O tropel das paixões e interesses pode invadir esse santuário de graça que é o casamento na mente de Deus. Invade-o muitas vezes a olhos vistos, com escândalos para muitos, justificando temores quanto ao futuro. Se há noivas, almas boas, que encaram com fé os desígnios de Deus e lhe respeitam a vontade pela recepção digna do sacramento, outras há, e não poucas, que procedem como pagãs modernizadas, apagando as lâmpagas que deviam ter acessas. Casam-se seduzidas pela beleza da carne, dominadas pelos encantos que falam às paixões, que acariciam a vaidade, o interesse, a leviandade.
... O noivado, após a escolha, nada tem de religioso, nem nas graças que procura, nem na modéstia da qual devera sentir a ausência. É passado numa onda de festas, de diversões, de juras, num nexo contínuo de fingimentos com seus respectivos sustos e temores. A oração não tece seus fios de ouro ao redor dos dois corações; num canto da alma choram os anjos da pureza e da piedade... Os preparativos mundanos absorvem a preocupação dos noivos. Cuidam do ninho e se esquecem das aves, das almas, que nele hão de morar.
... Chega o dia do casamento e quantas vezes vai a moça cristã unir-se só pelo civil! (Há nesse procedimento um pecado gravíssimo, ao lado de um escândalo que é punido pelas leis do Código Canônico. Enquanto viverem nesse estado, não podem os noivos freqüentar os sacramentos. - nota do tradutor)
O noivo não queria o casamento religioso, ou alegou razões para adiá-lo. O contrato perante o oficial da lei não pode dar um caráter religioso, nem forças sobrenaturais ao novo estado de vida.
Queixa-se Deus de um crime no seu povo: abandonaram a Ele - água da vida - e cavaram para si cisternas salobras. É bem triste quando uma cristã faz o mesmo e sacia sua sede de ventura, de amor, com idéias, sonhos, sentimentos e resoluções que têm o gosto das águas condenadas.
Observar no amor esclarecido as normas dadas pelo céu é sabedoria de virgem prudente. As virgens loucas deixaram apagadas suas lâmpadas, adormeceram na inércia e assim perderam o convite para as núpcias. De algum modo imitam-nas as jovens que hoje iluminam seus passos pelas normas do mundo leviano; deixam em trevas o coração, quando o não envolvem num tardio arrependimento incapaz de reacender nele uma melhor luz.
Sentimentalismos e devaneios dulçorosos não enchem os dias do noivado. Ninguém semeia flores para colher frutos, enceleirar colheitas. Uma idéia, uma resolução firme, tendo em si a força dada pelo céu, há de cair num sulco da alma, no solo fértil do coração da virgem - e terás, leitora, direito ao gesto com que mostrarás a teu eleito as ondulações de tuas opulentas searas.
(Escolha do futuro - Pe. Geraldo Pires de Souza)
PS: grifos meus