Um esquadrão de demônios viu o Pe. Claret ao lado esquerdo de sua cama quando, ainda seminarista, foi vítima de horrorosa tentação que se dissipou com a doce aparição de Maria Santíssima.
E este exército infernal combateu-o principalmente na época das missões, com as quais tantas almas o Pe. Claret arrebatou ao inferno, para apresentá-las a Jesus como gloriosos despojos de combate.
Encontrava-se em Vich o santo missionário.
Uma manhã, as pessoas da casa onde ele estava hospedado viram com grande surpresa que não descia para tomar seu café, na hora de costume. Temeram que estivesse indisposto. Bateram à porta, entraram no quarto e perguntaram-lhe se se encontrava adoentado.
– Sinto uma dor profunda no lado esquerdo – respondeu.
Alarmados com isto, pois o Pe. Claret não costumava queixar-se, chamaram o médico. Chegando este, mandou que descobrisse o lado afetado, e afastando a roupa, viu no lado esquerdo uma ferida como se uma fera lhe houvesse despedaçado a carne com as garras, deixando à mostra algumas costelas.
Ninguém conheceu a causa desse ferimento, porque o Pe. Claret nada dizia; mas todos acreditaram ser efeito do demônio que assim queria atormentar as carnes do inocente missionário.
Voltou por duas vezes o médico, e vendo que havia sinais de gangrena, após uma demorada consulta, resolveu ser necessária uma intervenção cirúrgica, e determinou fazê-la na manhã seguinte.
Veio; bateu à porta do doente, mas este não respondeu. Perguntou por ele, alarmado, e enquanto esperava, apareceu risonho o doente prodigioso.
– Não se espante, disse-lhe, ajude-me a agradecer a Deus este favor. Esta noite Nossa Senhora curou-me.
O doutor, atônito, mandou descobrir o lugar da ferida; e notou com surpresa que já havia cicatrizado, e o lugar recoberto de pele branca e firme.
– Milagre! – exclamaram a uma voz todos os circunstantes.
***
As perseguições do demônio eram mais freqüentes na época das missões.
Pregava o Pe. Claret em Sarreal, província de Tarragona. As multidões, comovidas, tomaram quase que de assalto a igreja; invadiam-na, deixando-a repleta; e muita gente se acotovelava no adro por não poder entrar no templo.
Quando o missionário estava mais fervoroso e emocionante no sermão, desprendeu-se do arco central do templo uma pedra enorme, que caiu em pedaços sobre a multidão.
– Não é nada!, gritou o Pe. Claret, ninguém se mova! É o demônio que quer impedir o fruto da santa missão. Mas não tem permissão de Deus para vos fazer mal.
Assim foi; pois os diversos pedaços não feriram a ninguém. Este milagre aumentou o fervor e o entusiasmo do auditório, e assim ficou derrotado o demônio.
***
Pregava, doutra feita, perante enorme concorrência. Estava já na metade da missão. O povo cada dia dava maiores demonstrações de piedade e arrependimento.
Era de noite. Quase todos os habitantes estavam reunidos na igreja. Quando o Pe. Claret tomou nas suas mãos o santo crucifixo para findar o sermão com fervorosa súplica, um desconhecido entrou à viva força no templo, alvoroçando o povo e gritando:
– Fogo! Fogo! Que se queima uma casa. Auxílio! Socorro!
O Pe. Claret, com voz forte, disse, interrompendo o sermão:
– É o demônio! Não há casa alguma a arder. E para que vos convençais, que vá o sacristão constatar o fato. Se houver fogo, iremos todos apagá-lo; mas, enquanto não vier o aviso, ficai tranquilos e sossegados.
Chegou o sacristão e disse não haver sinal nenhum de incêndio... Então o povo quis dar uma sova no homem, mas este, misteriosa e subitamente, desapareceu.
– Não vo-lo dizia?, exclamou o Pe. Claret, era o demônio, inimigo de vossas almas, que pretendia impedir o fruto desta santa missão.
E tomando pé deste fato, pregou novo sermão sobre a importância da salvação.
As lágrimas e soluços da multidão acompanhavam as palavras do missionário. O fracasso do demônio não podia ser maior nem mais humilhante.
***
A conquista das almas foi o lema que escreveu o heróico missionário no programa do seu apostolado. E para o efetuar, reproduziu na sua vida o catálogo de sofrimentos e perseguições que sofreu, no seu tempo, o Apóstolo das Gentes [São Paulo].
E como não devia ser alvo da perseguição, se cada alma, cada coração conquistado para Cristo era um despojo, que arrancava violentamente das garras de satanás?
Por isso, o demônio devotava ódio ferrenho às missões do Pe. Claret; porque principalmente com elas obtinha os grandes triunfos. E para impedi-los, lançou mão de todos os meios o príncipe das trevas.
***
Foi em Masnou, província de Tarragona.
Pregava o Pe. Claret uma missão. As povoações vizinhas, entusiasmadas e a se penitenciar, vinham todas as tardes escutar atentamente a palavra do missionário. Uma multidão compacta e fervorosa enchia o vasto templo paroquial.
