Seja meu gozo no pranto;
Sobressalto, meu repouso;
Meu sossego, doloroso;
Minha ventura, quebranto.
Nas borrascas, meu amor;
Meu regalo, o ser ferida;
Na morte encontre eu a vida;
Nos desprezos, meu favor.
Meus tesouros, na pobreza;
Meu triunfo, em pelejar;
Meu descanso, em trabalhar;
Meu consolo, na tristeza.
Na escuridão, minha luz;
Meu trono, em posto mesquinho;
O atalho de meu caminho,
Minha glória seja a cruz.
Seja-me honra o abatimento;
Minha palma, o padecer;
Nas mínguas, o meu crescer;
Nas perdas, o meu aumento.
Na fome, a minha fartura;
A esperança, no temor;
Meus regalos, no pavor;
E meus gostos, na armargura;
No olvido, minha memória;
Meu trono na humilhação;
No opróbrio, minha opinião;
Na afronta, minha vitória;
Minha coroa, a humildade;
As penas, minha afeição;
Um cantinho, meu quinhão;
Meu apreço, a soledade;
Em Cristo, a minha confiança;
E d'Ele só meu sustento;
Seu langor seja-me alento;
Gozo, sua semelhança.
Nisto encontro fortaleza,
Encontro tranqüilidade;
Prova de minha verdade,
Penhor de minha firmeza.
(Santa Teresa de Jesus - À Profissão de Isabel dos Anjos)