Natureza desse vício - Maldizer é dizer do próximo, sem necessidade ou sem razão suficente, um mal que é verdadeiro mas que se não deve divulgar. Um pintor representou a maledicência como um fera horrenda, com mandíbula e dentes de crocodilo e garras sangrentas que ainda seguravam pedaços de carne. A seus pés, três cadáveres: a honra, a reputação e a amizade. Depois disso, admirai-vos se comparam os maledicentes às sanguessugas, que gostam do sangue corrompido, aos abutres, que se libram sem parar sobre os jardins floridos, e que se atiram sobre cadáveres!
Desdenhando salientar as boas ações do próximo, as pessoas assim dispostas a fazer mau uso da sua lingua só lhes vêem os defeitos ou os vícios, e isso só pela satisfação de fazerem mal ou de parecerem ao corrente das coisas.
Seus danos - pela maledicência:
1º Causais dano ao próximo na sua reputação.
2º Feris a Deus num de seus filhos, pelo qual Ele quis morrer.
3º A vós mesma vos prejudicais, tornando-vos culpada de uma falta que facilmente pode tornar-se grave.
Aliás, refleti bem em que, cometendo uma maledicência,
- vós mesma pecais;
- fazeis pecar os que vos escutam;
- ficais responsáveis pelas conseqüências e pecados que a vossa maledicência produzir.
Que julgamento assim vos preparais! Como se compreendem, depois, disto, o juízo feito pelos Santos! "A maledicência, diz S.Francisco de Sales, é uma espécie de assassínio." "Aquele que fere com a língua, diz S.João Crisóstomo, faz uma chaga mais profunda do que a faria com os dentes. Atenta contra a vossa reputação, faz-vos um mal de que nunca sarareis. Mais criminoso do que o assassino, deve ele contar com um castigo rigoroso."
Suas fontes - A maledicência decorre geralmente ou da leviandade de caráter ou da inveja.
Uma moça inconsiderada fala a torto e a direito, gosta de divagar, de fazer rir as companheiras, diverte-se em criticar o próximo, em lhe atacar a reputação, em lhe revelar as faltas, os defeitos ... Isso faz passar o tempo, diz ela! ... Que triste brinquedo!
Uma moça invejosa é ainda mais culpada, pois quer o que faz e sabe o que diz. Persuadida de que a sua reputação e a sua honra aumentarão na medida em que diminuírem a reputação e a honra do próximo, ela maldiz para se fazer valer. Fala mal da companheira que a incomoda; vinga-se ... semelhante a uma víbora, morde, verte o seu veneno! ...
Se ninguém os escutasse, os maldizentes deixariam de falar. Os que os escutam com prazer são tão culpados como eles. Que procedimento deveis, pois, ter quando alguém maldisser dos outros diante de vós? Há várias maneiras de manifestar a vossa reprovação:
- Calar-vos, absterdes-vos de qualquer participação, não sorrir, não ter atitude alguma que possa ser considerada como uma aprovação.
- Desviar os golpes dados no próximo, levando jeitosamente a conversação para outro terreno.
- Dizer bem daquele a quem atacam, fazer-lhe sobressair as qualidades ou as virtudes ...
- Se a isso os autorizar a vossa posição, imponde silêncio. É melhor melindrar uma má língua do que deixá-la dilacerar diante de vós a reputação do próximo.
- Quando se falar mal de alguém, levantai alguma dúvida que possa atenuar o golpe, desculpai a intenção, manifestai compaixão pelo acusado, exigi que se reconheça a insuficiência de um "dizem" e que se sinta a necessidade de não prescindir de provas. Será pôr o maledicente em grande embaraço, porque as mais das vezes todos os boatos que circulam têm fontes impossíveis de achar.
"Pensai nisso, escrevia o P. Lacordaire: toda palavra tem seu livro, e tudo o que na terra não se escreve pela mão dos homens, é escrito no céu pela mão dos anjos. Cada dia, a cada instante, o inexorável buril da justiça divina recolhe o hálito dos vossos lábios, e grava-o, para vossa glória ou para vossa vergonha, nas tábuas da imortalidade."
(A fomação da donzela - Pe. Baeteman)