Apareceu na capela-mor o Pe. Claret e entoou, em frente do auditório, um cântico da missão.
A multidão, que conhecia aquele cântico, acompanhou-o unissonamente, como imensa massa coral.
O organista, Pe. João Quintana, carmelita calçado, assentou-se ao órgão para acompanhar o canto. Mas, contra a vontade do organista, saía dos tubos do órgão a música duma canção escandalosa, muito em voga naquele tempo em teatros e tabernas...
O público emudeceu, escandalizado, e logo alvoroçou-se diante do insulto...
O organista, espantado, trabalhava para dominar o teclado do órgão, mas seu esforço era em vão. A canção continuava soando escandalosamente.
Então o Pe. Claret subiu rapidamente ao púlpito e, dirigindo-se à multidão, disse com voz dominadora:
– Meus irmãos, não vos espanteis! É o demônio que, com esta canção escandalosa, quer inutilizar o fruto dos sermões...
E erguendo a mão em direção ao coro, gritou:
– Sr. Organista, abra o registro flautado, porque dentro dele está o demônio.
Assim fez o organista, e o demônio fugiu vencido.
O órgão acompanhou harmoniosamente os cantos da missão; serenou o auditório e, ao findar a pregação, puderam recolher os ceifadores evangélicos do campo espiritual magnífica colheita de pecadores convertidos.
***
Estava um dia a pregar em campo aberto. Foi uma solenidade religiosa em que milhares de ouvintes se reuniram para escutar o sermão do ilustre missionário.
Quando sua palavra apostólica ecoava mais eloqüente e ungida de piedade, cobriu-se o céu de nuvens pardacentas; despontou o raio e o trovão, e em torvelinho de poeira se desencadeou o furacão.
A multidão, aterrorizada, começou a fugir, mas o Pe. Claret a conteve, dizendo:
– Ninguém se mova! É o demônio que vem, envolto na tempestade. Prestes fugirá, vencido.
[E tal ocorreu.]
Em outro dia, pregava uma missão na igreja. Mas era tão numerosa a assistência, que se viu forçado a improvisar um púlpito em praça pública. Ao império da sua eloqüência sobrenatural, a multidão, entre profundos soluços e lágrimas sinceras, implorava de Deus perdão para seus pecados.
De repente ouve-se um golpe como se fosse uma chicotada, no púlpito; o rosto do Pe. Claret contrai-se em trejeitos de dor; seu corpo treme; e, quando parece que vai cair, e o público, alarmado, se precipita para ampará-lo, brada com voz serena:
– Deixai-me... nada receeis. É o demônio que me deu este golpe para que não pregue mais.
O Pe. Claret ficou em silêncio alguns minutos, e o povo a chorar e com os braços ao alto, exclamava:
– Perdão, ó meu Deus! Perdão e clemência!
***
Foi desta vez em Igualada. A missão estava dando belos resultados. Já de público se contavam as grandes conversões, e estavam prestes a dar esse passo outros muitos pecadores.
Para mover a estes que permaneciam hesitantes, o Pe. Claret preparou com a oração e o estudo, um sermão especial: o sermão da Madalena.
Todos choravam ao escutá-lo... Sua palavras era uma concentração luminosa e palpitante de todas as ternuras, de todos os arrependimentos, de todos os amores que sentiu na hora feliz da sua conversão a Madalena, a sublime penitente...
Quando mais ardentes e gerais eram os soluços no auditório, um ruído espantoso alvoroçou o público.
Milhares de cães raivosos brigavam, mordiam-se, despedaçavam-se invisivelmente na igreja; perseguiam-se, desgarravam-se com uivos aterradores. A multidão, consternada, lançou um grito de espanto. Todos olhavam em redor, mas ninguém via onde estavam os cachorros.
Então o Pe. Claret, estendendo a mão sobre o auditório disse:
– Calma, meus irmãos! Calma! Não vos espanteis. Esses cães são os demônios que receiam vos aproveiteis da santa missão. Desprezai-os e logo vos largarão.
Tranqüilizou-se o público ao ouvir estas palavras do santo missionário; os demônios fugiram e a matilha de cães emudeceu...
Mais tarde, o Pe. Claret, referindo-se a esta época de suas missões, consignou em sua ‘Autobiografia’ estas singelas palavras:
– Se foi grande a perseguição que contra mim levantava o inferno, imensamente maior foi a proteção do céu. Conhecia visivelmente que a Virgem Santíssima, os Anjos e Santos me conduziam por caminhos ignorados; livraram-me dos ladrões e assassinos, e me conduziram a porto seguro, sem que eu conhecesse o modo.
(Pe. João Echevarria, CMF, in: Santo Antônio Claret, Editora Ave-Maria, São Paulo: 1962, 2ª edição, páginas 101-107)
PS.: Agradeço a alma generosa que me enviou o texto, Deus lhe pague!
PS.: Agradeço a alma generosa que me enviou o texto, Deus lhe pague!