para seus filhos, e
para ela própria, uma mãe cristã procura com escrupulosa solicitude saber qual
foi o comportamento da pessoa a quem vai confiar os seus filhos. Deve ter
extremo cuidado em não encarregar de tão graves funções uma pessoa
inexperiente, muito nova, deve seguir em tudo os santos conselhos que ditava
Fénelon: — «Deveis ter, pela menos, escrevia ele a uma piedosa mãe, uma pessoa
segura, que vos responda por vosso filho, durante as ocasiões, em que vos
virdes constrangida a separar-vos dele. É preciso que essa pessoa tenha bastante
juizo e virtudes para saber tomar uma autoridade branda, e para conservar as
outras mulheres, no seu dever; para repreender vosso filho, sem atrair a sua
animadversão, e para vos dar conta de tudo o que merecer a vossa atenção, afim
de evitar más consequências. Confesso que semelhante mulher não é fácil de
encontrar, mas é importante procurá-la, e depois remunerá-la convenientemente,
para viver bem junto de vós. Sem esse auxiliar importante, nada ou pouco
podereis fazer [2]
Escolhei
pois, ou na vossa casa, ou na vossa família, ou na vossa terra, em alguma
comunidade bem dirigida, alguma rapariga que julgueis capaz de ser aplicada a
esse fim. Tratai imediatamente de a formar para esse emprego, e conservai-a
algum tempo junto de vós, para a experimentardes, antes de lhe confiardes cargo
tão precioso»[3].
Convém
notar que o ilustre prelado, cujas salutares lições acabamos de transcrever,
queria que a virtuosa senhora, a quem ele escrevia, não perdesse nunca de vista
a sua filha exceto no caso duma absoluta necessidade; são estas as suas
próprias palavras. Não há mão efetivamente, por mais meiga e firme que seja,
que possa substituir, junto duma criança, a mão de sua mãe.
M.me
Acarie tinha sabido afeiçoar à sua família Andrée Levoie, senhora cheia de fé e
de virtudes; e no entretanto nunca lhe confiava as suas filhas, senão quando os
seus negócios ou as suas boas obras a obrigavam a sair de casa. Mas quando
regressava, exigia sempre contas do que as filhas tinham feito, durante a sua
ausência.
Notas:
[1]
Mgr. Dupanloup
[2]
Fénelon — Carta a uma senhora.
[3]
Fénelon — Da educação das meninas.