(Rodolfo Komorek, traços biográficos, 1964)
Seria
uma linda história a sua biografia. Merece e deve ser escrita. Ele é um dos
fúlgidos heroísmos viventes que o ideal do Evangelho de Jesus sabe produzir mesmo
num século pobre de abnegação.
Observem
este semblante de tempos da juventude. Sereno e enérgico, misto de simpatia e
austeridade. Olhar agudo e firme, evoca o vigor juvenil de uma aspiração única,
encouraçada por uma expressão tranquila de tenacidade resoluta.
Nasceu
na Silencia que naquele tempo (1890) pertencia não à Polônia como é hoje, mas à
Áustria. Tornou-se sacerdote diocesano em 1913. Desde pequeno veio estruturando
o seu espírito num clima de severidade absolutamente cristã. Suscitado por Deus
para contrastar com seu exemplo de dedicação à moleza nauseante de nossa apatia
para as coisas de Deus, chaga desolante nos tempos que correm.
Um
pequeno episódio da adolescência nos confirma a resolução bem cedo arraigada de
sua virtude e nos mostra como era um menino diferente já dos outros. Compenetrado
e eficaz na exposição de seus ideais de religião e bondade.
Tinha
um irmão: João. Estudavam ambos. O irmão porém era levado, desgostava a família
e era impermeável a toda admoestação.
Certa
manhã, conta-nos o mesmo João, hoje engenheiro na Polônia, tendo de me levantar
cedo, comecei o dia rezando mal as orações. Rodolfo já estava à mesa de
trabalho, estudando grego. Ele me tinha observado, e, quando passei ao seu lado,
tirou os olhos de seu texto árduo e colocando-os sobre mim, com expressão de doçura
e decisão me disse: "Olhe mano, você poderá tudo, se QUER E REZA como se
deve".
Aquelas
palavras perseguiram o traquinas, convenceram-no e o fizeram mudar o rumo da
vida.
Querer
e rezar. Que belo programa para servir de norma às atitudes de todo indivíduo
que se diz cristão, que deve combater o mundo e os vícios se quiser realizar a
finalidade para a qual nasceu.
Neste
conselho, Rodolfo traçava a definição de si mesmo. Ele foi por toda a vida a
encarnação da prece e da forca de vontade.
Em
1914, guerra... O Pe. Rodolfo era então vice-pároco de uma cidadezinha
austríaca. Despendia com zelo incomum o seu trabalho sacerdotal e era venerado por
todos, que o chamavam um "S. Luís".
Ávido,
porém, de renúncia, ardente de caridade, pediu para ir socorrer aos soldados
que tombavam no fronte.
No
meio da refrega, prodigou-se desassombrado nos mais empolgantes atos de
dedicação. No arquivo militar de Viena, em Áustria, encontramos os documentos
de sua condecoração por méritos de guerra. Magnífico é o parecer da
oficialidade que decretando esta homenagem ao bravo capelão militar em grau de
capitão, resume assim a sua memorável atuação apostólica: "Excelente e
sacrificado serviço diante do inimigo. Desde o início da guerra como capelão de
hospital da guarnição desempenhou ele os seus deveres realmente com um extraordinário
devotamento, pronto de dia e de noite para dispensar aos feridos e aos doentes
o devido socorro espiritual. Exemplo de sacerdote que segundo o próprio ideal
se consuma na própria vocação. Merece ser condecorado pela suprema
autoridade".
Terminada
a guerra, pouco depois entrava para a Congregação Salesiana. Em 1923 foi
enviado, pelos superiores, ao Brasil. Aqui, por 25 anos se devotou apaixonadamente
ao ministério das almas, ao amor de Deus e à penitência.
Trabalhou
em Niterói, no estado do Rio Grande do Sul, de Sta. Catarina e São Paulo, onde,
na cidade de S. José dos Campos findou a heróica existência com fama de
extraordinária santidade.
Em
todo lugar por que passou, chamaram-lhe o "Padre Santo".
Era de vê-lo em suas atitudes de
respeito e de suma humildade diante de seus semelhantes. O seu devotamento
comovente para com os pobres, doentes e humildes. O seu ardor de catequista e
de confessor cheio de espírito de mansidão e piedade.
O
seu desapego das honras e dos bens perecedores desta terra. Toda a sua pessoa
era um apelo para a realidade sobrenatural.
Caminhou
com Deus em todos os dias de sua vida e a presença divina a sentia tão familiar
e tanto respeito manifestava por ela, que o víamos sempre com o chapéu na mão, ainda
sob o sol mais inclemente, quando andava à cata de suas almas para salvar.
Castigava
o seu corpo inocente acumulando para a eternidade um tesouro inestimável de
méritos.
Quem
o conheceu, certamente se lembra ainda com edificação de sua magra figura, os
olhos sempre baixos, o terço na mão.
Recolhido
sempre. De dia no exercício do sacro ministério. De noite prostrado longamente
no pavimento diante de Jesus Hóstia na mais férvida oração ou retirado no
quarto repousando no duro chão.
Fez
tudo por amor de Deus. Não magoou ninguém. Escondeu-se totalmente dos olhos do
mundo. Aspirou sempre à perfeição e lá chegou.