Parece inútil esta pergunta. Os
filhos, direis, são dos pais e especialmente da mãe. Não é a mãe que os traz
durante tanto tempo no seu seio? Que os nutre com seu próprio sangue e com seu
leite e os considera como uma coisa única consigo mesma?
A mãe começa a amar a sua criatura
antes mesmo que ela comece a alegrá-la com seus amáveis sorrisos.
Um filósofo antigo fez esta pergunta:
Quem é que mais ama os filhos, o pai ou a mãe? A mãe, responde ele, porque ela
os traz à luz com dores indizíveis.
Certamente a mãe vê em sua criatura
uma parte de si mesma. E assim, parece que à pergunta: De quem são os filhos? -
pode-se responder: - os filhos são da mãe. E, contudo, isso não é exato. Pois
então, de quem são? São de Deus. Eis aqui a demonstração: Vede o que acontece
com a morte. Por maior que seja o amor de uma mãe para com a sua criatura,
ninguém a conserva em casa depois de morta.
Quão comovedor é o fato contado por
Manzoni no seu livro "PROMESSI SPOSI", daquela mãe que leva em
seus braços o corpúsculo inerte da própria filha! Veste-a de branco, beija-a e
ela mesma coloca-a no carro fúnebre para que a levem ao cemitério. Por quê?
Porque com a morte a alma separou-se do corpo e todos sabem o que acontece
quando a alma se separa do corpo.
Lembrai-vos ainda, quando pela
primeira vez estreitastes vosso filho em vossos braços?
Quão grande a vossa ventura ao
contemplar aquele pequenino ser, ao vê-lo abrir os olhinhos e fixarem-se pela
primeira vez nos vossos, ao ver despontar em seus lábios o primeiro sorriso, ao
sentir seus bracinhos em redor de vosso pescoço!
Que é que tornava tão amáveis aqueles
olhos e aquele sorriso? A alma. Com a alma há vida, amabilidade, alegria: sem
alma, morte e corrupção. Mas de onde procede a alma? Sabemos o que fez o Senhor
quando criou o primeiro homem. Tomou o barro e fez uma estátua: - eis a parte
que em nós tem a matéria - e depois sobre aquele rosto de terra soprou o
espírito, a alma, a vida. E assim estava criado o primeiro homem. Pois bem! De
quem procede a alma? De Deus. Não é, certamente, uma parte ou uma emanação da
alma dos pais. É uma criação imediata de Deus o qual a tira do nada por um ato
de sua onipotência no momento em que forma o primeiro núcleo do corpo da
criança. A alma, pois, é a parte principal do filho; sem ela, não é mais que um
cadáver.
Ainda mais, o corpo, quanto à
substância de que está formado, pertence a Deus. Um artista conhece a obra de
suas mãos, mas os pais, que sabem da formação de seus filhos? De quantos ossos
consta o es-queleto humano? Quantos ossos há em um pé ou em uma mão? Quantas
vértebras formam a espinha dorsal? De quantos tecidos está formado o olho? O
aparelho digestivo?
Nenhum sábio do mundo foi capaz de
colocar asas num mosquito ou fazer um fio de erva e quereis que uma mãe que não
sabe nem de que elementos se compõe o pão que come, seja capaz de formar um ser
como a criança que é um milagre portentoso do poder divino?
Miguelângelo cobriu-se de glória por
ter esculpido o Moisés; mas, que é um Moisés de mármore em comparação com uma
criança viva?
De modo que, o filho é de Deus, não
somente quanto à alma, mas tam-bém quanto ao corpo. E ainda há mais. O filho,
além de ser homem é também cristão. E, portanto, não recebeu de Deus somente o
corpo e a alma: recebeu também por meio do Santo Batismo a graça santificante,
isto é, amizade de Deus. E este dom é tão grande e tão superior à vida
natural que a inteligência humana jamais chegará a compreendê-los.
Pois então, direis, o que fica para a
mãe?
A mãe é sempre a pessoa mais querida
e agradável; o filho deverá amá-la, respeitá-la, venerá-la e nunca fará para
ela coisa alguma que seja demais.
Restará sempre à mãe a glória de ter
sido íntima cooperadora da onipotência divina para dar a vida a um ser humano,e
por isso deveis compreender bem como era necessário que o matrimônio fosse não
somente um ato civil, mas ao mesmo tempo um SACRAMENTO, para elevar a mulher a
tão alta dignidade.
A mãe será sempre uma terra fértil na
qual Deus deposita a se-mente fecunda da espécie humana, semente que ela nutre
com seu próprio sangue, e com seu leite e que mediante inúmeros sacrifícios
leva até a sua formação total. Os filhos, pois, são de Deus,e a Deus pertencem
e se Ele os quer para si, para seu serviço, a mãe não pode negá-los sem cometer
um delito. Este pensamento de que os filhos são de Deus poderá também consolar
as mães necessitadas que temem uma prole numerosa, já que poderão dizer
apertando o filho nos braços: MEU TESOURO!
O BOM DEUS QUE TE CRIOU PENSARÁ
TAMBÉM EM TI!
Trecho do livro MATERNIDADE CRISTÃ –
PE. HUMBERTO GASPARDO