A inveja é a tristeza que nos vem do fato de os outros possuírem bens. Esses bens é como se nos diminuíssem a nós próprios... O invejoso não pode tolerar a felicidade nos outros. Sente-se roubado em todas as comodidades, na educação, na graça, na tranqüilidade, na fortuna que descobre no seu semelhante. É a inveja que leva as mulheres feias a motejarem das bonitas, e que impele os tolos a denegrir aqueles que possuem merecimentos de espírito.
Incapaz de subir, o invejoso faz todas as diligências para que os outros se nivelem com ele. O seu vício caracteriza-se invariavelmente pela vulgaridade insidiosa e pretensiosa. Para ele, ser delicado é ser "efeminado". A seus olhos, as pessoas devotas são "hipócritas", as distintas são "complicadas", as cultas "pedantes".
O invejoso começa por perguntar a si mesmo: "Porque não tenho eu o que estes têm?" e conclui: "Se eles têm qualidades, é porque a mim me faltam!" A inveja é intratável. Vive de relações cortadas com o respeito e a honra. Não sabe dizer, em circunstância nenhuma, um "obrigado", a ninguém.
Aparentada ao orgulho, como este incapaz de tolerar rivais ou superiores, a inveja também tem parentesco com o ciúme. O ciúme consiste no amor desordenado de nós próprios, e nele vai de mistura o temor de sermos despojados por outrem do nosso sentimento de satisfação pessoal.
Invejamos os bens de outrem, mas dos nossos somos ciumentos. Torturados por esses dois vícios gêmeos, não faltam aí indivíduos que passam o seu tempo a denegrir as boas ações do seu semelhante. Forçados a reconhecer, no seu próximo, merecimentos que eles não possuem, procuram desacreditá-los, sistematicamente.
... A inveja esforça-se, de princípio, por achincalhar a reputação de outrem - e faz isso, quer por boatos e intrigas, quer por ataque direto a às claras. Conseguida a vitória de rebaixar o seu semelhante - goza com ela. Se o não consegue - sofre com o seu trabalho baldado... Mau é quando a inveja ataca o processo espiritual ou o apostolado doutrem... formentando conflitos, mantendo rivalidades, escarnecendo, denegrindo.
Explica-se essa atitude, em parte, pelo descontentamento e miséria moral de uma grande maioria dos espíritos. A miséria nunca gosta de se ver só. Os invejosos sentem como que um certo alívio interior, ao notarem os pequenos senãos dos grandes homens.
O mal repugna profundamente às pessoas de boa formação. E os santos, ao terem conhecimento dele, calam-no, e expiam-no pela penitência.
(Excertos do livro: Elevai os vossos corações - Arcebispo Fulton J.Sheen)