Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
II- Dos recreios
O
trabalho e a aplicação das crianças devem ser interrompidos por meio de
recreios, e animados por meio de recompensas.
Não
pode o arco conservar-se sempre retezado, dizia S. João ao caçador, que parecia
censurar-lhe a sua distração, quando caçava uma perdiz. Mas é principalmente às
crianças que uma longa tensão de espírito é funesta ou impossível; é preciso,
pois, procurar-lhes momentos de descanço, que ao mesmo tempo que recreiam o
espírito, fortificam e avigoram o corpo. — «Afinal, o cuidado que se tomar em
mesclar de prazer as ocupações sérias, servirá de muito para afrouxar o ardor
da mocidade pelos divertimentos perigosos. A sujeição demasiada é que origina
a impaciência pelos divertimentos, disse Fénelon. Se uma menina se não
enfastiasse de estar junto de sua mãe, não teria tanta vontade de lhe fugir,
para ir procurar companhias que lhe podem ser prejudiciais.» Todavia nada seria
mais perigoso para a criança do que um descanço ocioso e sem vida; longe daí
encontrar a alegria e o ardor para o estudo, apenas conseguiria ganhar costumes
impróprios, e talvez mesmo viciosos.
— «É ordinariamente um mau indício,
quando uma criança não folga, ou não gosta de brincar», diz Mgr. Dupanloup. Mas
um recreio bem escolhido, um exercício moderado do corpo aumenta a atividade
do espírito, e preserva das incitações para o vício. Mas os recreios só
produzem estes resultados, quando não são demasiadamente prolongados. O nosso
corpo, se lhe concedemos algum descanso no trabalho, torna-se mais vigoroso, e
mais bem disposto, enquanto que um longo descanso apenas o torna fraco e
preguiçoso. O mesmo sucede ao espírito: uma curta recriação excita-o, e uma
longa inação fá-lo cair no torpor. «Nos divertimentos, é conveniente evitar as
sociedades suspeitas; nada de rapazes juntos com raparigas» disse sem rodeios
Fénelon. Já muito tempo antes dele, dizia S. Jerônimo, escrevendo a Gaudêncio:
«Não permitais que Pacatula brinque senão com meninas como ela, de forma que
nunca saiba brincar com crianças doutro sexo, nem mesmo que assista aos seus
divertimentos.» Como já acima dissemos, Pacatula apenas tinha sete anos.
«Os
brinquedos que dissipam ou apaixonam, confirma o imortal arcebispo de Cambrai,
as frequentes saídas de casa, e as conversas que podem causar vontade de sair,
devem ser cuidadosamente evitadas. Quando uma criança não está ainda eivada de
certos costumes, nem sente em si paixão ardente, encontra, facilmente alegria,
que lhe faz conservar a saúde e a inocência. Quem teve porém a desgraça de se
acostumar aos prazeres violentos, perde o gosto dos prazeres moderados, e nunca
encontra distração que o encante...
Quem souber ter a temperança que faz a
saúde do corpo e da alma, não carece nem de espectáculos, nem de fazer despesas,
para se divertir; um pequeno jogo que invente, uma leitura, um trabalho que se
empreenda, um passeio (um arco, uma bola), uma conversação inocente que
distraia depois do trabalho fazem sentir uma alegria mais pura, que a música
mais encantadora. É fato que os prazeres simples são menos vivos e menos
sensíveis, mas são muito mais úteis, produzem uma alegria igual e duradoura,
sem terem más consequências; são sempre benfazejos»[1]. É preciso, pois,
fazê-los amar às crianças, e inspirar-lhes tédio e aversão para todos esses
prazeres cheios de perigos que a mocidade procura hoje com tanto frenesi, tais
como espetáculos, danças e festas mundanas.
Os
pais de S. Francisco de Sales, durante a infância de seu filho, só lhe
consentiam recreios convenientes à sua idade; nunca lhe permitiram jogos de
azar, como cartas ou dados, porque sabiam que esses jogos fatigam o espírito e
não o distraem, apaixonando muitas vezes o homem, contra a sua felicidade,
tempo e fortuna, e até mesmo contra a própria saúde; mas só lhe permitiam os
jogos, que são um exercício moderado, que não exigem senão destreza nos
membros, celeridade na carreira, ou agilidade nas maneiras.[2]
Seria
aqui ocasião de falar das férias, esse longo recreio destinado a descançar o
aluno das fadigas do colégio, e a conservar nele o amor da família.
Permitam-nos a insistência, mas é preciso, que nesta ocasião a mãe saiba
cumprir exatamente, com a mais atenta solicitude, todas os deveres que até aqui
expuzemos, e todos os que mais adiante exporemos, mormente tratando-se da
vigilância. Ah! para quantos jovens se tornam as férias, por culpa dos pais,
um tempo de perigos, e a ocasião de mil quedas.
Notas:
_______________
[1]
Fénelon
[2]
Vida de São Francisco de Assis