quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O advogado "consedinheiro"

Causas principais dos matrimônios mal sucedidos: ignorância e presunção

- São duas, não é verdade, padre, as causas principais dos matrimônios infelizes? A ignorância e a presunção.
- Sim, duas mesmo, como já expliquei. E em primeiro lugar a ignorância, que leva a profanar o Sacramento. O Sacramento do matrimônio é de fato o Sacramento em que se cometem mais pecados e sacrilégios.
- Mas de que maneira?!...
- Pelo motivo bem simples, que aos outros Sacramentos em geral se preme-te uma boa preparação religiosa, por exemplo, a primeira confissão, a primeira Comuhão, a Crisma e até a Unção dos doentes; esta preparação habitualmente falta para o matrimônio.
Sobre os outros sacramentos os próprios pais dão instrução mais ou menos suficientes; e para ele muitas explicações se acham no catecismo, nos livros espirituais ou se ouvem na pregação. Para a formação dos jovens em preparação ao matrimônio, poucos há que direta e suficientemente se interessam. E todos sabem, como em geral os noivos, por infelicidade deles, se dispensam facilmente dos sermões e do catecismo.

O outro coeficiente do fracasso de tantos matrimônios é a presunção. A juventude julga saber tudo, conhecer tudo, estar a par de tudo. Mas o que é ainda pior, se algo ignora, vai aprendê-lo da boca de companheiros sem virtude e suspeitos, de pessoas de pouca ou nenhuma prudência, ou na leituta de livros libertinos. Assim em vez de subir, desce; em lugar de instrui-se, envenena-se.

- Então é dever mesmo instruir-se suficientemente e pedir conselhos a pessoas sábias e criteriosas?
- Perfeitamente. Instruir-se pelo estudo do Catecismo e de bons livros, escritos propositalmente para os noivos e os esposos; e aconselhar-se com pessoas prudentes, sábias e idôneas, como por exemplo: o Vigário e o Padre Confessor. Não imitar o fulano que foi ter com um advogado.
- Com advogado? ... Conte, Padre; deve ser interessante.

***
- Escuta, então! ... Era um mocetão, com seus trinta anos, bom como a marmelada, mas ingênuo e simples como criança. Cansado de ficar sem uma companhia e também de pagar a taxa imposta, em seus país, aos solteiros, foi pedir conselho a um advogado. Lá diante do legista, tímido e embaraçado, volvendo e resolvendo o chapéu nas mãos, começou a dizer:
- Senhor advogado, queria casar.
- Muito bem, case, sim.
- Mas estou com dúvida; tenho medo de me arrepender.
- Sim, sim...É o acontece a muitíssimos.
- Portanto?
- Portanto não case.
- Mas não casando, não tenho ninguém que me faça companhia... ninguém a quem deixar os meus haveres! ... E então?
- Então case.
- E se casando, caisse em companhia de uma esbanjadora, vaidosa, egoísta e avarenta?...
- Nada mais fácil. Terá que adaptar-se!
- Ai de mim! ... e de meus poucos haveres! ... E então?
- Então deixe de casar.
- Mas não casando, quem cuidará de mim, quando doente? quem derramará uma lágrima à minha morte? Quem fará uma prece por mim?! ...
- Ótimo, ótimo! ... Case então.
- Fácil dizê-lo. Mas ...se...depois...
- Com os mas..., com os se..., com os depois nada se conclui.
Toda coisa tem o seu lado bom e o seu lado ruim, o bem e o mal, a esperança e o perigo. Aqui convém decidir-se, ou sim ou não !!!
- O senhor me atrapalha... eu queria fazer as coisas... ir devagar... pensar bem.
- Pois não ..., pense e reflita bem; depois voltará.
- Muito bem, senhor advogado, assim gosto; vou pensar ainda ... muito obrigado ... até a volta...
- Um momentinho! Pague primeiro o incômodo!?
- Que incômodo?
- Os conselhos que lhe dei.
- Que conselhos?
- O conselho de casar e de não casar, de esperar e de pensar melhor.
- Pois sim! Compreendi. E quanto devo pelos conselhos?
- Mil liras.
- Misericórdia! ... Mil liras! Oh! quanto custa casar!!!

E lá se foi, esfregando o queixo.

(Casai-vos bem - Pe. Luís Chiavarino)