sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Inveja: " A sarna da alma"


A caridade proíbe a INVEJA

O que a caracteriza é um amor-próprio violento que aspira a ter tudo em detrimento dos outros; um egoísmo que não quer repartir com ninguém ; um desejo ardente de ser amado de maneira exclusiva; um sofrimento secreto à vista da felicidade de outrem, ou uma alegria maligna com as suas desditas, enfim uma paixão imoderada das distinções, das preferências e das atenções.

Um crítico pretendeu que todas as mulheres são mais ou menos invejosas. Sem dúvida é exagerado. Porém, mesmo assim, cumpre tomar cuidado com certos movimentos instintivos que poderiam surdir das profundezas da má natureza. Parecem bastante raras as almas femininas que não trazem em si o germe odioso deste vício. Um grande coração deve elevar-se acima das vilanias de uma paixão tão mesquinha e tão degradante.

Para conceber mais vivo horror dela, examinai as devastações que ela causa, assim na alma que ela tiraniza como mas outras a quem persegue.

Suas devastações

- A invejosa não tem mais nem alegria nem prazer: dir-se-ia que um véu fúnebre a circunda; ela sofre com a sua própria desgraça e com a felicidade dos outros.
- A invejosa julga sempre ver ironia no olhar das pessoas, a quem detesta; escuta incessantemente, para surpreender palavras malévolas nos lábios de outrem. Vigia as amigas para ver se o afeto delas é sincero; não tolera provas de benevolência cuja melhor parte não seja para ela.
- A invejosa sofre uma verdadeira tortura moral, que não lhe traz nada...a não ser novos sofrimentos. As outras paixões têm uma certa satisfação momentânea; a inveja é um fogo devorador que arde e rói o coração e não proporciona nenhum gozo.
- A invejosa sente que se rebaixa pelo seu vício; mas se cegará a ponto de jamais querer confessá-lo, e mesmo de censurá-lo seriamente a si mesma! Para se curar, medite ela, pois estas palavras de La Bruyère: "A inveja, que muitas vezes, não passa de indigência de espírito, denota muito mais a pobreza do coração."

A inveja, enfim, é malvada e facilmente se torna feroz. As mentiras mais odiosas não a fazem recuar; a sua alegria é ver sofrer e fazer sofrer os outros. Não se pode compará-la melhor do que ao demônio, cuja inveja para com os homens vai até ao ódio.

E não acrediteis que esse vício odioso não seja gravíssimo:

"Ele se oculta sob o manto da zombaria, da mentira, de um interesse hipócrita, de conselhos falazes, de indiscrições comprometedoras, de perguntas insidiosas, de exageros tolos, de ingerências culpadas, de informações superfíciais ou notóriamente falsificadas, e de muitas outras maldades que se penetram com um sorriso ou com um suspiro, agitando o leque, às vezes mesmo entre duas dezenas de terço." (Henri Lassere)

Por que se deve combatê-la?

1) Ela transtorna o coração: O nosso coração foi criado por Deus para amar o bem e odiar o mal. Ora, a inveja odeia o bem do próximo e aplaude o mal. É o contrário da ordem estabelecida por Deus!
2) Transtorna a inteligência e o juízo: A pessoa invejosa não sabe ver coisa alguma sob a luz requerida; desarrazoa, e mostra-se sempre má quando se trata de julgar quem não tem as suas simpatias. Acusa primeiro as ações; se alguém as justificar, achará ela sempre alguma coisa a redizer, como aquela raposa que achava as uvas "verdes demais"!
3) Transtorna a alma: A invejosa tem em si como que uma serpente que a devora. É por isso que Job chama esse pecado "a podridão dos ossos"!
4) Transtorna o céu: Foi por inveja que Lúcifer, tendo tido a revelação do mistério da Encarnação, recusou submeter-se ao Homem-Deus e exclamou: Não obedecerei!
5) Transtorna a terra: Por invejar a felicidade de nossos primeiros pais foi que o demônio veio tentá-los! Por causa da sua inveja foi que "a morte entrou na terra"!

Preserve-vos Deus para todo o sempre deste vício, menina de coração bom e puro!

São João Crisóstomo cognomina-o de "a sarna da alma"... Sabeis que a representam sob os traços de uma mulher idosa, de olhos lívidos, de rosto pálido e emagrecido, arrimando-se a um bordão espinhoso, enquanto se vê uma serpente devorar-lhe o coração. Basta dizer-vos isto, para vo-la fazer detestar!
Aliás, bem sabeis como vós mesma a detestais nos outros!

(A formação da donzela - Pe. Baeteman, págs. 129 a 131)