Nota: Maria Lacerda de Moura é conhecida como a pioneira do feminismo no Brasil. O texto que segue são excertos de uma dissertação apresentada à uma banca examinadora de um programa de Pós-graduação em História (apresentada por uma aluna favorecendo a visão feminista, o que é de se lastimar...).
Podemos ver como infelizmente os escritos e idéias desta feminista e de tantas outras como: George Sand, Ivone Gebara, Clara Zetkin, Elisabeth Badinter, Simone de Beauvoir, Betty Friedan, etc., influenciadas muitas vezes por diabólicos pensadores como: Lênin, Karl Marx (ver Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz - O marxismo: origem da ideologia de gênero); Engels, etc., tiveram grande influência na época no meio feminino e hoje os princípios feministas estão introduzidos até mesmo nos meios ditos "católicos".
Sugiro para reflexão as seguintes leituras:
Ver também:
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Maria Lacerda de Moura
Ativista durante as décadas de 1920 e 1930, Maria Lacerda declarou-se individualista, anti-social, anti-clerical, anti-fascista, adepta do amor livre, da maternidade consciente e da emancipação da mulher em relação ao homem e ao capital.
Maria Lacerda de Moura publicou vários artigos. Participou ativamente das discussões políticas de seu tempo ao dialogar com comunistas, anarquistas, feministas, educadores, democratas, jornalistas, enfim, vários segmentos importantes no Brasil do início do século XX.
Maria Lacerda de Moura nasceu na fazenda Monte Alverne em Manhuaçu/MG, em 16 de maio de 1887. Seu pai foi Modesto de Araújo Lacerda e, sua mãe, Amélia de Araújo Lacerda, ambos adeptos do anticlericalismo.
Em 1921 mudou-se para São Paulo e interou-se de questões importantes para a sua vida intelectual e militante; momento de engajamento na luta pela emancipação da mulher. Maria Lacerda de Moura e algumas militantes anarquistas, fundaram a Federação Internacional Feminina. A proposta da Federação era discutir questões relativas à mulher e à criança com vistas a transformar as relações estabelecidas na sociedade capitalista. As militantes questionavam a educação formal, as condições de trabalho, a subjugação da mulher aos dogmas católicos, o sistema representativo e a estrutura estatal. Uma das reivindicações da Federação era a introdução de uma disciplina que discutisse a história da mulher nos cursos superiores.
Maria Lacerda de Moura defendeu a emancipação de uma mulher servil, dependente e que não tinha autonomia sobre seu próprio corpo, pois não era livre para decidir sobre maternidade, casamento e vida profissional. Ao lado disso, defendeu a emancipação de um homem subordinado a um sistema escravizante, violento e excludente.
"Liberte-se! Liberte-se do embrutecimento causado pelo capitalismo e da mentira de sua inferioridade perante o homem! Lute pelo domínio de seu próprio corpo e não por um cargo político!" - dizia Maria Lacerda. "Homem: abandone a ganância, a violência, a guerra e a submissão de seus pensamentos! Seja livre!"
Lançou os livros Civilização - tronco de escravos (1931); Amai e ... não vos multipliqueis (1932); Serviço militar obrigatório para a mulher? - Recuso-me! Denuncio! (1933); Clero e fascismo - horda de embrutecedores (1934); Fascismo - filho dilecto da Igreja e do Capital (1934).
As críticas de Maria Lacerda ao clericalismo estavam relacionadas aos valores difundidos pela Igreja através de uma educação moralista e sexista, definidora dos papéis masculino e feminino na sociedade. À mulher cabia ser esposa, mãe e dona-de-casa. A religião, portanto, fortalecia a família burguesa e a manutenção da propriedade privada. Nesse sentido, o catolicismo contribuía para a domesticação feminina e a manutenção de sua condição de “dupla escrava”. Durante a década de 1930, Maria Lacerda se engajou na luta contra o fascismo e estabeleceu críticas à Igreja por apoiar o autoritarismo e a violência do Estado fascista.
Maria Lacerda apontou sua crítica à família ao analisar o sentimento de posse do homem sobre a esposa e os filhos. Em vários artigos, discutiu as relações autoritárias presentes nessas relações.
"A família é, logicamente, a fraude, a mentira, a exploração do trabalho da mulher no serviço doméstico obrigatório só para o “sexo fraco”, - porque é “indigno” do homem, do “sexo nobre”, do “superior."
