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A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
X- Da duração da educação
«Os
cuidados, as solicitudes paternas e maternas não devem cessar, nem mesmo
afrouxar, quando está prestes a findar a educação; porque a missão do pai e da
mãe está longe de findar neste momento; é mesmo então que começa para ambos o
mais sério dos deveres, o que é ao mesmo tempo o mais difícil, e o mais
necessário para cumprir. E todavia sob a influência das preocupações mundanas,
e também não sei porque temor pusilânime, porque triste sentimento da sua
fraqueza, a maior parte dos pais imaginam ter terminado o seu dever; depois
costumam dizer de si para si que a educação acaba com o colégio, que um jovem
de dezoito anos ou já está educado, ou nunca o estará, que não se pode já obrigá-lo,
nem constrangê-lo, que seria fazer mais mal, do que bem, etc., etc. Quem não
tem ouvido dizer tudo isto? E é sobre todos estes belos pretextos, que eles
abdicam definitivamente toda a sua autoridade paterna!» [1]
O
filho do povo é quase totalmente subtraído à influência materna, desde que
completa os quatorze anos; mandam-no para a cidade, ou aprender algum ofício,
e ninguém mais se ocupa dele. Ou então, se fica sob o teto paterno, é
inteiramente senhor das suas ações, e a mãe não se atreve nem a repreendê-lo
nem a instrui-lo. Insensatos pais! Abandonais a si próprios os vossos filhos,
no momento em que as paixões começam a fazer-lhes sentir o seu tirânico
império, e quando por conseguinte mais precisavam de serem retidos por uma mão
firme e segura! — «Não é nesta idade que deveríeis firmar a vossa autoridade
com nova força e carinho, para acabardes uma educação que os perigos do mundo,
a mocidade e as paixões tornam mais necessária que nunca? Dizem muitas vezes
para se consolarem: Deixem passar os verdores da mocidade! Pois bem, eu,
exclama o ilustre bispo de Orleans, nunca o pude assim pensar, e nada me parece
mais doloroso que as loucuras da mocidade, nem entre as coisas tristes, que nos
fazem muitas vezes chorar, sei de nada que despedace mais o coração»[2].
Pouco
importa começar bem, o que tem de acabar mal. O campo cultivado com cuidado,
torna-se estéril, se lhe desprezarem depois a cultura. É em vão que se lança à terra
uma boa semente, embora ela depois germine, se antes da ceifa, a zizania abafar
o grão. Se deixais secar, pelo sopro ardente das paixões, o gérmen de salvação,
deposto na alma de vosso filho, tereis perdido, ó mãe, a vossa primeira
solicitude e os vossos primeiros trabalhos; e conceder-vos-á Deus a
recompensa, Ele que não promete a coroa, senão a quem combate até ao fim?
Não
abandoneis muito cedo, nem abdiqueis de todo o nobre encargo da educação.
Deveis conservar até ao fim a vossa benéfica influência. É fato que aos dezoito
anos, como observa Mr. Dupanloup, deve um rapaz começar um pouco a andar só:
não pode, nem deve sempre andar agarrado ao braço de sua mãe. Às melhores mães
custa-lhes um pouco a concordar com isso; mas a criança, como diz Fénelon, não
pode andar sempre agarrada às saias da mãe; mesmo, quando criança nem sempre
lhe deram o peito; foi apartada do leite, e ensinaram-na a andar só. Mas só
pouco e pouco, e como insensivelmente, é que se lhe pode dar a liberdade, que
ela mais tarde deverá possuir inteiramente. Deixá-la completamente
independente, seria perdê-la, é ir contra a ordem expressa do Espírito Santo: Non des illi potestatem in juventúte.
Livrai-vos de deixar vosso filho entregue a si próprio, durante a mocidade.
Vigiai os seus passeios, com uma atenta solicitude. Quando errar repreendei-o,
sem o ferir; não o fatigueis com muitas recomendações, e se virdes que recebe
de má vontade os vossos conselhos, não insistais. Se cometer uma falta grave,
é bom que sinta em vós um coração aberto, como porto que se abre a um náufrago.
Suportai-o, sem o lisonjear[3].
Se
persevera nos seus erros, mais deve aumentar então o vosso zelo. «Durante essas
horas cruéis em que a mãe treme pelo que tem de mais precioso no mundo, reza
mais do que fala; espera, sofre, devora a sua mágoa: mas o seu silêncio, junto
de um filho transviado é de uma admirável eloquência. Esse rosto de uma mãe
profundamente triste, esse abatimento silencioso, revelam tão viva compaixão,
uma dor tão amarga, que o desgraçado não se pode conter. Que digo? para trazer
uma alma ao aprisco da fé, e lançar por terra todos os seus erros, basta muitas
vezes um só olhar[4]».
Notas:
______________________
[1] Mgr. Dupanloup.
[2] Mgr. Dupanloup.
[3] Mgr. Dupanloup.
[4] Fénelon, Mgr. Dupanloup.