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A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
IX-
Do convento
Fénelon
escreveu acerca da educação das meninas, um livrinho, cuja leitura muito
recomendamos às mães cristãs. Prova aí que é sem razão que os pais desprezam
algumas vezes essa porção tão interessante da sua família. A menina de hoje
será amanhã esposa e mãe; terá uma grande missão a cumprir, missão que exige
uma preparação séria, uma educação primorosa, começada cedo e confiada a mãos
seguras. O que deve animar as mães a cultivar, com o maior cuidado, o espírito
e o coração de suas filhas, é que elas só nas mães encontrarão docilidade,
gosto pela piedade, e inocência; e nelas aparecerá duma forma mais sensível e
mais cedo o fruto do zelo maternal.
Nas
aldeias fica ordinariamente a cargo das mães a educação das filhas, visto que
não podem estar na escola, senão uma pequena parte do dia. Já o dissemos, e de
novo o repetimos: um colégio de meninas não parece oferecer vantagens aos filhos
do lavrador. É certo que a instrução é tão necessária a estas crianças, como a
todas as outras; mais do que ninguém, nós deploramos a ignorância de certas mulheres
do campo, visto que, não sabendo ler, estão condenadas a não poderem
instruir-se, senão com muito trabalho, nas verdades da religião, e a nada
poderem ensinar a seus filhos. Mas quereriamos, que a educação que recebem,
fosse proporcionada às suas necessidades, e que não bebessem com essa instrução
uma vaidade balofa, e o horror pela vida simples da sua condição.
Felizmente
em muitas aldeias há estabelecimentos de religiosas, que, sem darem a suas
casas o título de colégio de meninas, e sem exigirem o aparato dos demais
colégios, ensinam a suas alunas a praticar as virtudes cristãs, ao mesmo tempo
que as instruem em tudo quanto é necessário saber, na sua condição. Uma mãe
poderá entregar com confiança as suas filhas em tão caridosas mãos.
Quanto
às meninas duma classe mais elevada, depois que tiverem crescido, sob a
proteção materna, será bom que se afastem de sua família. Posto que a educação
feita toda inteira, pela mãe, ou sob a sua direção, seja a melhor[1],
não é possível fazer-se hoje, à parte algumas raras excepções; é a opinião de
Fénelon: — «O mais seguro partido para as mães é confiar aos conventos o
cuidado de educarem as suas filhas, porque muitas vezes não têm as luzes
necessárias para as instruir, ou se as têm, não as fortificam com o exemplo dum
comportamento sério e cristão, sem o qual as mais sólidas instruções não fazem
a menor impressão; porque tudo quanto uma mãe pode dizer a sua filha, é
aniquilado pelo que ela lhe vê fazer». Fénelon acrescenta: «Temeria um convento
mundano, ainda mais do que o próprio mundo. Se um convento não é regular, a
vossa filha aí verá a vaidade com todas as honras, o que é o mais sutil dos
venenos, para uma jovem; ouvirá falar do mundo, como dum paraiso encantado, e
nada faz mais penosa impressão que essa imagem enganadora do século, que se
olha de longe com admiração, o cujos prazeres se exageram, sem patentear todas
as suas amarguras. Se, pelo contrário, o convento é verdadeiro, se aí se
cumprem à risca os preceitos evangélicos, uma jovem de condição vive aí numa
profunda ignorância do século[2]».
Tudo lhe falado afastamento do mundo, e da vaidade das suas festas; as máximas
mundanas não ferem os seus ouvidos; nada encontra que fira a pureza do seu
olhar; os livros perigosos não caem ao alcance das suas mãos. O seu espírito
alimenta-se com as verdades da fé, que lhe são anunciadas frequentemente; o seu
coração sustenta-se com as doces e pacíficas emoções da piedade. Tendo sempre
sob os olhos o espectáculo das virtudes religiosas, a menina volta-se naturalmente
para elas. Enfim prepara-se admiravelmente para a vida séria e retirada que
deve ser a duma mulher cristã. — «Se tememos que as preceptoras religiosas, por
não terem bastante experiência do mundo, se deixem guiar por vistas estreitas,
inspirando às crianças uma delicadeza exagerada de consciência, nada disso é
para recear, porque não é hoje que os excessos se devem temer, por esse lado,
escreve M. Guinouilhac. A vivacidade própria da idade, o fogo das paixões
nascentes, o instinto da vaidade, os apegos do mundo, tudo isso deve contribuir
para reprimir as delicadezas excessivas de consciência. Além disso há
geralmente mais sabedoria, mais madureza de espírito nas almas formadas na
meditação séria das verdades evangélicas, e dos deveres particulares do seu
estado, do que nas mulheres do mundo».
Já
no seu tempo, S. Jerônimo, numa carta que dirigiu a Lseta, nobre viúva romana,
depois de lhe ter traçado um plano de educação para a filha, continuava assim:
— «Pedis-me, sem dúvida, o meio de seguir todos os conselhos que vos dou, vós,
cuja casa deve estar aberta a toda a gente... Pois bem, não vos encarregueis
duma tarefa que sois incapaz de levar a cabo; mas desde que vossa filha possa
dispensar os vossos cuidados, mandai-a para Belém, para que sob os olhos de
Paula, sua avó, e Eustóquia, sua tia, seja educada no asilo sagrado dum
claustro, e cresça no meio do casto coro das virgens de Jesus Cristo. Só ai lhe
inspirarão o gosto da virtude, o horror à mentira e o desprezo do século; aí
viverá a vida dos anjos. Vale mais, para vós, sofrer as saudades da ausência,
do que viver sempre em sustos, guardando-a em vossa casa[3].
Será
agora necessário prevenir as nossas leitoras contra o sistema de educação
secundária, recentemente inventado para as meninas? Os alarmes do episcopado
católico e os aplausos dos jornais anti-religiosos bastante nos tem revelado
esse perigo. Pense o que pensar Mr. Duruy, nunca uma mulher cristã, que durante
quinze ou dezessete anos, abrigou com atenta solicitude a sua filha, como uma flor
tenra e delicada, contra o sopro capaz de murchar o seu brilho e de esgotar o
seu perfume, se resignará a expô-la imprudentemente, na idade dos desmandos e
das ilusões, a todo o pernicioso vento das doutrinas, e talvez ao ar envenenado
do sensualismo e da incredulidade... Pela mesma razão também uma mãe segundo a
vontade de Deus não irá confiar suas filhas, desde a infância às aulas dum
liceu, onde de certo lhes não vão falar de Deus.
Terminemos
este parágrafo, com esta sábia observação do imortal arcebispo de Cambrai: «Se
uma menina, ao sair do convento, passa numa certa idade, para a casa paterna,
em que abundam as recepções, nada haverá mais terrível que semelhante
surpresa.» Uma mãe, tirando a filha de mãos religiosas, a que tinha entregue
este depósito sagrado, guardar-se-á de a pôr logo em evidência; só pouco e
pouco lhe deve descobrir o mundo, tendo todo o cuidado em lhe fazer notar o
nada e a loucura dele,
afim
de a prevenir contra as seduções do século.
Notas:
___________________
[1] Quando as mães são o que devem ser.
[2] Fénelon
[3] S. Hier. Epis. ad Laetam.