(MOURA, Maria Lacerda de. Religião do Amor e da Beleza. São Paulo: O Pensamento, 2ª edição, 1929, p. 164.)
No entanto, Maria Lacerda afirmava que a Igreja Católica exercia poder principalmente sobre a mulher, a começar pela educação religiosa a qual é submetida desde criança. Esses ensinamentos imputavam às mulheres um sentimento de inferioridade e impureza, devido a idéia do pecado original.
A internalização desses dogmas impedia o crescimento intelectual das mulheres, a liberdade de pensamento
"A razão não tem o direito de sufocar o sonho. Reduzir a inquietude a preconceito religioso é um crime e um preconceito mais vulgar. Metafisica não é religião. A religião é muleta para os fracos e ignorantes. Não basta, não satisfaz à curiosidade dos que já escalaram mais alto. Também a ciência oficial nada pode explicar das cousas transcendentais. Paira à superfície. Cultiva o preconceito do saber absoluto. E não responde às nossas interrogações, à inquietação do nosso espírito insatisfeito".
(MOURA, Maria Lacerda de. Ferrer, o Clero Romano e a Educação Laica. São Paulo, Editorial Paulista,1934, p.58.)
"A vida social exige no homem e na mulher características especiais, atributos definidos afim de assegurar o bem estar coletivo.O homem nasce com qualidades indispensáveis aos feitos de homem. A mulher tem em si o gérmen hereditário para preencher as suas funções. Pondo de parte, porém, a questão dos sexos, a multiplicação da espécie, pergunta-se: uma humanidade só de homens seria completa? Da mesma maneira raciocinaremos com relação à mulher: fariam elas mundo harmonioso no seu conjunto? Não faltaria a essa humanidade algo viril para completa-la? O homem é homem antes de ser pai. É sábio ou generoso, filósofo ou operário, político ou guerreiro, inventor ou andarilho ... E por que razão nos dizem com arrogância axiomática: a mulher nasceu para esposa e mãe, para o lar? Se o homem, socialmente falando, tem fins a preencher independente do sexo, a mulher não menos, é claro. A enfermeira, a operaria, a cientista, a escritora, a professora, a medica, a farmacêutica, a diplomata, a filantropa, a diretora de hospitais e creches, etc., etc., entregar-se-á mais bem aos deveres sociais se não tiver filhos. Assim, também a mulher, socialmente falando, nasceu mulher antes de ser esposa ou mãe. Não há duvida: o homem não foi à plenitude do seu desenvolvimento quando não agiu senão em beneficio social - esquecendo-se da missão de pai de família. A mulher falhou na vida se não teve ocasião de derramar em volta do lar os tesouros de amor e carinhos reservados para um homem e para os filhos. Os dois se completam. São diferentes e indispensáveis um ao outro. A educação tem portanto dois ramos:
- Educar o pai de família para os deveres do lar.
- Educar o cidadão para ser útil á coletividade.
- Educar a mulher para esposa e mãe.
- Educar a mulher para colaborar na vida social"
(MOURA, Maria Lacerda de. Das vantagens da educação intelectual e profissional da mulher na vida pratica das sociedades. O Internacional, São Paulo, n. 74, p. 1, 15/05/1924).
É interessante perceber como Maria Lacerda fez apontamentos cruciais no que diz respeito à condição feminina. São críticas que remetem à problemática da divisão sexual do trabalho num momento em que as mulheres brasileiras entravam no mercado de trabalho formal.
O discurso que naturaliza a mulher como esposa e mãe contribui para a definição de papéis sociais para homens e mulheres, inclusive no que diz respeito ao mundo do trabalho. A autora questionava esse discurso limitador, sexista. Além disso, as análises de Maria Lacerda apontavam que os homens só se tornavam ótimos profissionais porque negligenciavam o lar. A enfermeira, a operaria, a cientista, a escritora, a professora, a medica, a farmacêutica, a diplomata, a filantropa, a diretora de hospitais e creches, etc., etc., entregar-se-á mais bem aos deveres sociais se não tiver filhos.
(Ibidem)
A naturalização da mulher como mãe e dona-de-casa é uma armadilha discursiva efetiva ainda vivenciada socialmente. Apesar da mulher ter ocupado o mercado de trabalho, ainda recai sobre ela a maior responsabilidade com o lar e os filhos. O mercado necessitou da mão-de-obra feminina, mas não houve, ainda, uma transformação radical na vida privada...
(PS: Grifos meus)