segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Caridade Fraterna - Última parte (Padre Álvaro Negromonte)

PECADOS CONTRA A CARIDADE


Assim como todo pecado é contrário ao amor de Deus, podemos também dizer que todo pecado contra o próximo viola a caridade fraterna. Mas há pecados que se orientam contra o amor do próximo, ferindo-o diretamente.

Os pecados de omissão, além, de muito freqüentes, podem ser tão graves que levam até ao inferno, segundo as palavras de Jesus (Mt. 25, 42-43) e a condenação do rico avarento. Há outros pecados que estudaremos agora, com a preocupação de evitá-los, a fim de nos mantermos no amor do próximo, que é dos sinais de que vivemos na graça divina.

            I. Ódio

1. Amar é querer o bem para o próximo. Odiar é querer o mal.

2. É diferente o sentimento que experimentamos contra os defeitos do próximo. “Amai os homens, e combatei os seus erros”. Mas esta detestação dos defeitos não atinge as pessoas.

3. Não é ódio a antipatia natural que nos causam algumas pessoas, ou mesmo o transtorno sensível que nos inspiram pessoas cuja presença nos lembra desgostos ou males que por sua causa padecemos. São movimentos instintivos, que não constituem pecado, embora os devamos refrear por serem um perigo para a caridade.

4. O ódio, em si, é pecado mortal, pois inverte totalmente a ordem estabelecida por Deus. “Quem odeia a seu irmão é homicida, e sabeis que nenhum homicida possui em si a vida eterna.” (Jo. 3, 15).

5. Constitui também uma verdadeira fonte de pecado: falseia a verdade, ora aumentando os defeitos reais, ora inventando-os; viola a justiça, negando ao próximo o que lhe é devido; favorece a calúnia, estimula à maledicência; levanta iras; fomenta rixas; estabelece discórdias entre famílias inteiras, passando, às vezes, de geração em geração; leva até ao homicídio.

II. Inveja

1. A inveja é a tristeza que se sente por causa dos bens do próximo. Toma-se a felicidade alheia como uma diminuição da própria. Daí o desejo de diminuí-la ou destruí-la, fazendo o mal ao próximo.

2. Quando o bem do próximo nos estimula, e nós queremos atingi-lo também, mas sem prejuízo a ninguém, não é inveja que sentimos. É uma legítima emulação, que leva à imitação das virtudes, muito natural, recomendada por São Paulo (Hb. 10, 24), aconselhada pela Igreja ao nos apresentar os exemplos dos santos, intimada pelo próprio Cristo, que se apresentou como nosso modelo (Mt. 11, 29).

3. Em si, é a inveja um pecado mortal, porque transtorna inteiramente a ordem da caridade, que é nos alegrarmos dos bens alheios.

4. Lamentavelmente são também as conseqüências da inveja.

Para diminuir o próximo, desacredita-o com maledicências e calúnias, praticando injustiças, fomentando discórdias, criando inimizades, dividindo famílias, perturbando a paz, impedindo o bem pela desunião dos bons (entre católicos). Foi a inveja que cometeu o primeiro crime do mundo (Caim: Gn. 4, 8), vendeu o irmão como escravo (José: Gn. 37, 28), inspirou a Saul a morte de Davi (1 Reg. 19, 8-10), consumou a morte do próprio Filho de Deus: “Porque sabia que o tinham entregado por inveja” (Mt. 27, 18).

            III. Vingança

1. Condenada por Cristo: “Não pagueis o mal com o mal” (Mt. 5, 31), a vingança é um pecado que revela maus sentimentos e baixeza moral.

2. O verdadeiro cristão sabe perdoar as injúrias que recebe. “Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos”. A parábola dos dois devedores (Mt. 18, 21-35) mostra como serão tratados os que não querem perdoar.

            IV. Escândalo

1. Escândalo (no grego significa tropeço) é uma palavra, ação ou omissão que dá ao próximo ocasião de pecado.

2. Se a pessoa faz isto com a intenção de levar o próximo ao pecado, sua falta é muito grave, mais grave do que o homicídio, porque mata a alma.

“Ai daquele homem por quem vier o escândalo. Melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o atirassem ao fundo do mar” (Mt. 18, 7).

3. Quem dá um escândalo fica responsável por todos os pecados que se cometem por sua causa. Ainda hoje proliferam escândalos dados há séculos. (Dar exemplos históricos).

4. Um bom cristão evitará mesmo algumas ações, que são boas mas possam escandalizar o próximo. É que a caridade obriga a evitar a ruína espiritual do próximo.

Para viver a doutrina

1. Tratemos com caridade as pessoas antipáticas, e estaremos praticando a caridade, melhor do que se as simpatizássemos.

2. Evitemos as pessoas cuja amizade não nos convém, cuja convivência nos é prejudicial. Isto não é inimizade, é prudência.

3. Pessoas elevadas gostam de ver a prosperidade alheia, e de ajudar o próximo em suas dificuldades. Dá mostra de nobreza quem se alegra com as boas notas dos colegas, a fortuna dos amigos, a prosperidade dos outros.

4. Em geral, é nossa ambição, vaidade, excessivo amor-próprio, desejo de louvor, etc., a verdadeira causa da inveja. Sofreássemos as paixões, moderando-nos, e sentiríamos o direito que têm os outros de ser felizes. E seríamos nós muito mais felizes. Porque o invejoso é realmente infeliz: sofre de sua própria desgraça e da felicidade dos outros...

5. Acostumemo-nos a perdoar o que sofremos. O perdão é o melhor sinal de que amamos a Deus no próximo. Ordena Jesus que nos reconciliemos sem demora. (Mt. 5, 25). O perdão eleva os homens como elevou a José diante dos próprios irmãos que o venderam.

6. Levando uma boa vida cristã, evitarei facilmente qualquer escândalo ao próximo. E nisto eu serei bastante cuidadoso, porque o mau exemplo de um católico recai também sobre a Igreja, que os ímpios freqüentemente acusam por causa dos erros individuais. Brilhem nossas boas obras diante dos homens para que Deus seja por todos glorificado (Mt. 5, 16).

7. Entre os jovens são, infelizmente, muito comuns conversas, cantigas e anedotas más, fonte, quase sempre, de graves ruínas. Não somente devemos evitá-las, mas impedir que outros as tenham. Às vezes, uma atitude séria basta. Outras vezes, é preciso dizer expressamente nosso desagrado, ou mesmo retirar-nos – sem nenhum receio de desagradar.

8. Pior que Herodes, o matador dos inocentes, é quem escandaliza as crianças, porque lhes tira a vida sobrenatural. No entanto, por minhas palavras, meu procedimento, eu posso em casa, no colégio ou na sociedade, escandalizar meus irmãos menores ou outras crianças. (De que maneira?). Muito cuidado, pois.

9. Para quem ama a Deus e quer a salvação do próximo, não escandalizar é pouco. Mesmo o apostolado do bom exemplo não basta. Desenvolverei um apostolado mais ativo, no meio em que vivo, a fim de afastar meus companheiros do pecado e conseguir que permaneçam no estado de graça. (Como há de ser este apostolado?).

(O Caminho da Vida, pelo Pe. Alvaro Negromonte. 15ª edição. Pgs. 212-217).

PS.: Agradeço a alma generosa (amiga) pelo envio do texto, Deus lhe pague.
PS.2: Ver as demais partes aqui: